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Imigrantes relatam experiência de sobreviver a acidente com Kombi na Serra do Rio do Rastro

Foto: Daniel Búrigo / Clicatribuna

Foto: Daniel Búrigo / Clicatribuna

Um acidente inesperado exigiu esforços, resistência e fé por parte dos sobreviventes envolvidos. Uma nova chance de viver foi dada para quatro imigrantes e dois brasileiros que estavam na Kombi que despencou de um penhasco da Serra do Rio do Rastro, no último dia 15. Uma semana após o ocorrido, a reportagem do jornal A Tribuna esteve em contato com os três dos estrangeiros que estiveram entre a vida e a morte à beira de um penhasco.

Um deles, ainda permanece no hospital após realizar uma cirurgia na perna. Após o acidente ocorrer por um problema técnico no freio e o automóvel cair na curva da pista, a Kombi despencou por 140 metros, ficando presa entre árvores e rochas. Pela gravidade, a maioria das pessoas chegou a desconsiderar a possibilidade de qualquer sobrevivência.

Após saírem do problema com poucas fraturas e arranhões, os imigrantes agradecem pela nova chance. “Para mim, só Deus é capaz de tirar a vida”, definiu H, depois de conseguir entender o que aconteceu com ele e seus colegas. Devido a forte batida contra as pedras, o trabalhador ficou lento em suas respostas e perdeu a memória sobre o que lhe aconteceu no dia do acidente. “Não consigo me lembrar de nada, só sei que na hora foi tudo muito rápido”.

Mas, o mais prejudicado no momento da queda foi J.M., que, devido ao susto, não consegue recordar dos detalhes das horas de aflição. Com auxílio dos outros amigos, ele foi removido do automóvel sem perceber ao certo o que acontecia, porque estava tapando o rosto ensanguentado pelos cortes. “Quando eu fui retirado da Kombi, eu já não lembrava de nada porque fiquei muito assustado”, diz, bastante comovido.

Mas o perigo que os cercou ficou evidente nas carcaças de outros automóveis que foram encontrados ao longo do penhasco e também na marca deixada pela Kombi na vegetação, registrada em uma fotografia. As vítimas dos acidentes retornavam de um trabalho que haviam ido fazer na serra, para uma empresa que presta atendimento em saneamento básico. Após a fatalidade as vítimas, receberam todo auxílio necessáriopor parte dos seus patrões. “Talvez eles não soubessem dos verdadeiros riscos, porque eles são todos haitianos, não conheciam o local”, acredita o proprietário da empresa, N.C..

Ajuda no resgate

Apesar da alta queda e das pancadas, E.L. e H.G. foram fundamentais no processo de resgate de seus companheiros. Com o tanque cheio de combustível, a Kombi começou a pegar fogo lentamente. Mas, em melhores condições, E.L. e H.G. removeram os outros colegas de serviço e os encaminharam para um local a salvo, longe das chamas. Depois, começaram a procurar uma forma de chegar novamente até a pista de onde o carro havia despencado, para procurar ajuda.

“O fogo começou de pouco em pouco, mas todos estavam muito apavorados. A única coisa que pensei era em deixar todos a salvo”, afirma E.L., que acompanhou todo o serviço até as 7h, momento em que o último dos colegas foi removido. A subida íngreme e repleta de rochas e vegetações tornaram a tarefa ainda mais complicada para os recém acidentados.

“Tive que dar uma volta inteira em uma rocha que tinha mais de 20 metros e encontrei muita dificuldade. Mas, no fim, conseguimos subir”, conta. Os dois imigrantes levaram cerca de uma hora para subir até a rodovia, onde encontraram a equipe de resgate já a postos. O acidente aconteceu no fim do dia, mas as vítimas só foram localizadas às 23h30min. Em um resgate delicado, onde foi necessário auxilio de rapel, envolveram-se o Corpo de Bombeiros, a Polícia Civil, Rodoviária e também o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – Samu, que envolveu mais de 100 socorristas de diversos municípios da região. As vítimas foram encaminhadas ao Hospital São José.

Vindos todos de uma mesma região do Haiti, os envolvidos no acidente já se conheciam antes de chegarem ao Brasil, o que já os tornavam íntimos e amigos. “Estou muito grato aos bombeiros e todos que nos ajudaram a termos nossas vidas hoje”, completa E.L..

A crença em um milagre

Para os envolvidos e todos que acompanharam o caso, ficou evidente que a força de uma intervenção pela vida dos trabalhadores. O gerente de obras, L.C., destacou que naquela sexta-feira, H.G. já estava estranho durante todo o dia. “Ele já havia dito que não estava bem e ficou mal antes mesmo do acidente ocorrer. Eles tem uma ligação muito forte com a fé, são pessoas muito religiosas”, destaca o gerente.

Ainda muito comovidos e abalados, os sobreviventes falaram pouco sobre a nova chance recebida. Mas, o chefe da empresa diz ter encontrado uma bolsa dos envolvidos que define o a fé das vítimas. “Depois, encontramos dentro da Kombi uma bolsa, onde dentro havia duas bíblias sagradas completamente intactas. O que aconteceu com eles foi realmente um milagre”, diz o proprietário da empresa. 

Com informações do site Clicatribuna