Trânsito

O Porto Seco – Cidade dos Transportes: uma espera de 20 anos em Criciúma

A  ideia que surgiu em 1993 e começou a sair do papel em 1996, se tivesse seguido conforme os planos, deveria estar em pleno funcionamento há anos. O Porto Seco – Cidade dos Transportes foi idealizado para reunir empresas de transportes e de serviços gerais com a intenção de tirar do centro da cidade o tráfego de caminhões pesados, melhorando a durabilidade das vias e contribuindo para a mobilidade urbana.

O terreno adquirido para tal finalidade conta com 580.432 metros quadrados de área para construção e está estrategicamente localizado na Rodovia Antônio Darós, Bairro São João, Primeira Linha. Em suas extremidades, o Porto Seco se encontra com os trilhos da Ferrovia Tereza Cristina, com o município de Içara e com as obras da Via Rápida, fato que, na teoria, o torna ainda mais viável.

Ao contrário do que foi projetado há 20 anos, atualmente o espaço conta com apenas uma empresa em plena atividade, além da estrutura do Serviço Social do Transporte – SEST e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte – SENAT, em atividade desde 2007 em um terreno de 33 mil metros quadrados. Para o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Sul de Santa Catarina – Setransc, responsável pelo projeto, a falta de apoio dos órgãos públicos para a pavimentação das ruas é o principal motivo para tamanho atraso.

No local, ao invés de dezenas de empresas e trânsito intenso de cargas e funcionários, apenas grandes espaços ainda ocupados pelo mato e a estrada de chão esperando pelo asfalto.

Para mudar o cenário, de acordo com o presidente do órgão, Lorisvaldo Piuco, a estimativa é de que haja necessidade de investimento de aproximadamente R$ 6 milhões para o asfaltamento. "A partir disso tudo certamente irá se desenrolar. Precisamos colocar um asfalto de boa qualidade para suportar todo o tráfego pesado e assim, sem risco de deixar seus caminhões atolados, as empresas começarão a se instalar", elencou.

A ideia do Setransc é conseguir recursos públicos para pagar ao menos parte desse investimento já que os empresários sozinhos não conseguem arcar com o valor total.  A expectativa é que 2,5 mil funcionários devam trabalhar no local com circulação de 20 mil veículos mensalmente.

Empresariado em "stand by"

Conforme o presidente, os números atuais apontam que mais de 40 empresas de transportes de cargas que estão com terrenos comprados e quitados aguardando apenas o asfaltamento das vias para construírem suas sedes e passarem a realizar suas atividades no local. "Além disso, temos oito empresas de serviço como reforma e manutenção de caminhões, restaurante, lanchonete e até hotel aguardando que a situação se desenrole", comenta.

As promessas feitas há décadas, conforme Piuco, esbarram em desculpas para não serem executadas. "Estamos sempre buscando e cobrando, mas a cada tentativa um novo argumento aparece. Durante essas cobranças os agentes públicos sempre tentam nos convencer de que o espaço é privado e não há nada que possa ser feito, mas as ruas foram passadas obrigatoriamente para o nome da prefeitura. Algo nesse ciclo está errado, então", diz.

Empresas lamentam e reivindicam

O primeiro empreendimento a se instalar e realizar 100% das suas atividades dentro do território da Cidade dos Transportes foi a Retifica Sul Catarinense, de Criciúma. Conforme o empresário Luiz Dilon Martinelli, responsável pela empresa, o terreno para a construção da sede foi adquirido em 1996, quando o projeto foi iniciado e, na época, a expectativa para os dias atuais era bem diferente. "Imaginávamos que estaria em pleno funcionamento. Pelo que estava planejado e encaminhado tinha tudo para dar certo, mas sem o apoio esperado acabou não saindo direito do papel", afirma.

Para Dilon, o sentimento é de decepção, pois diante desses fatos ele e os funcionários precisam lidar diariamente com problemas de logística e segurança. "A mudança que era pra beneficiar clientes e a empresa acabou não surtindo o efeito esperado. Hoje temos que lidar com a distância, pois ficamos longe e isolados, além de estarmos mais inseguros, já que a empresa ainda está em meio a muito mato e praticamente não tem iluminação", comentou. Para diminuir os riscos o empresário optou por instalar uma iluminação própria, evitando ficar no escuro total a partir do fim da tarde.

Mudança no trânsito é reivindicação

Além de aguardar pelo asfaltamento das vias, o que possibilitaria a mudança das empresas para o local sem o risco de atolares seus caminhões, os responsáveis pelo Porto Seco junto aos empresários tentam articular uma mudança no trânsito no ponto de entrada para o local. "Esse é um problema muito sério. Precisamos melhorar a entrada ao Porto Seco, pois não existe acostamento, nem um trevo alemão ou uma rótula para que se faça a entrada com cuidado. Já tivemos alguns acidentes ali", destaca Martinelli.

Especialista confirma importância do projeto

Para o arquiteto e urbanista Giuliano Colossi, especializado em Mobilidade Urbana, não há dúvidas de que, se implantado em sua totalidade, o projeto traria ótimos resultados para o tráfego na área central da cidade. "Certamente tiraria grande parte do trânsito de veículos pesados do Centro e direcionaria todos para um mesmo local. Isso beneficia não só os usuários das vias, mas as empresas também", comentou. Além da melhora na circulação, de acordo com Colossi, as vias teriam melhor conservação, já que não seriam desgastadas pelos veículos de grande porte.

Prefeitura afirma aprovar projeto

Conforme o secretário municipal de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, Jader Westrup, a prefeitura de Criciúma não se opõe em oferecer algum tipo de auxílio ao Porto Seco. "Muito pelo contrário. Houve um período em que ele estava na mão de um empresário apenas e agora foi passado para o Sindicato, então todas as empresas que entrarem com pedido de auxílio e incentivo junto ao Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico vão ser atendidas. Tanto é que em 2015 nós atendemos uma empresa em uma demanda dela", comenta.

Para Westrup, além do interesse do órgão municipal, é imprescindível a atuação ativa das demais partes envolvidas. "Nós temos interesse sim em fazer com que isso se desenvolva, mas também depende muito do sindicato e de as empresas quererem se instalar lá", completa.

Com informações de Mayara Cardoso / Clicatribuna

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