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“Não vamos desistir do Carnaval de Braço do Norte”, afirmam organizadores

Foto: Suham Dellatorre/Sul in Foco

Foto: Suham Dellatorre/Sul in Foco

Apesar da tristeza pelos esforços empenhados e a não realização do evento, integrantes da escola de samba e secretário de Turismo e Cultura afirmam que prepararão o desfile do próximo ano.

Parte da diretoria da escola de samba Unidos do Vale e a Secretaria de Turismo, Cultura e Desenvolvimento Econômico de Braço do Norte, reuniram a imprensa para esclarecer os fatos sobre o cancelamento do desfile de carnaval, que ocorreria na sexta-feira, dia 13.

De acordo com o secretário de Turismo e Cultura, Ramon Beza, os esforços não foram medidos para a realização do evento. "Começamos a conversar com o Ministério Público e outras entidades em outubro, assim que assumi a pasta. Desde então estamos organizando toda a parte burocrática", enfatizou.

Segundo ele, todos os documentos necessários para a realização do evento foram conseguidos. "No mês de dezembro, a Prefeitura lançou edital destinando R$ 20 mil para qualquer entidade que tivesse interesse em realizar o carnaval. A única entidade cadastrada foi a escola de samba Unidos do Vale, houve uma comissão que analisou o projeto e aprovou o repasse dos recursos. A entidade, em contato com a Câmara de Vereadores, conseguiu mais R$ 4 mil, em forma de subvenção", explicou Ramon.

Ramon ressaltou que, com a aprovação da destinação dos recursos foram realizadas audiências com o Ministério Publico, Polícia Militar, escola de samba e secretaria. "Através dessas reuniões foram acertados alguns requisitos de segurança para realizar o evento, tais como: a solicitação de aumento do efetivo da Polícia Militar para o dia, contratação de segurança privada, contratação de banheiros químicos, cadastramento de ambulantes, fiscalização de ambulantes através da Vigilância Sanitária do município, solicitação da ambulância do Corpo de Bombeiros, a qual fomos prontamente atendidos, declaração do número de integrantes da escola de samba, declaração de modo de limpeza das ruas, declaração de modo de execução do fechamento das ruas, Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) do palco assinada por engenheiro responsável, alvará da Prefeitura, alvará da Polícia Civil, ofício de autorização de fechamento de ruas, reunião na véspera do evento com a Policia Militar para acertar detalhes da operação. Todos documentos conseguidos e entregues ao Ministério Público", conta o secretário.

O Alvará da Polícia Civil

Conforme Ramon, apenas o Alvará da Polícia Civil não foi conseguido, pois o delegado, que não participou da reunião com o MP, enviando apenas um e-mail com recomendações, tinha indeferido por falta da ART original. "Para ele não valia a cópia, não contestamos, fomos em busca, conseguimos e apresentamos. Dias depois foi a vez da ambulância do Corpo de Bombeiros não ser suficiente para o evento. Era necessária uma ambulância própria para o evento, logo após foi conseguido uma ambulância através da Secretaria de Saúde do município, que estaria à disposição durante todo o evento. Foi levado esse ofício ao delegado. Lembrando que ele nunca nos atendeu, sempre deixava recado para a secretaria, que nos atendeu muito bem. Ele também pediu o trajeto da escola de samba, sendo que já tinha sido entregue todo o projeto. Para finalizar na véspera do evento, dia 10, ele pediu o modelo da ambulância e o nome dos técnicos que trabalhariam na noite. Fomos até a secretária de Saúde e ela fez uma novo ofício com o modelo da ambulância e os dados dos funcionários", destaca.

O secretário explica que, por fim, foi solicitado o Alvará dos Bombeiros, faltando dois dias para o evento. "Fomos até os Bombeiros e lá fomos informados que não havia tempo hábil para fazer essa vistoria no palco e na sonorização, pois necessitávamos de engenheiro elétrico e de cálculos da estrutura metálica e extintores entre outros requisitos. Decidimos, então, retirar o palco e a sonorização do evento, mesmo já tendo contratado tudo, comunicamos ele que não haveria mais palco e nem som, tirando assim a necessidade da vistoriado bombeiros. Mesmo assim ele afirmou que não assinaria o alvará se não tivesse a vistoria do bombeiro. O Ministério Público também foi comunicado, via telefone, que não haveria mais palco e nem som".

