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“Estamos sendo tocados como cachorros perigosos”, diz padre sobre decreto de desapropriação emitido pela prefeitura de Orleans

Jorge Koch declara área de 34 hectares de utilidade pública. Josefinos não aceitam "que poder público se aproprie" de patrimônio

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“Uma cidade moderna e desenvolvida com edifícios públicos voltados à educação, cultura, esporte e lazer. Um parque ambiental que traga entretenimento e crescimento econômico para todos”. Com esse foco inspirado em cidades modernas e inovadoras, o prefeito de Orleans Jorge Koch, emitiu o decreto 4.572 que torna de utilidade pública, a fim de ser desapropriado pelo município por via amigável ou judicial, uma gleba de terras (cerca de 34 hectares), de propriedade de Instituto Leonardo Murialdo (ILEM). O decreto tem causado polêmica e dividido a população que se questiona: trazer a modernidade ou manter a tradição?

Na área de terra de 344.720,36 metros quadrados estão edificados um ginásio de esportes, um galpão, salas de aula onde funcionava o seminário São José, uma pequena Igreja e uma infraestrutura conexa de garagem. Ainda encontram-se no local pelo menos três nascentes da água e área de mata nativa com aproximadamente 17.063,98 metros quadrados. Próximo a área estão instalados o Centro Universitário Barriga Verde (Unibave) e o Museu ao Ar Livre Princesa Isabel.

O local já possui projeto para a construção de um loteamento com quase 350 unidades que seriam vendidas, o que segundo informações, renderia cerca de R$ 35 milhões para a instituição religiosa. “Entendemos que o local deve servir para atender o interesse público do orleanense. A partir deste decreto, damos início à tratativa de a administração fazer a compra do imóvel do instituto”, afirma nota emitida pelo prefeito.

Em manifestações para a imprensa local, o prefeito Jorge Koch explica que alguns projetos já existentes em cidades da região podem servir de inspiração. “O meu sonho é reservar aquela área para um futuro parque para nossa cidade. Talvez um local como o Parque das Nações, de Criciúma, ou o Parque Ado Cassetari Vieira, de Urussanga, onde a gente possa caminhar, praticar esportes, descansar, aproveitar com a família e amigos e realizar eventos. O futuro vai dizer o que será feito no local, isso ficará para as próximas administrações. A intenção, de momento, é resguardar para evitar que o seminário possa criar um loteamento, construir ou vender ali, pois isso seria muito triste. Se deixarmos que isso aconteça, se deixarmos que ali saia um loteamento ou grandes empreendimentos, prejudicaremos projetos como este do parque e também a expansão de nossa universidade”, defendeu.

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Seminário se manifesta contra o decreto e intima prefeito

“Lembram quando Caim matou Abel?, Caim ficou com uma marca na testa para sempre e vocês também vão ficar com o número 4.572 tatuados na testa. Eis os homens que mataram os irmãos josefinos murialdo em Orleans. Não estão se apropriando do patrimônio do seminário, mas expulsando os grandes benfeitores desta terra. Estamos sendo tocados embora como cachorros perigosos por causa de um complô articulado na calada da noite pelo prefeito e seu vice. Estão desmantelando uma história construída com o suor embebido nesta terra”, declarou o padre Cornélio Dall’Alba, em discurso inflamado, ao usar a tribuna da Câmara de Vereadores na sessão de segunda-feira (6). O líder religioso convocou a população, por meio das redes sociais, para comparecer ao manifesto contra o decreto na casa legislativa. A causa lotou o espaço, sendo considerada uma das maiores manifestações populares no legislativo de Orleans.

O padre explica que a intenção do seminário é desenvolver a vocação da juventude e fomentar a educação. “Atualmente o seminário está desativado, mas não abandonamos o espaço. Antes estava funcionando a faculdade Satc. Depois o Centro Educacional Meta assumiu o prédio, ou seja, mesmo sem seminaristas, a educação continuou sendo o foco”, explica.

