Segurança

“Meu filho achou que ia morrer, por isso que não parou”, diz pai de jovem morto pela polícia

Douglas Milanez Rocha, 22 anos, morreu após uma abordagem da Polícia Civil

Foto: Lucas Colombo/Clicatribuna

Foto: Lucas Colombo/Clicatribuna

O casal Geraldo e Izalete, moradores do Bairro Santana em Forquilhinha, ainda não se acostumaram com o silêncio da casa, que costumeiramente era quebrado pelo som do violão vindo do quarto do filho mais velho.

A música, a leitura e o desenho eram os afazeres preferidos do jovem Douglas Milanez Rocha, 22 anos, que teve a vida interrompida após uma abordagem da Polícia Civil, no Bairro Saturno, na noite de sexta-feira. O caso revoltou todo o município e abalou uma família, moradora a 25 anos da localidade, e querida por todos os vizinhos.

“Todo mundo gostava do meu filho. Ele nunca negou um bom dia a ninguém, Nessa rua têm bastante idosos, e todos tinham um carinho muito especial por ele, por ser um menino muito educado”, conta Izalete.

Na manhã desta segunda-feira, amigos e familiares farão uma manifestação pedindo justiça na Prefeitura do município. O ato está marcado para as 9h. Na página da rede social de Douglas, foram deixadas muitas mensagens de despedida e clamando por justiça.

A vítima, que tinha um irmão de oito anos, trabalhava de eletricista, seguia a religião dos pais, Testemunhas de Jeová, e consequentemente, não tinha vícios. “Um exemplo a todos os jovens de sua idade”, completou o pai.

Desenho feito dois dias antes de morrer

Os pais do garoto mostraram à reportagem do Portal Clicatribuna um desenho feito pelo filho, onde, em uma folha de papel, se autorretratou a lápis. “Dois dias antes de morrer ele fez esse desenho. Ainda disse que não tinha gostado. Era uma das coisas que ele gostava de fazer, nunca tinha feito curso de desenho e estava estudando para fazer curso de eletricista”, aponta a mãe do garoto, acrescentando que outro hobby do filho era ir até a lan house buscar por cifras na internet. “E voltava com uma pilha de papel em mãos”, conclui.

“Meu filho não era bandido”

“O que a gente queria era que isso não acontecesse com mais ninguém. Meu filho tinha dignidade. Não era bandido. Foi uma perda para toda família, estruturada por muito diálogo. Uma brutalidade. Desde sempre ele foi orientando a respeitar a todos, e era isso que fazia. Conversamos sobre todos os assuntos e até dizíamos para ele: filho, se por acaso algum dia a polícia te parar em uma blitz, pare”, lembra Geraldo, apontando que a causa da morte do garoto já era assunto de família.

“Nunca imaginaríamos que um dia ia acontecer isso, mas já aconteceu. Nossa religião prega a ressurreição e acredito que o veremos em breve”, espera a mãe.

Izalete relembra que naquele dia Douglas já havia chegado em casa do trabalho. Tomou café com a família e saiu de moto para comprar uma bolacha recheada. O garoto não voltou para a casa.

Ela soube da notícia, quando um policial, foi até a residência dela com o mesmo carro a qual o garoto foi atingido, dar a notícia de que ele tinha entrado em perseguição com a polícia e sofrido um acidente de trânsito.

Marca de tiro na roupa

“Liguei para o celular do meu filho e um dos policiais atendeu dizendo que era para ir até o hospital. Até então nem sabíamos do tiro. Mas ficou a marca da bala na bermuda dele. O processo de reanimação durou quase uma hora. O médico me disse que ele tinha sofrido também um traumatismo craniano grave”, diz a mulher.

Os pais de Douglas contam que ele tinha comprado a moto há cerca de 30 dias. Era habilitado, mas estava sem a documentação do veículo, porém acreditam que não tenha sido este o motivo de não parar a moto, mas sim por se tratar de homens armados em uma viatura sem identificação policial.

“Meu filho achou que ia morrer, por isso que não parou. Ainda mais ele, que desde pequeno prega o respeito a todos, ainda mais com policiais, autoridades. Acredito que ninguém pararia. Só peço que a dignidade do meu filho seja respeitada”, lamenta a mãe.