Educação

Onde está a podridão: na carne ou no caráter?

Coluna Ana Dalsasso

Foto: Tadeu Vilani / Agencia RBS

Viver no Brasil é uma grande dádiva, pois somos um povo ordeiro, feliz e guerreiro desfrutando de uma natureza incomparável, terra fértil e produtiva, enfim tudo o que é necessário para viver, constituir família, trabalhar e ser cidadão do bem, mas lamentavelmente temos uma “miscigenação” de caráter na população que aqui habita, levando o país à perda de credibilidade perante o mundo, destacando-o no ranking da corrupção, em todos os sentidos. A cada nova operação deflagrada, mais certeza temos de que a ganância se sobrepõe a qualquer valor moral e ético.

Conviver com escândalos neste país, infelizmente, passou a ser normal. Nada mais nos surpreende e a cada dia que passa nos sentimos mais órfãos do que nunca. Sentimo-nos traídos e abandonados por nossos representantes políticos quando assistimos aos desmandos e assaltos aos cofres públicos sem o mínimo constrangimento, mas talvez nunca tivéssemos imaginado que a irresponsabilidade e o desrespeito com a vida humana chegasse ao nível que chegou. Roubar nosso dinheiro e nossos direitos a ponto de colocar em risco nossa integridade física é ultrapassar os limites da crueldade. A operação Carne Fraca é a maior prova da ausência de valores na sociedade atual, em especial a falta de respeito à preservação da vida. E mais uma vez temos a ação de servidores públicos usufruindo o poder do cargo para enriquecimento ilícito. É o “toma lá da cá” e a saúde do povo em jogo, não bastassem os problemas que já enfrenta. Talvez haja certo exagero como a mídia vem tratando o fato, mas ele existe e não pode passar em branco. O mistério tem de ser desvendado, independente de quem irá atingir. São sérias as críticas sobre a ação da Policia Federal, mas não tem como negar as evidências, não podendo a sociedade fechar os olhos para o problema.

Ouvi um discurso do Presidente da República, por sinal ele foi muito infeliz, justificando que “apenas 21” frigoríficos, dos tantos que há no país, estão sendo investigados. Mas, não bastaria “um” apenas para causar sérios danos à saúde pública? E, foi mais infeliz ainda ao afirmar que a exportação por estes 21 foi proibida, porém está liberada a comercialização aqui no país. Como se ao brasileiro pouco importa se a carne é podre ou não. Fala-se também que foi “apenas um desvio de conduta” e tudo se resolverá. E assim tantas outras justificativas tentam justificar o injustificável.

No entanto, todo fato social, bom ou ruim, independente de sua dimensão, deve levar o cidadão a buscar entender sua complexidade, sua área de abrangência, as implicações morais e éticas para a vida humana. Pergunta-se então: o que e quem será que se esconde atrás da salmonela, do papelão, da carne vencida, da salsicha adulterada? Quem são os beneficiados, além dos proprietários?

Logo saberemos as “verdades secretas”, e mais uma vez lá encontraremos uma lista de beneficiários; muitos já conhecidos e citados em outras operações, outros estreando na escola do crime, dando-nos a certeza de que mais podre que a carne em questão é o caráter do cidadão que por ganância esquece o valor da vida.

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