Comitê de ética da unidade aprovou pesquisa com pacientes, que poderá ser realizada em todo o Brasil
O Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, de Joinville, tornou-se o centro de uma pesquisa nacional que pode ajudar no combate à Covid-19. Após aprovação do comitê de ética da unidade joinvilense, um aplicativo que faz o diagnóstico da doença por meio da tosse do paciente poderá agora realizar a pesquisa clínica em hospitais de todo o Brasil.
Os pesquisadores da organização internacional sem fins lucrativos Virufy validaram o algoritmo da inteligência artificial com milhares de tosses da América Latina, Europa e Ásia para distinguir os sons que a Covid-19 provoca na tosse dos pacientes.
Apenas com essa informação, segundo a Virufy, é possível apontar entre positivo e negativo para a doença com 80% de precisão. O aplicativo faz o registro da tosse e consegue detectar a Covid-19 em questão de minutos.
O projeto está dividido em duas partes no Brasil. Uma delas é a coleta de tosses de pessoas que apresentem sintomas semelhantes aos da Covid-19. Elas podem contribuir por meio do aplicativo Virufy.
Já a segunda parte da pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética do Hospital Regional de Joinville. Segundo o especialista em fisiologia e coordenador responsável pelos testes clínicos, Diego Carvalho, a tecnologia agora será aplicada em pacientes reais que apresentam resultado positivo ou negativo para Covid.
– A participação do Hospital Regional abre portas importantes e o estabelece como centro da pesquisa no Brasil. Ou seja, todas as outras instituições serão co-participantes de uma pesquisa iniciada nesse hospital – explica Carvalho.
Algoritmo treinado para padrões brasileiros
A expectativa é conseguir 2 mil pacientes para compor a pesquisa em diferentes hospitais. Segundo a organização, há tratativas com unidades de saúde de vários locais do Brasil – algumas em estágio avançado – e a expectativa é iniciar os estudos clínicos em breve.
O objetivo é chegar em diagnósticos com precisão acima de 85%, parecido com os testes de antígenos encontrados em farmácias para detectar Covid.
Segundo o coordenador responsável pelos testes clínicos, as gravações servirão para treinar o algoritmo para padrões brasileiros. Isso porque o vírus traz alterações no pulmão, garganta e vias respiratórias superiores, que alteram a tosse e a fala. São alterações sutis que apenas mecanismos de inteligência artificial conseguem detectar.
– É uma ferramenta importante de detecção precoce, mais barata para aplicar em larga escala e a intenção da Virufy é fornecer de graça para a população – garante Carvalho.
A diferença entre as tosses
O otorrinolaringologista Anderson Merkle, integrante da equipe do Virufy, explica que há diferenças entre as tosses e existem padrões que possibilitam identificá-las. É o mesmo que acontece com o tom de voz, por exemplo.
– Conversando com uma pessoa que não conhecemos, pelo padrão de voz conseguimos entender se ela está brava, feliz ou nervosa. A mesma coisa acontece, a nível de algoritmos, na identificação do padrão de tosse – exemplifica.
Segundo ele, a tosse da Covid-19 é mais seca do que a identificada em outras condições clínicas, por exemplo. Porém, o aplicativo ainda tenta capturar uma frequência de tosse que seja específica da Covid.
– Quanto mais tosses tivermos, melhor. Os dados estão sendo captados no mundo inteiro e são filtrados para tornar a máquina inteligente – acrescenta.
Apesar de ajudar a diagnosticar os pacientes com Covid-19, o Virufy esclarece que não substitui os testes de diagnóstico de nível hospitalar. O aplicativo deve ser usado em conjunto com os sintomas e verificações de temperatura para a detecção precoce.
Com informações do NSCTotal