Jean Carlos de Souza, morador de Joinville, é acusado de envolvimento com Hezbollah; ele foi preso na quarta-feira (8)
Um dos presos na quarta-feira (8) pela PF (Polícia Federal) por suspeita de envolvimento com o grupo extremista libanês Hezbollah é o técnico em plásticos Jean Carlos de Souza, de 38 anos, morador de Joinville. Em audiência de custódia, o suspeito negou que participou de eventual planejamento de atos terroristas no Brasil e disse que atua com “captação de negócios” — ele não especificou quais.
O vídeo da audiência de custódia de Jean foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo na noite desta sexta-feira (10). O ND+ tenta contato com José Roberto Timoteo da Silva, advogado que representou a defesa do catarinense, preso temporariamente sob acusação de terrorismo.
Jean foi preso em um hotel onde estava hospedado em São Paulo. Na audiência, o catarinense afirmou que vive uma rotina de viagens devido a sua atividade de negócios e que costuma ser revistado pelas autoridades nos aeroportos, mas considerou ser “algo muito sério” ser acusado de terrorismo.
“Sempre que a Polícia Federal me para, eles têm o intuito de procurar drogas na minha bagagem. Sair de uma acusação de um tráfico, onde você vai esclarecer na hora, e me jogar em terrorismo é algo muito sério”, afirmou.
Jean garantiu que está disposto a colaborar com as investigações e que disponibilizou as senhas de celular à polícia.
“Vou ficar 30 dias respondendo por algo absurdo, que não vai dar em nada”, acentuou Jean, que tem dois filhos, uma adolescente de 15 anos e um garoto de 10.
PF liga brasileiros ao Hezbollah
De acordo com investigação da PF, Jean e outros brasileiros estariam envolvidos em planejamentos de ataques a prédios da comunidade judaica no Brasil sob mando do Hezbollah, grupo xiita libanês que conflita com Israel.
A investigação ainda diz que sinagogas estavam sendo monitoradas e fotografadas e relata o recrutamento de pessoas para atuar com grupos terroristas que atuam no Oriente Médio.
O inquérito foi aberto a partir de um alerta dos serviços de inteligência dos Estados Unidos e de Israel.
Criado em 1982 em meio à guerra civil do Líbano, o Hezbollah é um partido político e um grupo militante muçulmano xiita com sede no Líbano. Com alianças com países como Irã e Síria, e em oposição a Israel, e o grupo é marcado por sua resistência à influência ocidental no Oriente Médio.
Com histórico de realização de ataques terroristas ao redor do mundo, as forças militares do grupo representam um desafio para Israel, seu “inimigo de longa data”, segundo especialistas, afirma o think tank Conselho de Relações Exteriores (CFR).
Quem é o grupo Hezbollah?
O Hezbollah foi fundado pela Guarda Revolucionária do Irã em 1982, durante a guerra civil no Líbano, conflito que durou entre os anos de 1975 e 1990. Segundo a Reuters, o grupo fez parte dos esforços em exportar a Revolução Islâmica de 1979 para a região e também combater as forças israelitas após a invasão do Líbano em 1982.
O Hezbollah recrutou muçulmanos xiitas libaneses ao compartilhar da ideologia islâmica xiita de Teerã. Com o passar dos anos, o grupo se tornou uma organização fortemente armada, com grande influência sobre o Estado libanês.
Israel é o principal alvo do grupo extremista, e sua comunidade vem sofrendo ataques do Hezbollah há décadas tanto no país quanto no exterior.
Em 1994, o grupo foi responsabilizado por carros-bomba que atingiram um centro comunitário judaico na Argentina, além de atentados à Embaixada de Israel em Londres.
O principal motivo que coloca Israel como inimigo é a ocupação israelense do sul do Líbano em 1978. Apesar de ter se retirado oficialmente do local em 2000, as disputas continuaram na zona fronteiriça das Fazendas de Sheeba.
Em 2006, o conflito entre Hezbollah e Israel virou uma guerra que durou um mês, durante a qual o Hezbollah lançou milhares de foguetes contra o território israelita. A tensão seguiu pelos anos seguintes, com ataques em 2019 e 2021.
Qual o papel do Hezbollah no conflito Israel – Hamas?
Desde o início do conflito, o Hezbollah tem disparado bombas através da fronteira Israel-Líbano em uma demonstração do que os líderes do grupo consideram “solidariedade” ao Hamas.
Por apresentar maior capacidade militar, uma expansão do apoio do Hezbollah ao Hamas pode significar dificuldades para Israel e um cenário ainda mais devastador na região.
O que se sabe é que os laços entre Hamas e Hezbollah são profundos, assim como com a Jihad Islâmica, outra facção palestina apoiada pelo Irã, apontada por Israel como a responsável pelo ataque ao hospital na Faixa de Gaza.
No dia 7 de outubro, data do primeiro ataque dos militantes do Hamas a Israel, o Hezbollah disse que estava em “contato direto com a liderança da resistência palestina”. Desde então, o Hezbollah trocou tiros transfronteiriços com Israel diversas vezes.
Com informações do ND+