Saúde

Afinal, obesidade causa ou é consequência de transtornos psicológicos?

Foto: Divulgação

“Atualmente, após muitas pesquisas e análises de casos clínicos, podemos dizer que a obesidade na verdade é causa e consequência de transtornos psicológicos”, afirmou o Dr. Arthur Kaufman, professor doutor do departamento de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e médico nutrólogo pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), durante aula promovida no XXI Congresso Brasileiro de Nutrologia, em São Paulo.

“Não podemos esquecer que um paciente obeso também é alguém dedicado e até mesmo sensível. Mas será que a gordura é apenas a culpada pelo excesso de peso ou a mente desempenha um grande papel nisso?”, indagou o médico, ao explicar que a gordura virou o símbolo visual de todos os aspectos físicos e psicológicos que a pessoa odeia em si mesma.

O Dr. Kaufman lembrou que é cada vez mais comum que o programa favorito das pessoas seja comer fora de casa. “O ideal, com certeza, é socializar. Mas uma família de três ou quatro pessoas precisa comer fora três vezes por semana? Esse hábito é um facilitador para cair em tentações ou elevar muito a ingestão calórica e favorece um ambiente obesogênico”, afirmou. Para rever esse ponto, de acordo com o médico nutrólogo, aquilo que se bebe e se come deve ser tão importante quanto com quem se come, onde é a refeição, além das sensações provocadas pela comida naquele momento.

O especialista propôs um exercício, e pediu para que os pacientes respondessem a seguinte questão: “Por que você come?”. As respostas observadas foram as mais diversas: ‘Porque tenho fome’; ‘Se como, sinto que alivio minhas dores’; ‘Necessito de comida para baixar a ansiedade e compensar um sentimento de tristeza’; ‘Para me promover um prêmio, um carinho’; ‘Preciso comer pois estou acompanhado’; e o mais impressionante: ‘Como para ficar feia, pois foi como descobri que posso agredir o mundo’.

De acordo com o médico nutrólogo, muitos obesos sentem um vazio abstrato no peito, como se faltasse algo, e buscam na alimentação esse reajuste, uma zona de conforto, que pode levar ao vício. “Os alimentos que ‘ajudam’ a atingir essa ‘zona de conforto mental’ são sempre os doces, o álcool, alimentos gordurosos, etc.”, afirmou.

Família e ambiente obesogênico

“Pense no almoço na casa da mãe ou da sogra todo o domingo. Muitos pacientes vieram ao meu consultório dizendo que comiam, pois se sentiam ameaçados pelas sogras ou mães com indagações do tipo: ‘Você vai comer só isso? Até parece que você não gostou da minha comida?’ e acabavam ingerindo mais do que aguentavam ‘por educação'”, disse. No mais, quanto maior o grupo, maior será a duração das refeições, desinibição, e mais comida e bebida serão postas à mesa.

O médico nutrólogo finalizou com uma brincadeira e apresentou um novo caso na análise de fatores causadores da obesidade: o marido engordativo. São aqueles maridos que, em um momento, elogiam suas esposas que perderam algum peso e propõem um jantar fora, ou trazem doces como recompensa para sua amada. E tem o marido engordativo que questiona para quem a esposa está emagrecendo, por que tanto tempo na academia, etc. “Temos que encontrar nos nossos parceiros e familiares apoio e não sabotagem”, concluiu o Dr. Kaufman.

Tipos de distúrbios psicológicos

Em sua aula durante o Congresso Brasileiro de Nutrologia, o professor doutor da FMUSP apresentou cinco aspectos da obesidade ligados a psicologia.

Emotional Eating: São aquelas pessoas que comem em resposta às emoções, tais como ansiedade, frustração e depressão.

External Eating: Pessoas que podem ultrapassar o limite independente de sua necessidade física de comer, em resposta a estímulos externos ligados a comida, como a visão, o cheiro, o sabor e as memórias afetivas com a comida.

Craving: Pessoas sob estresse têm uma fome irresistível e gravitam em volta de carboidratos gordurosos como snacks, junk food e doces, usados como drogas.

Being Eat Disorder (BED): Conhecido também como transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP), é caracterizado pela impulsividade. Por exemplo, quando há uma ingestão de grande quantidade de alimentos em um período de tempo delimitado (até duas horas), acompanhada da sensação de perda de controle sobre o que ou o quanto se come.

Food addiction: Quando existe real dependência física e psicológica por alimentos palatáveis, como ricos em açúcar, cafeína, carboidratos refinados etc. O estresse, por exemplo, aumenta a atratividade e o consumo desses alimentos.

Sobre a ABRAN

Fundada em 1973, a ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia – é uma entidade médica científica que dedica-se ao estudo de nutrientes dos alimentos, que são decisivos na prevenção, no diagnóstico e no tratamento da maior parte das doenças que afetam o ser humano. Reúne mais de 1.700 médicos nutrólogos titulados especialistas em nutrologia pelo Brasil e mais de quatro mil médicos associados, que atuam no desenvolvimento e na atualização científica em prol do bem estar nutricional, físico, social e mental da população. Visite www.abran.org.br, curta a ABRAN no Facebook facebook.com/nutrologos e no Instagram @nutrologia.

Colaboração: Rodrigo Bifani – Grupo CDI

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