Economia

Em busca de um futuro mais limpo

Investimentos em energia fotovoltaica crescem no Sul de Santa Catarina

Foto: Divulgação/Engeplus

Foto: Divulgação/Engeplus

A busca por novas fontes de energia aliadas à sustentabilidade e à eficiência energética tem sido algo incessante nos últimos anos. Gerar energia sustentável, não poluir, ter uma fonte abundante e ao menor custo é objeto de estudos nas universidades e aos poucos desponta no cenário econômico regional. O uso da energia solar, ou fotovoltaica, começa a "aparecer" no Sul catarinense com mais força e promete, em breve, se tornar algo comum. Hoje, já se veem placas de captação solar em escolas, novos condomínios residenciais passam a apostar na alternativa e a indústria pode ser o novo passo.

“Estima-se que apenas 1% da energia solar seria suficiente para suprir toda a energia utilizada em toda a terra, seja em transportes, combustíveis, energia elétrica e qualquer outra”, observa o professor Luciano da Silva. A energia fotovoltaica é uma das formas de se aproveitar a energia solar, explica ele, que é doutor em síntese orgânica, coordena um grupo de estudos da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) e desenvolve materiais para aplicações dessas células fotovoltaicas. 

Conforme o professor, aos poucos a sociedade se conscientiza de que o fóssil – que produz grande parte da energia que consumimos atualmente – está acabando, e que com isso novas fontes de energia precisam ser buscadas. “Os benefícios da energia fotovoltaica é que não temos reações químicas com resíduos. A tecnologia tem um custo mais alto do que o convencional, portanto, as primeiras aplicações são estratégicas, mas com o desenvolvimento isso passa a ser palpável”, avalia.

Alemanha e Espanha destacam-se quando se trata deste tipo de energia. Estes países desenvolveram tecnologias para utilizar células fotovoltaicas em placas de silício, que são instaladas em tetos de residências, por exemplo, e geram energia elétrica para essas casas. “Essas células também podem estar em outros locais, como em materiais orgânicos ou materiais flexíveis, como é o caso de algumas tintas. Na Unesc, por exemplo, desenvolvemos protótipos destas tintas em escala de laboratórios. Esta tinta pode ser aplicada, futuramente, por exemplo, em um carro que ficará estacionado no sol. Depois de certo tempo, ele estará recarregado e poderá andar pelas ruas normalmente”, comenta Silva.

A empresa German Solar Energy (GSE) foi fundada há mais de dez anos na Alemanha. Sua proprietária,Erica Fontanella, natural de Urussanga, decidiu trazer uma filial para o Sul catarinense e conseguiu realizar seu desejo em dezembro de 2012. Desde então, quatro projetos de energia fotovoltaica já foram implantados na Região Carbonífera: três em Urussanga e um em Criciúma. Outros quatro estão sendo implantados: dois em Criciúma e dois em Braço do Norte.

Segundo o site Engeplus, a gerente administrativa da GSE, Vanessa Mandrin, explica que os projetos da empresa têm como objetivo captar a luz do sol e transformá-la em energia elétrica através das placas de silício. Qualquer estrutura – empresa, casa, escola, etc –  pode receber um projeto de energia solar, garante Vanessa, basta estar disposto ao investimento. Em março deste ano o Centro de Educação Infantil Elias Biz, de Urussanga, recebeu painéis fotovoltaicos. Com a capacidade mensal de 200 quilowatts (kW), praticamente 50% do consumo total da escola seriam produzidos por meio de energia solar. Os painéis foram instalados nos telhados e o excedente de energia produzido vai para o sistema da empresa concessionária, gerando créditos que poderão ser utilizados pela unidade geradora por um prazo de 36 meses.

Para controlar a entrada e saída de energia foi instalado um medidor especial que registra tanto o consumo como a quantidade de kW que vai para o sistema da companhia distribuidora. A diretora da escola, Mírian Lavina Contessi, acredita que a instalação do sistema teve, além da função prática de produção de energia, a utilização como recurso pedagógico, uma vez que as crianças acompanharam todas as fases da instalação. “Procuramos fazer com que os alunos compreendam na prática como a luz solar pode virar energia, poupando os nossos recursos naturais”, observa.  No final do mês de abril, a Apae de Morro da Fumaça também recebeu 36 placas de silício para a geração de energia fotovoltaica. Todo o material e instalação foi uma doação da Cooperativa Fumacense de Eletricidade (Cermoful), que percebeu a necessidade de investir em outro tipo de geração de energia no município.