O padre questiona a intenção da prefeitura em ocupar as terras regulamentadas e escrituradas de posse do Instituto Leonardo Murialdo (ILEM), mantenedora do Seminário São José, dos Padres e Irmãos Josefinos de Murialdo – Congregação de São José. “A Prefeitura de Orleans comprou um terreno há uns 10 anos. Nós vendemos, para que ela construísse ali um centro de eventos, mas ele nunca apareceu. São 10 anos, tendo um terreno pronto e agora ela se revoga o direito de ocupar 30 ou 40 hectares. Essa é a pergunta que fazemos a Prefeitura de Orleans”, afirmou.

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Empresários atentos às manifestações

O decreto 4.572 emitido pelo executivo de Orleans chama a atenção de lideranças e empresários do município que acompanham o caso. “Representamos uma associação empresarial e precisamos ouvir todos os associados para nos posicionarmos enquanto ACIO. Para tanto, vamos fazer uma reunião ampliada com todos os membros. Mas acreditamos que a questão depende das partes chegarem a um consenso, para que a cidade, a história, a congregação e a população possam colher bons frutos. A ACIO é uma instituição que sempre será favorável ao desenvolvimento econômico, cultural e histórico do município. Desejamos uma cidade planejada para 20 anos à frente”, afirma Thayni da Silva Librelato, presidente da Acio.

O Seminário São José

Parte dos terrenos foi doada por moradores e o restante foi adquirido pelo Instituto Leonardo Murialdo na década de 1950. As atividades foram iniciadas em 1959, com 12 seminaristas. Desde então, os Josefinos de Murialdo cumprem a missão voltada à educação, cultura, assistência social e evangelização. Semanalmente, os religiosos se fazem presentes, com uma celebração de responsabilidade do Pe. Cornélio Dall’Alba, que é aberta ao público, além de forte atuação na animação vocacional.

Nos últimos 60 anos, a organização josefina consolidou-se como contribuinte na educação avançada dos “Meninos de Murialdo”. Os seminaristas prosseguiam seus estudos de Ensino Médio em Araranguá. Em 2009, não havia mais alunos. Personalidades de Orleans passaram pelo seminário, porém, nos últimos dez anos, o seminário deixou de exercer a formação de jovens vocacionados ao sacerdócio.
Os religiosos continuam os trabalhos no instituto com sede em Araranguá e em Caxias do Sul e atualmente, o padre Cornélio preserva a prestação de alguns serviços no espaço em Orleans. “O Sr. Prefeito de Orleans, cegado pela pressão dos Conselheiros da Fundação Barriga Verde, procura, agora, tomar o patrimônio criado e desenvolvido pelos Josefinos de Murialdo. Com sua caneta e autoridade, violentamente apossa-se do patrimônio erguido por famílias de colonos e meninos sonhadores. Apodera-se, inclusive, das edificações, o que denota o abuso de poder e alumia o verdadeiro intento administrativo, que é a transferência do patrimônio josefino para outra fundação com maior peso político. No entanto, a sociedade orleanense não aceitará facilmente essa agressão”, afirma nota emitida pelo Instituto Leonardo Murialdo (ILEM).

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Novas manifestações

“Contra esse nauseante decreto, lutaremos com agressividade e vivacidade nunca antes vistas nestas colinas. Lutaremos nas ruas, lutaremos nas mídias sociais e lutaremos nas urnas. O povo orleanense não se rendará a essa violência arbitrária e sem precedentes”. O discurso dos josefinos instiga a população a se manifestar contra o manifesto. “Estamos esperando uma declaração do prefeito. Faremos novas manifestações pacíficas. Convoco a população a erguer os dedos e fazer o símbolo ‘V’, não de vitória, mas o V de verdade. Esse será o nosso lema. Estamos no caminho certo e vamos ganhar através da verdade”, enfatiza Dall’Alba.

Retomada da atuação educacional

A Congregação de São José é referência na formação de futuras vocações religiosas e sacerdotais, além da formação educacional. A intenção é que o patrimônio do instituto seja destinado para ampliação da Rede Murialdo de Educação, com a instalação de uma unidade de educação em Orleans. A Rede de Colégios Murialdo atualmente atende a Educação Básica (Turno Integral, Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio). A ampliação abrangerá, também, os serviços socioassistenciais prioritariamente com o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos e o Programa de Aprendizagem e Qualificação Profissional para Adolescentes, que já estão em funcionamento nas demais unidades do ILEM.

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