Geral

Mais preço e menos qualidade: El Niño é obstáculo para produtores em lavouras catarinenses

Chuvas intensas e calor extremo provocaram impactos nas plantações, o que reflete no bolso do consumidor

Foto: Divulgação

Quem foi a feira recentemente percebeu que o preço das frutas e verduras aumentou. Mas não só isso. A qualidade dos produtos foi impactada pela chuva do final de 2023 e também pelo intenso calor desse início de ano, reflexo do fenômeno El Niño.

No Ceasa/SC, em São José, a reclamação dos produtores é a mesma. As mudanças no clima fizeram com que muitos produtos perdessem qualidade na produção e que os agricultores enfrentassem dificuldades em preencher as caixas para o comércio. A menor oferta faz com que o preço aumente já na primeira venda, antes de chegar aos mercados e mercearias.

Quer receber as principais notícias da região? Clique aqui e entre no nosso grupo de WhatsApp e fique atualizado de forma rápida e confiável 

— Alface, a couve, não está desenvolvendo, por causa do calor. Na verdade, já vem desde a metade de janeiro para cá. Com calor, a gente tem que molhar muito a planta para não queimar, e molhando ela, acaba perdendo a raiz, porque esquenta muito o solo — explica Jocélio, produtor de Biguaçu.

O responsável pelas mudanças climáticas que provocam impactos diretos nas plantações de Santa Catarina é um antigo conhecido dos catarinenses: o El Niño. Haroldo Tavares, analista da Epagri, explica que as safras de verão foram as que mais sofreram com o fenômeno, que trouxe chuvas contínuas para o Estado desde outubro.

— O cenário do El Niño ocasionou algumas intercorrências nas lavouras, principalmente na safra de verão. Principalmente o excesso de chuvas em outubro e novembro — detalha.

Hortaliças são mais sensíveis ao calor

Depois da temporada de chuvas nos últimos meses de 2023, o ano começou com calor intenso, trazendo novas consequências para as lavouras catarinenses. Os tipos de plantação mais sensíveis ao calor são as hortaliças, que sofrem impacto a curto prazo.

A região da Grande Florianópolis é uma das principais produtoras de hortaliças e tem sentido os efeitos desse verão mais quente, já que cultivos como o da alface, por exemplo, não são protegidos pelas altas temperaturas registradas, o que atrapalha na produção. O grande volume de chuva também influenciou o cultivo de tomate na região.

— Em Antônio Carlos, que é a região que fornece esse tipo de produto para nós, o excesso de calor está prejudicando na raiz, na floração. Está bem complicado — declara Emerson Martins, diretor técnico do Ceasa/SC.

O reflexo direto dessas mudanças do clima é visto facilmente em uma visita a unidade do Ceasa, que abastece mercados e mercearias de todo o Estado com frutas, verduras e legumes de produtores catarinenses. Na maioria das bancas, a situação é a mesma: há menos produto para venda do que o normal.

Além disso, o que está a venda não possui a mesma qualidade e tamanho, e os preços vão lá em cima. Isto porque, com a produção afetada pelo calor, os produtores não conseguem suprir a demanda, tendo mais procura do que oferta de produtos e fazendo os preços subirem.

— Se fosse época de qualidade, que tivesse couve que chega na roça, couve assim, folha assim a gente jogaria tudo fora. Não tinha comércio para isso, mas na verdade agora a gente é obrigado a levar o que tem, o que dá pra aproveitar do pé — afirma o produtor Jocélio.

— Não tem, não tem o que trazer. Reduziu o pé, aí vem menos — declara Catarina, também feirante no Ceasa/SC.

Produção de grãos teve quebra de safra e atraso por conta do El Niño

Haroldo Tavares, analista da Epagri, explica que a chuva intensa afetou a floração do milho em locais onde ele é plantado mais cedo, como o Extremo Oeste e o Vale do Rio Uruguai. A falta de luminosidade, somada a erosão e falta de nutrientes, provocou uma quebra de safra de 30 a 50% nessas regiões, que foram as mais afetadas nesse tipo de cultivo. No Estado, houve uma retração da safra também, que previa inicialmente 2,7 milhões de toneladas, e atualmente está com uma safra de 2,3 toneladas.

Já na safra da soja, o que o El Niño provocou foi um atraso na colheita, segundo o analista. No mês de outubro, em que o plantio é previsto, o Estado registrou fortes chuvas, não sendo possível nem preparar o solo. Dessa forma, o plantio iniciou em novembro e a colheita ainda não ocorreu em algumas regiões mais afetadas, como o Planalto Norte e Planalto Central. O Oeste, que planta soja mais cedo, em meados de setembro, conseguiu driblar os impactos da chuva.

— Então essas mudanças climáticas sempre trazem algum impacto na produção, sendo maior a intensidade em algumas culturas do que outras. E também o momento em que ocorre, ou o excesso de chuvas ou uma estiagem, como aconteceu lá nos anos anteriores, em 2021, 2022 — afirma.

No Norte do Estado, o arroz foi atingido pelo excesso de chuvas. Com a colheita acontecendo agora, os produtores também observaram uma quebra na safra. Porém, ainda que haja impacto, Haroldo afirma que a safra de grãos ainda deve ser satisfatória.

Quer receber as principais notícias da região? Clique aqui e entre no nosso grupo de WhatsApp e fique atualizado de forma rápida e confiável 

— Quanto aos grãos, lógico, vai diminuir um pouco a produção de milho, soja no Estado, mas no geral ainda tem uma oferta bem grande de grãos. Tanto é que os preços do milho e da soja estão nos menores patamares dos últimos três anos — declara.

Com informações do NSC Total

Notícias Relacionadas

Caminhão carregado cai no rio após ponte desabar em SC

As equipes já estão empenhadas na reconstrução da ponte

Sem Arthur Caike, Criciúma terá a volta de dois titulares contra o Juventude

PRF usará drones para fiscalizar BR-101 e Via Expressa em SC

Além dos drones, a PRF planeja utilizar câmeras fixas para o videomonitoramento

Carros, relógios de luxo e dinheiro são apreendidos em investigação sobre esquema de compra de veículos em SC

A operação, denominada "Hot Wheels", foi realizada nesta quinta-feira (25) e contou com a participação de 30 policiais