O atual gestor da cooperativa, Ricardo Bittencourt, salienta que a cooperativa realizou testes e percebeu que o município não possuía o tanto de água suficiente para uma geração econômica de energia elétrica para os cidadãos. “Como os rios não eram suficientes, precisávamos buscar alternativas e a energia solar é uma delas. Para buscar investimentos neste setor, no entanto, precisamos realizar testes e mostrar que as placas de silício funcionam. Por isso instalamos aqui na Apae e instalaremos em outras instituições de Morro da Fumaça. Com isso, buscaremos financiamentos estaduais e federais para investir no setor da energia solar em todo o município”. 

O engenheiro eletricista e de segurança da Cermoful, Adélcio Cavagnoli, calcula que com as 36 placas instaladas, a geração de energia chegará a 850 kW/mês. Ou seja, o consumo da Apae será praticamente zerado. “Eles pagarão apenas a taxa de energia dos postes da rua”, resume.

Como funciona o sistema de captação:

1 – O sol incide na placa, que conduz uma corrente elétrica de átomo para átomo, como uma bateria de carro; 

2 – Esta energia vai para um equipamento chamado de inversor de frequência; 

3 – Depois de feito o sincronismo, a energia gerada fica armazenada na rede de distribuição da companhia de energia, e você pode utilizá-la normalmente, sem pagar por isso. O pagamento acontece apenas se a energia utilizada for maior do que a gerada. 

Obs.: Em casos onde não existe uma rede de distribuição de energia, como em algumas áreas rurais, o sistema fotovoltaico pode aceitar uma bateria para armazenar a energia produzida durante o dia.

Márcio Sônego, climatologista da Epagri de Urussanga, afirma que o Litoral Sul de Santa Catarina apresenta um valor médio de duas mil horas de sol por ano. Este é um valor menor do que o do Oeste do Estado, que chega a ter até 2,4 mil horas de sol por ano. "Dentro da própria região Sul, estes valores variam de 1,8 mil no Costão da Serra Geral até 2,1 mil na orla marítima. Quanto mais próximo ao oceano, maior a incidência de radição solar. Isso favorece a instalação de painéis solares na região litorânea".

O climatologista compara, ainda, o Sul de Santa Catarina com outras regiões brasileiras, e constata que a região catarinense recebe mais horas de sol do que a região Amazônica, por exemplo, e menos horas de sol do que o Nordeste. "O maior valor ocorre no interior do sertão nordestino, com até três mil horas de sol. A conclusão, então, é que Santa Catarina está em uma faixa mediana de horas de sol dentro do território brasileiro, comparado ao que acontece no Litoral do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro", explica Sônego.

O diretor-secretário da Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), Olvacir José Bez Fontana, esteve na Alemanha em 2013 para visitar plantas de energias renováveis na região da Baviera e buscar mais informações sobre energias renováveis. "A Alemanha está renovando sua matriz energética. O país está se aperfeiçoando nos setores de energia eólica, de biomassa e principalmente solar. Eles aproveitam restos de madeira, rejeito animal e o sol e calor".

Em sua visita, ele pôde perceber que as prefeituras estão investindo, junto com a população, em cooperativas de energias solar. "Eles também estão construindo usinas solares e aproveitando qualquer espaço que tenham em telhados, ou em torno de rodovias, depósitos de lixo para construir casas com baixo consumo de energia e autossuficientes em energia. São planos de custo justo de geração de energia”. Fontana voltou  convencido de que a energia solar é o caminho para um futuro limpo e sustentável. “Sabemos que é mais caro para gerá-la, mas ela é limpa, renovável e está sempre à disposição. Esta é a vantagem da energia solar. Ou seja, vamos usar o sol, e ele estará sempre aí, permanentemente. Não é um produto finito, como o fóssil".