Segurança

Falta de efetivo compromete investigações na DIC de Criciúma

Governo anunciou para o primeiro semestre de 2014 o concurso público com cerca de 400 vagas.

Delegado Vitor Bianco Júnior (Foto: Lucas Colombo/Clicatribuna)

Delegado Vitor Bianco Júnior (Foto: Lucas Colombo/Clicatribuna)

"A Polícia Civil de Criciúma está na UTI". É assim que os policiais caracterizam a atual situação da corporação. A falta de efetivo, que atinge não só a cidade, mas toda a região e o estado, é vivenciada na principal delegacia local: a Divisão de Investigação Criminal (DIC). É na DIC que são investigados os crimes mais complexos e sem autoria definida. Tráfico de drogas, extorsão mediante sequestro, roubos a bancos e cargas, homicídios, tentativas de homicídios e organizações criminosas são de competência desta delegacia.

A DIC conta com duas equipes, chefiadas por dois delegados. Em cada uma delas, há um escrivão e quatro investigadores. O delegado André Milanese atua nos crimes ocorridos na área Sul (região do Pinheirinho), e o delegado Vitor Bianco Júnior, na área Norte da cidade (região da Próspera). É nessas regiões que estão concentrados os maiores índices da criminalidade criciumense. "Para se fazer um trabalho no mínimo razoável, teria que ter o dobro do efetivo. Quatro delegados, quatro escrivães e 16 investigadores", afirma Bianco Júnior.

Diante das circunstâncias, os crimes mais graves são divididos para o pequeno número de investigadores. "O que acaba atrasando as investigações. Tem crimes que já conseguimos solucionar rapidamente, outros demoram, mas claro que, se tivesse mais gente, a resposta para a sociedade seria mais rápida", comenta Bianco Júnior.

Comandadas pelo tráfico

Enquanto a equipe do delegado Milanese trabalha no Paraíso, Tereza Cristina e Progresso, a do delegado Bianco Júnior atua no Renascer e Cristo Redentor. As comunidades, além de apresentar índices altos de criminalidade e serem comandadas pelo tráfico de drogas, os homicídios e tentativas também são uma realidade preocupante. "É o reflexo do domínio do tráfico", diz Bianco Júnior, que atualmente é a única autoridade policial da DIC, por conta das férias de Milanese.

A situação, conforme ele, é delicada e a tendência é piorar. Os motivos: a falta de investimento por parte do Poder Público em relação ao efetivo e a branda legislação. E são as leis que, segundo o delegado, mais soltam do que prendem criminosos. "Pouca gente denuncia. Tem um caso em específico que uma mulher denunciou uma traficante. Ela foi presa, mas solta no outro dia. Como a população vai ajudar desse jeito?", indaga.

“Eles matam por matar, por poder”

Outra questão relatada por ele é em relação ao domínio dos "pequenos criminosos". "Tem bairro na cidade comandado por oito, dez adolescentes que se mantêm pelo tráfico. E eles atiram, matam por nada, apenas para impor 'respeito'. Enquanto não tiver uma ação mais enérgica por parte do Ministério Público e do Poder Judiciário, a situação só vai piorar, e quem paga por isso é a população". 

Do ano passado, na área de abrangência do delegado Bianco Júnior e sua equipe, nove autorias de homicídios ficaram pendentes. "Cada vez mais está difícil comprovar a autoria de um crime para o Poder Judiciário. Temos traficantes soltos, pois realizam o chamado tráfico formiguinha. Dificilmente eles serão presos com grande quantidade. Esses dias realizei um flagrante de uma mulher por este tipo de crime. No outro dia, ela veio debochar na delegacia. Estamos numa época de retrocesso, de inversão de valores, e a polícia precisa de apoio, não só da população como de órgãos. Ela não resolve e nem vai resolver o problema sozinha. Ainda mais com o baixo efetivo", desabafa o delegado.

Luta por novos policiais

Recentemente, o Governo anunciou para o primeiro semestre de 2014 o concurso público com cerca de 400 vagas para a Polícia Civil em nível estadual. O delegado regional Jorge Koch afirma que a luta por mais efetivo vem sendo constante, não só para a DIC, mas para toda a região. Em contrapartida desde o ano passado, a classe vem lutando por melhores salários e condições de trabalho, já que a realidade da corporação (salário e acúmulos de funções) vem afugentando homens e mulheres que pensam em seguir carreira na polícia judiciária.