Economia

Agronegócio de SC ganha rentabilidade na exportação com alta do dólar

Venda de suínos e aves catarinenses representa até 30% dos embarques brasileiros ao exterior

Foto: Sirli Freitas / Especial / Diário Catarinense

Foto: Sirli Freitas / Especial / Diário Catarinense

A alta do dólar está trazendo maior rentabilidade em reais para as indústriasexportadoras de Santa Catarina, principalmente na área do agronegócio. A Aurora Alimentos, que no ano passado teve 20% do faturamento nas exportações, totalizando R$ 1,3 bilhão, é uma das empresas beneficiadas com a valorização da moeda americana.

De acordo com o site Diário Catarinense, isso se dá principalmente porque no ano passado conquistou o mercado norte-americano. "Vai ser bom, sem dúvida". disse o vice-presidente da cooperativa, Neivor Canton.

No entanto, Canton prevê que o crescimento das exportações não será tão significativo quanto o aumento da moeda americana, que teve um valorização de cerca de 40% em um ano. "Os compradores vão barganhar uma redução nos valores em dólares", diz Canton. 

Mesmo assim a agroindústria já teve um crescimento de 12% a 15% sobre o faturamento por tonelada exportada no primeiro trimestre de 2015. Para o diretor-executivo da Associação Catarinense de Avicultura – Acav e do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados – Sindicarne, Ricardo Gouvêa, os ganhos com as vendas externas vão compensar aumentos de custo no mercado interno, como de energia e combustíveis.

O presidente da Companhia Integrada para o Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina – Cidasc e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina – Faesc, Enori Barbieri, diz que o agronegócio catarinense vive um bom momento, com incremento no faturamento das exportações e boa safra.

Mas ele teme um desequilíbrio a médio e longo prazo por conta da cotação da moeda americana e da economia. "No momento, o dólar alto é bom para quem exporta, mas a médio e longo prazo é ruim pois um desequilíbrio do dólar gera inflação, que corrói o ganho, além de aumentar o custo de importação", afirmou.

As lideranças do setor também alertam que a alta do dólar vai pressionar os custos e influenciar no aumento de preço ao consumidor. "Vai pressionar os preços da carne, pois é uma espiral", diz Gouvêa, da Acav e Sindicarne.

O certo é que o agronegócio catarinense deve novamente propiciar uma balança favorável, que foi de US$ 1,7 bilhão em 2013.

Sobe e desce do turismo segue a variação da moeda americana

A alta do dólar dos últimos meses afeta o turismo de duas formas diferentes. Para os catarinenses que pretendem viajar para o exterior, pode mudar a escolha do roteiro. Do ponto de vista da atração de turistas, é uma oportunidade econômica diante de um cenário conturbado.

"Pode haver uma grande demanda para o Brasil, e nós estamos dentro do cenário por Santa Catarina ser uma referência", disse o presidente da Santur, Valdir Walendowsky.

E esse efeito não é limitado apenas para turistas alemães ou americanos. A mudança no valor da moeda faz com que sair do país fique mais caro e os próprios brasileiros decidam mudar o roteiro da viagem, beneficiando os destinos nacionais mais conhecidos.

"Acredito que a alta do dólar vá se reverter em um bom número de turistas novos para nós", disse Ely Ribeiro, presidente do braço catarinense da Associação Brasileira de Agências de Viagem -Abav-SC.

Ainda não é possível falar em números, já que a mudança no câmbio é relativamente recente, mas a Santur afirma que está realizando um trabalho de divulgação do Estado em outras regiões do país para aproveitar a oportunidade que aparece em meio à crise. A Abav-SC também tem uma proposta semelhante.

Ao perceber que, em pacotes estudantis para escolas privadas, uma viagem para a Disney ficou quase R$ 5 mil mais cara por pessoa, a entidade está incentivando um projeto que aposta na vinda de turmas escolares para Santa Catarina. Oferece um alternativa nacional, o parque Beto Carreiro World, com custo total de cerca de R$ 2 mil por estudante para uma estadia de cinco a seis dias. 

O efeito, no entanto, não deve ser imediato. Ele ocorrerá mais no longo prazo, diz Rafael Silochi, agente de viagens da Apino Turismo, agência especializada em roteiros com estrangeiros em Santa Catarina. "Essa época não é de tanta procura", explica.

Europa ganha preferência dos viajantes com cotação do euro

O salto nos valores da moeda americana pegou turistas de surpresa. Até então, ir para os Estados Unidos era considerado um passeio mais acessível. A Europa era o sonho. O cenário atual inverteu essa balança. Na compra para turismo, um dólar chega a custar R$ 3,35.

"Algumas pessoas que atendi resolveram trocar", afirma Alexandre Carvalho, vendedor da agência de viagens Açoriana Turismo. Ele destaca que os mais fiéis, que viajam para fazer compras, continuam escolhendo os Estados Unidos como destino.

Enquanto o dólar aumentou quase 40% em um ano, o euro não chegou a variar 10%. Isso aproximou os preços de uma viagem aos EUA ao patamar dos roteiros para a Europa, tradicionalmente mais caros.

"Tive uma grata surpresa nessa terceira vez que eu fui agora. Não sei se Floripa está muito caro ou lá está começando a ficar mais acessível. Pagamos lá fora basicamente a mesma coisa que pagamos aqui em alimentação", disse o empresário Felipe Gondin.

Ele passou uma semana em Amsterdã, na Holanda, e em Paris, na França. E acrescenta que deve esperar um bom tempo antes de pensar em viajar para os Estados Unidos, onde já morou, por causa do câmbio e da preferência pelo velho continente para fazer turismo.

A incerteza em relação aos valores da moeda no futuro é uma preocupação também em relação à moeda europeia. No início de fevereiro, ela estava no mesmo patamar que o ano passado. Desde então, aumentou quase R$ 0,30.

"Já comprei parte dos euros para garantir a viagem", disse a bancária Ana Lúcia de Moraes, com viagem para a Itália marcada para junho, junto com o marido.