Educação

Estudantes registram a descoberta de um sítio arqueológico

Foto: Júlio Cruzz David

Foto: Júlio Cruzz David

Uma proposta surpreendeu os estudantes da Escola Municipal Francisco Zezuíno, da Ponta da Barra. Vocês não querem conhecer um local de milhares de anos, que foi habitado por índios? O passeio foi proposto pelo arqueólogo Osvaldo Paulino da Silva, que estava escavando a poucos metros da escola, numa área que foi povoada por um grupo tupiguarani.  Com pincel especial e linha para demarcação, o arqueólogo foi apresentando aos pequenos, peças produzidos pelos índios, que habitaram o município há milhares de anos. 

Segundo Paulino, é um trabalho de salvamento para a recuperação do material arqueológico, em decorrência das obras de pavimentação da Rodovia SC-100.

“As crianças ficaram encantadas. Fizeram muitas perguntas”, explicou o diretor Júlio Cruzz David. 

O sítio está localizado nas margens da rodovia, logo após a primeira curva, depois da balsa no caminho para o Farol de Santa Marta. Próximo das lagoas do Noca e de Santo Antônio, local muito apreciado pelos primeiros habitantes, devido a fartura de alimentos e água.

Foram encontrados no sítio guarani, neste primeira tentativa, pedaços de cerâmicas.

De acordo com o arqueólogo “haverá uma segunda etapa para a finalização da pesquisa, que ainda não foi concluída. Novas escavações serão realizadas”, explica ele, profissional da empresa Geoarqueologia, responsável pela escavação.

Para ele, o trabalho com as crianças faz parte da conscientização do patrimônio arqueológico local das comunidades de Passagem e Ponta da Barra.

Um pouco de história

Os Guarani, grupo do tronco linguístico tupiguarani, habitaram o litoral. Último grupo a ocupar a região. 

Antes da colonização europeia e da consequente perda de parte de seus territórios, os Guarani distribuíam-se desde do litoral até o interior do Estado. Em Laguna, foram encontrados vestígios na localidade de Mato Alto, e agora, Ponta e Passagem da Barra. 

O grupo estabelecia sua aldeia, geralmente, em regiões de floresta tropical, com proximidade de rios e lagoas. Construíam uma clareira na mata, usando as áreas próximas para caça, coleta e agricultura. 

Permaneciam no mesmo local, entre cinco a seis anos, até esgotarem os recursos naturais, sendo que depois do solo descansar e a fauna se recompor, retornavam aquela área. Normalmente a aldeia tinha de cinco a seis casas comunitárias, sem divisões internas, em cada qual viviam de vinte a trinta pessoas. 

Existia entre as aldeias uma comunicação através de caminhos largos, ligando-as do interior ao litoral, sendo que no período da chegada dos europeus. Os homens pescavam, caçavam e cortavam o mato da roça; as mulheres plantavam e colhiam milho, aipim, feijão, amendoim, cará, fumo, abóbora, batata-doce, algodão, etc. Coletavam frutos, raízes, fungos, folhas e moluscos fluviais. As mulheres produziam a cerâmica, os cestos e tecidos. Os homens eram responsáveis pela arte plumária, armas em madeira e rocha, móveis e canoas.

Os excedentes eram usados para troca realizada através da rede de parentesco estabelecida entre as diferentes aldeias. Os Guarani do Rio Grande do Sul levavam para seus parentes, em Laguna, peles, algodão em rama ou manufaturado, arcos e flechas, em troca de conchas marinhas. 

No centro da aldeia existia a casa de rezas, onde eram realizadas as atividades rituais. 

No interior das habitações e nas áreas periféricas da aldeia concentravam-se as atividades femininas relativas aos cuidados das crianças e ao preparo dos alimentos. Desenvolveram uma cerâmica decorada, confeccionando abundante quantidade de recipientes de argila queimada. Fabricavam cestas e peças variadas, com fibras e taquaras, inclusive redes de dormir e ainda fiavam algodão para confecção de peças de vestuário.

Com a segunda etapa dos trabalhos, os pesquisadores querem definir as características deste grupo, que deixou vestígios na região da Ponta da Barra.

Colaboração: Comunicação Laguna