Economia

Região já sente os reflexos com paralisação dos caminhoneiros

Foto: Jornal Notisul

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A situação da região com relação ao movimento dos caminhoneiros, que protestam contra o aumento dos combustíveis, mudou nesta sexta-feira. Em supermercados, o leite e seus derivados, carnes suínas e de aves em cortes resfriados já estão escassos. Os combustíveis também já faltam em alguns postos. Mesmo assim, o Procon estadual orienta os consumidores a não fazerem estoque de produtos.

De acordo com o levantamento feito nesta sexta pela Associação Catarinense de Supermercados (Acats), a região mais afetada continua o oeste, onde a falta de produtos se estende a outras categorias como a mercearia seca, farinhas, pães industrializados e derivados de trigo e milho em geral. “Por enquanto temos uma situação de relativa normalidade. Muitas empresas estão buscando rotas e fontes alternativas de fornecedores para minimizar o que está faltando e que não chega em função dos bloqueios” afirma o diretor executivo da associação, Antonio Carlos Poletini.

O presidente da Acats, Atanázio dos Santos Netto, manifesta preocupação com a continuidade deste quadro, que começa a afetar a cadeia produtiva como um todo. “Temos mercadorias que não chegam e os fornecedores explicam que deixaram de produzir por falta de insumos.  Caso o quadro não se altere, as quebras de gôndolas de supermercados, ao invés de serem pontuais e restritas, como é até agora, podem se ampliar. Isso mexe com todo o ciclo produtivo e de logística da economia, que tem interligação entre todos os setores. É um efeito dominó que se alastra para toda a engrenagem da indústria e do comércio, e compromete aos poucos o fornecimento de produtos aos consumidores”, alerta.

Orientação é não estocar produtos

O Sistema Estadual de Defesa do Consumidor, por meio do Procon/SC, orienta os Procons municipais e os consumidores a não estocarem produtos e alimentos para evitar o desabastecimento. “Considerando o momento que nosso estado passa com a mobilização de caminhoneiros, o que pode ocasionar a falta de algumas mercadorias, estamos orientando como todos devem proceder”, explica a diretora do Departamento de Defesa do Consumidor, Elizabete Fernandes. O órgão também orienta o comércio varejista e os fornecedores para que informem aos consumidores se há limitação na quantidade de algum produto por falta de reposição no estoque. “O varejo deve suprir o máximo de consumidores possível, de modo a atender às necessidades de cada um”, sublinha Fernandes. A diretora do Procon Estadual lembra que o artigo 39, Inciso I, do Código de Defesa do Consumidor garante que o interesse coletivo prevaleça sobre o individual, ou seja, o consumidor deve ter consciência de que outros também têm necessidades. “Por exemplo, se um único consumidor se dirige até o estabelecimento varejista, e em razão de sua exclusiva vontade adquire todo o estoque de leite, estará prejudicando os demais membros de sua comunidade. Por isso, é justo que a oferta seja limitada a certa quantidade por consumidor”, ressalta.

Carne

De acordo com o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias e Derivados de Carne do estado (Sindicarne), Ricardo de Gouvêa, a carne começa a faltar em mercados da região oeste. Para o final de semana, pode chegar a faltar carne no litoral catarinense. “Na exportação também. Os caminhões não chegam aos portos, os navios estão saindo sem mercadoria”, explicou Gouvêa. Os bloqueios também prejudicam o transporte de alimentação para os animais e eles podem morrer por falta de comida. “Cai a resistência orgânica”, disse, preocupado. 
O diretor-executivo teme o futuro próximo. “Não estamos vendo nenhuma solução entre grevistas e governo”, lamentou. Também há risco de que os animais precisem ser sacrificados. “Há grande possibilidade, para não partirem para o canibalismo. Já está começando em alguns lugares, principalmente de frangos”.

Leite

Conforme os representantes do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado de Santa Catarina (Sindileite-SC), as grandes empresas de laticínios se concentram principalmente no oeste, distante dos grandes centros consumidores, e com isso o produto não chega aos mercados há vários dias. “Os produtos se perdem nas estradas e vencem dentro das fábricas. Os espaços nas gôndolas dos produtos em grandes centros consumidores são ocupados por outras marcas, e isso aumenta ainda mais a preocupação de indústrias e produtores do estado”, informam.
“Alertamos que vai faltar leite nos mercados e com isso os preços devem subir, haja vista que a oferta reduziu a níveis nunca vistos”. O prejuízo diário na cadeia produtiva do setor já está entre R$ 11 e R$ 15 milhões.

Combustível

Alguns postos de combustíveis já estão sem o etanol e durante o fim de semana pode acabar a gasolina. O vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Santa Catarina (Sindipetro) na região de Tubarão, Maycon Schuelter, orienta aos consumidores a não programarem viagens e evitar ao máximo sair de carro. “A falta de combustível ocorre porque muitos caminhões estão trancados no Rio Grande do Sul e não sabemos onde serão realizados os bloqueios durante o fim de semana. Usamos rotas alternativas, mas aconselhamos as pessoas a economizar o combustível”, alerta.

Prejuízo no comércio

Após dez dias de protestos, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo faz um levantamento do impacto da paralisação na economia do estado. A Fecomércio SC estimou que o impacto negativo da paralisação dos caminhoneiros no estado pode chegar até a 0,6% do PIB nas regiões afetadas. Para todo o estado a perda, na pior das hipóteses, no caso de uma paralisação total, pode chegar a R$ 630 milhões de perdas diárias. Como os bloqueios nas estradas, apesar de muitos ainda serem pontuais, estima-se que o impacto por dia possa girar entre 40% e 50% desse valor. No comércio, a perda pode chegar a R$ 400 milhões por dia de paralisação na receita bruta em todo o estado. É um valor expressivo e que se agrava à medida que a paralisação prossegue, visto que os produtos começam a faltar nas prateleiras em razão do fornecimento comprometido. Nos primeiros dias, estima-se que a perda girou em torno de R$ 80 milhões diários.

Com informações do jornal Notisul