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Tragédia da enchente de 1974 , SC, não tem lista oficial de mortos até hoje

Número de 199 vítimas é inconsistente e menos de 50 foram oficialmente identificadas

Um levantamento com 199 mortos assinalou há 40 anos uma inundação com a dolorida marca de maior catástrofe natural da história de Santa Catarina. Da enchente que elevou o nível do rio Tubarão acima dos 10 metros e causou mortes em 13 municípios do Sul do Estado, em 24 de março de 1974, o cenário do caos sustentou uma estimativa de vítimas que até hoje não tem confirmação. 

Autoridades se apegaram à estatística existente, que beira duas centenas de mortes, e a oficializaram para não se referirem ao episódio como a enchente sem memória. Depois de quatro décadas e de feridas abertas por outros fenômenos climáticos em Santa Catarina, o Diário Catarinense revela a inexistência de uma listagem com a identificação de todos os mortos e levanta tentativas empreendidas para recuperar parte da história.

"Naquela época, Tubarão não tinha memória de enchentes e a inundação aconteceu de forma muito rápida. Hoje isso mudou. Estamos numa rota de fenômenos climáticos adversos em Santa Catarina e que vão continuar. Temos que aprender a nos preparar para enfrentá-los", diz o secretário Estadual da Defesa Civil, Milton Hobus, reforçando a função preventiva do registro.

O alvo da dúvida está forjado em metal na praça Orlando Francalacci, no Centro de Tubarão. A placa fixada em uma flor de granito homenageia 199 vítimas. Mas nos registros da imprensa a partir de 1974, nos dados do governo e até nas pesquisas históricas publicadas, números que divergem sempre dividem espaço com os termos "preliminar" e "oficioso". 

Conforme reportagem especial do Diário Catarinense, a única identificação de mortos divulgada à época, enviada pelo Fórum de Tubarão ao jornal O Estado, listava 48 vítimas. Em 2005, uma relação semelhante, de 46 nomes, foi publicada no livro Tubarão 1974 – Fatos e relatos da grande enchente, por César do Canto Machado, mas ressaltando que a informação era parcial. 

"Eu penso que a enchente vitimou muito além destas 199 pessoas. Pelo que observei na época, tinha muita gente desprevenida. E o nome dos mortos nunca foi divulgado, não há lista oficial", reforça o atual prefeito, João Olavio Falchetti.

Prefeito de Tubarão à época do desastre, o médico Irmoto Feuerschuette, traz à tona o cenário caótico e a priorização por salvar vidas, prover suprimentos e reconstruir. O que acabou deixando para trás a listagem dos mortos:   

"A Marinha ficou encarregada de recolher os mortos. Eles enterravam animais e, se encontrassem, os óbitos (pessoas). Na porta do cemitério, montamos um esquema de identificação dos corpos. Eles foram fotografados, mas essas fotos não existem mais", diz o ex-prefeito, atualmente comprometido com o resgate dos nomes.

A enchente de Tubarão deixou 60 mil desabrigados e 3 mil casas destruídas. Por três dias 90% da cidade ficou submersa.

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