Tratamento aprovado pela Anvisa deve ser usado em conjunto com dieta de baixa caloria e exercícios físicos

Medicamento para combater obesidade foi aprovado pela Anvisa – Foto: Divulgação
O novo tratamento aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que promete ajudar pessoas com sobrepeso ou obesas a perder até 17% do peso é considerado um “avanço importante”, segundo endocrinologistas ouvidas pelo ND+.
O Wegovy, que usa como princípio ativo a semaglutida, é uma injeção usada em conjunto com uma dieta baixa reduzida em calorias e a prática de exercício físico intenso para melhorar o controle — a perda e manutenção — de peso.
O tratamento é indicado para pessoas com os seguintes IMCs (índice de massa corporal) iniciais:
≥ 30 kg/m² (obesidade);
≥ 27 kg/m² a < 30 kg/m² (sobrepeso) com pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso — por exemplo, disglicemia (pré-diabetes ou diabetes melito tipo 2), hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular.
Para a endocrinologista Ana Clara d’Acampora, das medicações aprovadas no pais até o momento, essa é a mais “potente”.
“Devemos lembrar que o medicamento é uma ferramenta no tratamento, mas deve sempre vir associado a mudança de hábitos, com melhora da alimentação e atividade física. Uma limitação ainda é o preço, que infelizmente não é acessível para boa parte da população com obesidade”, destaca a especialista.
A injeção será comercializada apenas sob prescrição médica, mas ainda não há um preço definido pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos).
Além disso, não há uma previsão exata para a injeção chegar ao mercado, por questões logísticas do fabricante e dos revendedores.
“O princípio ativo (semaglutida) já é utilizado no país, mas em doses menores e com a recomendação em bula para tratamento do Diabetes Mellitus. A novidade é que o Wegovy apresenta uma dose maior da medicação semaglutida e é recomendado exclusivamente como tratamento medicamentoso para obesidade, com efeitos maiores na perda ponderal em comparação a doses menores”, explica a endocrinologista e professora do curso de medicina da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Maria Isabel Cordioli.
A aprovação feita pela Anvisa foi baseada nos resultados do programa de ensaios clínicos “Efeito do tratamento com semaglutida em pessoas com obesidade” (Step, na sigla em inglês).
No estudo, os pacientes que usaram o Wegovy (semaglutida 2,4 mg) atingiram uma perda de peso corporal média de 17%, em 68 semanas, contra 2,4% do grupo controle, que recebeu doses de placebo.
Efeitos colaterais
Apesar dos bons resultados, as especialistas alertam que é preciso mudar o estilo de vida e ter o acompanhamento médico para utilizar a medicação.
“O uso correto da medicação, quando bem indicado e acompanhado pelo médico, costuma ter menos efeitos colaterais, que podem ser amenizados com algumas estratégias individualizadas pra cada paciente”, explica d’Acampora, que lista os efeitos colaterais principais os enjoos e a alteração do hábito do intestino.
Os sintomas podem ser de leve à moderada intensidade e tendem a ser transitórios, diz Maria Isabel Cordioli. “Uma complicação possível, porém incomum, é a pancreatite, inflamação no pâncreas. Além disso, pacientes com diabetes e em uso de outras medicações para diabetes, apresentam um maior risco de hipoglicemia”, destaca.
Outro fator é o histórico de doenças da família. A professora relata que a associação a um tipo raro de câncer de tireoide (carcinoma medular da tireoide) é pouco provável, mas pacientes com história prévia ou familiar desse tipo de câncer não devem utilizar a medicação.
Mas o que tem acontecido coma maior frequência é o uso indevido da medicação por conta própria para quem nem teria indicação de uso. Ana Clara d’Acampora argumenta que uma explicação pode ser cultural, pela “busca do corpo perfeito”, que impõe à sociedade a obsessão pela magreza a qualquer custo.
“Além disso, o uso de estratégias apenas pontuais, com objetivo de perdas rápidas de peso, sem mudança de estilo de vida, a longo prazo, alteram o metabolismo do paciente de maneira que, com o passar dos anos e o famoso efeito-sanfona fazem com que o paciente ganhe a longo prazo. Ou seja: é um tiro no pé.”
Via R7