Clima

“Como assim, enchente?”: família veio a Blumenau para recomeço e não sabia das cheias

Mãe e filhos moradores da Rua 1º de Janeiro, a mais afetada pelas cheias, relatam não terem sido informados da cota de inundação quando alugaram a casa

Divulgação

A história de uma família em busca de uma vida melhor ganhou um capítulo triste com a enchente em Blumenau. Mãe e dois filhos viram o pouco que conquistaram ser destruído pela água barrenta que invadiu ruas da cidade desde as primeiras horas da tarde desta quarta-feira (4).

Vindos de Recife (PE) há pouco tempo, eles não foram informados de que o lugar onde vivem é um dos primeiros a inundar quando as cheias atingem o município. Sem ter para onde ir, os três buscaram ajuda no abrigo aberto na Itoupava Norte.

Janaína Perla, de 43 anos, e os filhos Vitor de Lima, 22, e Gabriel de Lima, 24, moram na Rua 1º de Janeiro, na região que é a primeira a ficar alagada quando o Rio Itajaí-Açu se aproxima dos 8 metros.

No entanto, eles não tinham essa importante informação. Quando alugaram o imóvel no começo do ano, o aviso não veio. Diferente da maioria dos vizinhos, que já sabem o que esperar quando o nível do rio começa a subir, a família seguiu a rotina normalmente na quarta-feira, alheia aos alertas feitos pela Defesa Civil.

— Ontem [quarta] eu estava trabalhando e minha chefe falou: “Janaína, você não mora na 1º de Janeiro? Vai dar enchente, vai para casa que vai inundar lá”. Eu disse: “Como assim enchente?” — lembra a mulher.

Ela então voltou para o imóvel e passou o dia com Gabriel. Vitor, quando soube da inundação, também avisado no serviço, correu para o lar. Sem saber como agir, eles tentaram erguer alguns pertences. A vizinhança questionou se não era melhor deixar o local, porque as previsões indicavam que a água subiria ainda mais:

— Mas eu falei: “Vou para onde? Não temos família na cidade, não conhecemos ninguém” — diz Vitor.

A mãe ligou para o telefone da Defesa Civil, o 199, que orientou que eles procurassem o abrigo, localizado próximo da moradia. Quando saíram, por volta das 20h, a água batia nos calcanhares.

Meia hora depois, ao voltar com um carro do órgão para buscar alguns itens básicos, como peças de roupas, ela já estava nos joelhos. As marcas nas paredes mostram que a inundação chegou a cobrir o braço do sofá. Todos os móveis e eletrodomésticos afetados foram conquistados nos últimos meses.

A família pede apoio com doações. Quem quiser doar móveis e eletrodomésticos aos três pode entrar em contato com Vitor no telefone ou WhatsApp: (81) 9 8405 9399.

Recomeços

Com poucas oportunidades em Recife, Vitor foi o primeiro a decidir morar em Blumenau. Conseguiu o emprego em uma transportadora no ano passado e alugou uma quitinete no Salto do Norte para começar uma nova fase.

No começo de 2022 a mãe veio, seguida do outro filho. Como o imóvel no Salto do Norte era muito pequeno, eles encontraram um novo, com dois quartos, na 1º de Janeiro. Agora, o que mais desejam é sair dali.

— Viemos para melhorar a vida e acabamos com tudo destruído. Não disseram que pegava enchente aqui, um negócio desse precisa ser dito. Não tem condições de continuar aqui [na Rua 1º de Janeiro] — lamenta Janaína.

Os três tentaram voltar para a casa nesta quinta-feira às 10h, mas com o nível do Itajaí-Açu àquela hora em 8,96 metros, a água ainda estava abaixo da altura dos joelhos.

Encontraram roupas boiando, móveis e bens totalmente molhados e um cheiro forte de mofo misturado com lama. Ainda sem saber exatamente o que conseguirão salvar, receberão algumas vestimentas da Defesa Civil e abrigo enquanto a situação não se normaliza.

Uma certeza mãe e filhos têm: depois que o nível do rio baixar, o que vem na sequência é uma boa faxina e um recomeço.

Mais um — provavelmente em outra casa.

Enchente em Blumenau

O abrigo onde a família está foi utilizado por outro morador da Rua 1º de Janeiro, totalizando quatro atendimentos durante a enchente. Esse foi o único abrigo aberto dos 60 existentes na cidade para casos de inundação e deslizamentos.

As inundações começaram na manhã de quarta e se intensificaram a partir da tarde, tendo o pico às 2h de quinta, quando o nível do rio chegou a 9,39 metros. Depois disso houve a estabilização e queda gradativa.

O Itajaí-Açu atingiu o maior nível em sete anos, superando os patamares das pequenas enchentes de 2017. Desde terça-feira (3), a equipe da Defesa Civil atendeu 97 ocorrências, sendo 55 deslizamentos de terra, 19 quedas de árvores, 18 análise de risco e 5 alagamentos. Além disso, 33 ruas tiveram pontos de inundação.

Com informações do NSCTotal

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