O Pensar Político – Conexão Capital

O Pensar Político: A era das pequenas eminências políticas

Foto: Reprodução Internet

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Da Grécia antiga ao mundo semita o exercício do poder sempre esteve vinculado ao exercício do serviço. Segundo a filosofia socrática (399 a.C), o homem livre era aquele que pertencia e assumia responsabilidades no governo da “pólis”, a cidade.  Ser cidadão no mundo grego significava participar efetivamente da vida da comunidade.

No mundo hebraico-palestino, Jesus de Nazaré, formava seus discípulos ao serviço. Dizia: “Eu vim para servir e não para ser servido” (Mc 10,45). Tal ensinamento nos faz refletir que a problemática do poder e do serviço não era estranha ao seio da comunidade apostólica: possibilidade que fascinava o ego e confundia a cabeça dos primeiros correligionários de Jesus (os discípulos). Eram de fato, homens fixados no poder e na ideia de um reino terreno. O gesto do Lava-pés, no qual o Mestre se pôs a lavar os pés de seus discípulos, nos faz perceber o tamanho da dificuldade de compreenderem a dimensão e a responsabilidade do serviço dentro daquela pequena comunidade que, mais tarde, ganharia um caráter universal.

Do mundo grego ao mundo helênico (influência do Império Romano) o exercício do poder sempre protagonizou grandes batalhas e, ainda hoje, sentimos fagulhas deste embate no interno da sociedade.

Nossos representantes políticos são democraticamente eleitos para representar-nos. Para administrar a cidade que é nossa. Para servir-nos! O exercício do poder democrático é uma colegialidade orgânica que congrega todos. Os eleitos devem ser os primeiros no serviço da “pólis”. A eles recai simbolicamente a função de “lavar os pés” da comunidade.

Infelizmente, entre muitos governantes e legisladores o cargo eletivo é entendido e usufruído como status de poder e dominação. Governadores e prefeitos pensam transformarem-se Reis; senadores e vereadores, Príncipes; neste mundo de – “Que rei sou eu?” – a cidade e o povo, por sua vez, são reduzidos à condição de feudo. A democracia das urnas é “estraçalhada” no desejo imperial destas pequenas eminências.

Mas, quem são estas pequenas eminências políticas a que nos referimos?

 As pequenas eminências são aqueles que gostam de ser servidos e reconhecidos em praça pública. Gostam de receber o cafezinho nas mãos, exigem postos e bancos reservados na primeira fila e quase sempre chegam atrasados. Gozam de privilégios e benefícios escandalosos pagos pelos cofres públicos com taxas e impostos provenientes do suor e do trabalho do cidadão. As pequenas eminências a que nos referimos são aqueles que nascem na democracia e desenvolvem um espírito imperialista.

O homem político não é uma eminência, um título, uma condecoração. O homem político é aquele que “suja as mãos” e “lava os pés”. Diga-se, mãos sujas e calejadas do trabalho e do suor humano: não do roubo, da “maracutaia” e da fraude. O homem político democrático entra na fila e não “fura a fila”, é o primeiro a chegar e o último a sair. Essa radicalidade no governo da cidade se exprime no pensamento de Platão (374 a.C) quando afirmava que a vida política é uma missão árdua, porém, uma das mais nobres vocações.

Quando nossos representantes se exaltam e afirmam que fizeram tudo ou quase tudo: estradas, pontes, escolas, reformas, convênios, hospitais, devem imediatamente responder a si mesmos: “sou apenas um servo, fiz o que deveria fazer” (Lc 17, 7-10).  Esse homem, se assim o fizer, dentro do sistema eleitoral vigente, merece, indiscutivelmente, o direito a reeleição: vive na radicalidade a vocação do homem político.

Conexão

Estive por alguns dias no sul da Itália, região da Sicília, capital Palermo. A propósito desta experiência, recomendo ao leitor, um filme italiano de grande repercussão: Alla luce del Sole – A luz do Sol – (2005)  com Luca Zingaretti e dirigido por Roberto Faenza.  O filme narra a denuncia social de um sacerdote italiano, Giuseppe Puglisi, morto pela máfia no ano de 1993, em Brancaccio, Sicília, Itália. Guiseppe Puglisi foi beatificado e tornou-se símbolo de fé, empenho social e justiça para o povo italiano. Vale a pena assistir.