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Pesquisa revela que 58,7% das crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos da Região Sul têm celular

Especialistas apontam que pais devem acompanhar o uso e evitar que se transforme em atividade única

Foto: Marcelo Oliveira/Agencia RBS

Foto: Marcelo Oliveira/Agencia RBS

Luiza Macagnan, 12 anos, ganhou o primeiro telefone no sexto aniversário. Teve diferentes modelos e, hoje, faz selfies com um sonhado iPhone. Nascidos no mundo virtual, ela e os colegas estão no grupo dos 58,7% de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos na Região Sul que têm celular. Conforme reportagem do jornal Zero Hora, o número, colhido em 2013 e divulgado em setembro na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), significa um acréscimo de quase 20 pontos percentuais em cinco anos — em 2008, 39,5% da gurizada dessa faixa possuía esse tipo de aparelho.

É a geração dos "nativos digitais", que joga, manda mensagens e, eventualmente, telefona. A psicóloga Carolina Lisboa, professora da PUCRS, diz ainda serem recentes os estudos sobre o impacto na cognição — função do cérebro responsável pela apreensão de conteúdos — das crianças. O certo é que podem influenciar o comportamento dos usuários mirins, principalmente porque boa parte dispõe de acesso à internet.

— Os pais precisam ficar atentos ao tipo de sites em que eles navegam, quais as conversas, se estão se passando fotos e de que tipo são essas fotos — salienta Carolina.

Os aparelhos podem afetar a atenção, e o uso exagerado também pode provocar o aumento da ansiedade. Muitos pais dão o telefone para os filhos como uma forma de monitorar onde estão e com quem andam, mas é preciso que eles também ajudem a criança a desenvolver maturidade para lidar com tamanha liberdade na palma da mão.

Sete horas de conversa no aplicativo Face Time é o recorde recém alcançado por Luiza. Ela papeia com as colegas até enquanto passeia com Puppy, o yorkshire da família. A mãe, a administradora Rita de Cássia Cardoso, 34 anos, estabeleceu apenas uma regra: para que Luiza se alimente corretamente e socialize com a família, não pode levar o celular para a mesa. Rita aprova o uso porque possibilita que esteja em contato com a filha durante todo o dia. A administradora liga para ver se Luiza chegou bem na escola e manda mensagem no Whats-App para perguntar a que horas deve buscá-la no curso de inglês.

Escolas devem lidar de forma criativa

Quando a mãe está no trabalho, a filha envia fotos de páginas dos cadernos, comprovando que fez o tema. A apreensão do equipamento é o castigo mais temido pela jovem. Certa vez, Rita confiscou o aparelho após uma resposta "torta" da menina.

— Foi o pior dia da minha vida — dramatiza a adolescente.

Professora de Psicologia da Educação na UFRGS, Tânia Marques não se arrisca a estabelecer limites de horas para utilização:

— Se é uma atividade a mais que contribui para melhorar a vida, facilitando comunicação e acesso à informação, maravilha. O alerta é quando se deixa de ter outras atividades para aquela ser a única.

Além dos pais, as escolas devem arranjar formas criativas de lidar com o celular, de acordo com Léa Fagundes, coordenadora de pesquisa no Laboratório de Estudos Cognitivos do Instituto de Psicologia da UFRGS. Ela cita o uso do Instagram em aulas práticas, para registrar vegetais e solos, por exemplo.

— As crianças devem ser orientadas, deve-se descobrir coisas que se pode fazer e são úteis — defende Léa.