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O reencontro de Lussa com o Mahicon

O radialista da Rádio Eldorado de Criciúma publicou em sua página na noite deste domingo (15) um texto em homenagem ao empresário e vice-prefeito de Olreans,José Carlos Librelato, o Lussa. A publicação fala sobre a vida do empresário ao lado de seu sobrinho Mahicon Librelato, que faleceu em novembro de 2002, vítima de um acidente autobilístico em Florianópolis. Confira o texto na íntegra:

O Lussa Librelato foi um cara diferenciado. E esta não é uma simplória conclusão resultante do passamento de uma figura querida. É sim uma reverência ao menino humilde que, filho de numerosa prole, soube desde cedo o que era conviver com a dificuldade. Filho de empreendedor, logo mostrou a mesma capacidade, dirigindo caminhão, desbravando caminhos e liderando a construção, passo a passo, a partir dos anos 60, deste verdadeiro império que é hoje a Librelato, uma das maiores empresas de Santa Catarina e das grandes do Brasil em seu segmento de implementos rodoviários e agrícolas.

Conversar com o Lussa era uma viagem por agradáveis histórias. O Lussa se tornou mais conhecido como empresário, naturalmente, pela força da potência que construiu. Mas eu pude conhecer “outros dois Lussas” que muito devem orgulhar aos seus também. O Lussa político conseguiu, com sua simplicidade e poder de articulação, dominar o xadrez político de Orleans, por vezes tão complexo, típico de cidades do seu porte. De uma década para cá, as decisões políticas de Orleans passaram pelo escritório do Lussa Librelato, que só não foi prefeito pois assim não o quis nesta e na gestão anterior. Em ambas, vice-prefeito. Há quem  diga que a sabedoria italiana lá no fundo já avisava que uma peça poderia estar sendo pregada pelo destino e que, lá no fundo, o melhor mesmo era deixar que outro fosse prefeito, em nome do mesmo projeto: fazer da sua cidade uma extensão do que são as suas empresas em gestão de qualidade e respeito aos seus, funcionários e cidadãos.

Mas eu conheci o outro Lussa, não o político, não o empresário. O primeiro Lussa com o qual tive contato foi o Lussa do futebol. E isso vai mais de uma década. Lá no início dos anos 2000, despontou no futebol catarinense um menino muito talentoso, que carregava o sobrenome da família, e apresentava este sobrenome ao Brasil com tanta força quanto os implementos que a Librelato produz e espalha pela nação. Mahicon Librelato, o guri dos dribles fáceis, dos toques curtos e da visão privilegiada de jogo, um dos maiores craques que Santa Catarina já formou. Sobrinho de Lussa, revelou-se no Criciúma por insistência do Lussa, que o queria vestindo a camisa tricolor do Tigre. Chegou a rodar em teste no Majestoso, chegou a pensar em buscar espaço no Figueirense, mas a persistência do Lussa e uma boa conversa ao pé do ouvido com os diretores da época e, pronto, o Mahicon estava no Tigre. Daí para o sucesso, foi um pulo, e lá foi o tio orgulhoso junto! Lussa passou a ser o empresário do menino, era com ele que se conversava quando se pensava em assediar o craque Mahicon.

Tanto é que, o sucesso de Mahicon no Criciúma em 2001 sinalizou para o futuro breve, a transferência para um grande clube. Interessado no jovem talento, o Internacional precisou procurar Lussa Librelato. Foi o tio quem deixou Orleans algumas vezes, foi a Porto Alegre, analisou o terreno, achou apartamento, negociou um bom contrato e pronto, o sobrinho estava autorizado a viver, jogar e trabalhar em Porto Alegre. O ano de 2002 foi uma montanha russa na vida do Mahicon e do tio Lussa. As sucessivas boas atuações em um time limitado como aquele do Inter fazia de Mahicon um talento raro e ainda mais valorizado. Em 17 de novembro, Mahicon fez o jogo da sua vida no Inter, colaborando decisivamente para o colorado gaúcho aplicar 2 a 0 no Paysandu e escapar do rebaixamento. Ele foi ovacionado pela torcida colorada, afinal, salvara o time da Segunda Divisão. Tio Lussa confessou, tempos depois, que chorou.

Mas quis o destino que aquele não fosse o choro mais impactante por Mahicon. Na madrugada de 28 de novembro de 2002, tio Lussa foi acordado por um telefonema Porto Alegre – Orleans. Era Fernando Carvalho, presidente do Internacional, que acabara de ouvir na Rádio Guaíba e ser comunicado por mim, Denis Luciano, que Mahicon havia morrido em um acidente de automóvel em Florianópolis. Aí, na tragédia, começava minha história com o Lussa. Por mim, ele soube da morte do Mahicon, o sobrinho querido, o guri que jogaria na Seleção Brasileira e brilharia na Europa levando consigo o nome da família. Não deu tempo. O Lussa chorou. E muito.

O tempo passou e o destino, sempre pródigo, colocou o futebol novamente no caminho do próspera empresário. Em outubro de 2009, o Criciúma mergulhava em profunda crise, batia as portas da falência, e precisava de gente criativa para sair da difícil situação. Eis que Lussa, mesmo ocupado com as empresas, com a política, não poupou esforço pessoal e candidatou-se a diretor de futebol do Criciúma. Foi levado a isto, na verdade, como uma gratidão e uma aposta do presidente Edson Cascão Búrigo. Ele topou. Mas durou pouco tempo.

Eu estava lá no Majestoso, em uma noite de novembro de 2009, quando um ato de deselegância fez o Lussa chorar, de novo. Em reunião do Conselho Deliberativo, ele, o então diretor de futebol, fazia algum comentário sobre o time e confessou, aos conselheiros, que sua equipe de infância era o Santos, que aprendeu a gostar de futebol com o Peixe de Pelé e companhia. Em um ato contínuo de deselegância, um conselheiro esbravejou contra Lussa de tal forma que ele demitiu-se no ato do cargo de diretor de futebol. Oras, quem viveu nos anos 60 e não torceu pelo Santos? Ali havia sido dada uma prova de humildade e conhecimento de futebol que o insano que questionou Lussa acabou provocando um estrago e, 45 dias depois de assumir, ele deixava de ser o diretor de futebol do Tigre. Mas não ficaram mágoas, sei disso.

O Lussa partiu para o céu na madrugada deste domingo, horas antes de um Criciúma x Internacional, o mesmo Criciúma que aprendeu a amar e pelo qual tanto fez, o mesmo Inter que acolheu seu sobrinho Mahicon. Que seja um grande jogo, para marcar o festivo domingo celestial de reencontro entre o Mahicon Librelato e o José Carlos Librelato. Dupla que deixa saudades!