Segundo a equipe designada para cuidar da parte burocrática do evento, o grupo foi até a Delegacia novamente. "Fomos três vezes até os Bombeiros e reafirmamos que não havia o que ser vistoriado, já que não havia mais palco e sonorização. Foi então que descobrimos que o delegado já havia saído, cerca de 15h30min de sexta-feira. Ele simplesmente saiu da cidade e deixou dito que não assinaria o Alvará e ponto final. Mesmo não tendo palco e som", afirmam.

"Então fomos até o Fórum analisar o que poderia acontecer, conversamos com alguns funcionários técnicos de lá e fomos até a Policia Militar, onde recebemos total apoio moral e tático para realização do desfile. Saímos para a concentração da escola de samba felizes e prontos para desfilar. A turma se arrumou, se fantasiou e quando estava pronta para sair para a avenida o oficial de justiça chegou com a Ordem Judicial cancelando o carnaval. Assinada por uma juíza de fora que estava de plantão, pois o pedido foi feito após o expediente do Fórum local", registram.

Injustiça

Para o secretário, o que ocorreu foi uma injustiça. "Pessoas de fora, que estão de passagem por Braço do Norte, que não são daqui, que não conhecem a nossa história, a nossa cultura, o nosso valor, a nossa gente, estão acabando com a cultura do nosso município e eu, como secretário desta pasta, não posso assistir isso acontecer e ficar quieto. Por isso vim aqui falar a verdade, explicar porque não teve carnaval em Braço do Norte. A Prefeitura queria e fez o que pode, a secretaria queria e fez o que pode, esses guerreiros da escola de samba queriam e fizeram o que podiam e a população estava contente com o retorno dessa festa, que é a maior festa popular cultural e tradicional do mundo", desabafou.

Conforme Ramon, os passos foram refeitos na quarta-feira. "Fui novamente à delegacia, tentar esclarecer os fatos com o delegado. Novamente ele não se encontrava. Fui novamente ao Corpo de Bombeiros, para ter certeza de que sem palco e sonorização, não havia o que vistoriar, logo, o argumento de "falta de vistoria do Corpo de Bombeiros', usado para não liberar o Alvará, não é consistente. Ainda nos perguntamos qual o motivo da não realização do desfile. Fui questionado, por várias pessoas, mas não tenho resposta: para o desfile de Sete de Setembro, também é necessário Alvará? Foi tanto suor, tanto tempo dedicado, tanto esforço, em cima do carnaval durante o final do ano inteiro, enquanto muitos estavam na praia de férias nós estávamos buscando tudo o que precisava para realizar o carnaval. Entendemos que o Ministério Público fez a parte dele. Infelizmente o delegado não nos recebeu uma única vez, se quer para escutar. Fomos atrás de tudo, tentamos de tudo. Mas não deu certo. Aliás, esse ano não deu certo, pois não vamos desistir, vamos nos planejar com ainda mais tempo e tranquilidade", finalizou Ramon.

Tristeza

Conforme a comissão, o cancelamento do desfile foi um verdadeiro pesadelo. "Crianças chorando, idosos chorando e pedindo para desfilar. Para muitos era a única oportunidade de aproveitar o carnaval. Será que isso é preconceito? Sabemos que deve ter gente feliz agora, mas nós não vamos desistir", disse Nilton Siberino, o Lobo, integrante da escola de samba Unidos do Vale, que destacou que a semana foi muito pesada para todos, já que dois integrantes da escola foram perdidos em um acidente de carro.

Segundo ele, um ônibus com integrantes de uma escola de samba de Laguna estava na concentração, esperando para desfilar junto com a Unidos do Vale, o que deixaria a apresentação ainda mais bonita.

Jeverson Prudêncio, o Buiú, mestre da bateria, afirma que são 67 integrantes em sua ala. "Estão todos afinados. Entre eles há um grupo de cerca de 20 crianças, que tocam tamborim, inclusive um integrante com deficiência. Fizemos nossa parte. É muito triste", declarou.

Lucilene Prudêncio, responsável pelas fantasias, destacou o empenho, tanto para a confecção das roupas, quanto para a compra dos materiais. "Isso não volta".

Já o tesoureiro da Unidos do Vale, Roberto Effting, o Jack, falou da criação da Unidos do Vale. "Recomeçamos em 2009, numa tentativa de resgatar o carnaval de Braço do Norte, que estava esquecido. Desfilamos dois anos seguidos (2009 e 2010) e não me lembro de haver, se quer, um incidente durante o desfile da escola de samba. Não consigo entender o motivo de tanta restrição", avaliou.

Segundo Roberto, a escola está aberta para a participação de quem desejar. "Nós não precisamos de ideias depois que as coisas acontecem, precisamos antes. Então, estamos à disposição qualquer pessoa que queira participar é sempre bem-vinda", finalizou.