Reflexão

Padre de Orleans celebra 25 anos de sacerdócio dedicado ao próximo

Natural da comunidade de Curral Falso, Padre Vilcionei Baggio teve sua formação sacerdotal muito ligada à crianças de rua.

Fotos: Divulgação/Indiara Andrade/Diocese de Criciúma

Fotos: Divulgação/Indiara Andrade/Diocese de Criciúma

Na próxima quarta-feira (04), a igreja matriz Nossa Senhora Mãe dos Homens, em Araranguá, acolhe a missa em ação de graças pelos 25 anos de sacerdócio do padre Vilcionei Baggio, natural de Orleans. A celebração terá início às 20 horas, seguida por um jantar festivo com a comunidade, no Grêmio Fronteira (com ingressos à venda no valor de 20 reais).

Desde 2007, o religioso da Congregação de São José – Josefinos de Murialdo está a serviço da missão educacional no Colégio Murialdo, onde se tornou diretor, em 2012, além do Centro de Aprendizagem Murialdo, obra social que atende adolescentes em situação de vulnerabilidade social.

Uma vida em favor dos menos favorecidos

É quase impossível falar da história de Padre Vilcionei Baggio, 53 anos de vida, 25 dedicados ao sacerdócio, sem falar no outro, no próximo. Se for verdade o que diz o ditado que “a boca fala do que o coração está cheio”, padre Vilcionei evita falar de si, mas dedica-se a contar principalmente as histórias de vida que acompanhou e ajudou, nos diversos projetos sociais que esteve envolvido durante a maior parte de sua trajetória sacerdotal.

Filho de Estevão Baggio e Lúcia Niero, nasceu em 31 de março de 1963, na comunidade de Curral Falso, em Orleans (SC), e tem dois irmãos. Ingressou no Seminário São José, em 1974, aos 11 anos de idade, à época da grande enchente que devastou a região e que também fez a família do padre, que vivia da agricultura, perder tudo e mudar-se para o centro da cidade. Padre Vilcionei terminou o Ensino Fundamental em Orleans e fez o Ensino Médio em Araranguá, de 1978 a 1981. Cursou Filosofia em Porto Alegre (RS) e Magistério em Caxias do Sul (RS) e no Rio de Janeiro (RJ). Estudou Teologia em Londrina (PR) de 1988 a 1991, até que em 1992 foi ordenado padre.

Toda a formação de padre Vilcionei foi muito ligada a crianças de rua, uma vez que o carisma dos Josefinos está no trabalho com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Em Caxias do Sul, atuou dois anos junto a crianças pobres. Mas foi no Rio de Janeiro, em 1987, que começou a se envolver mais profundamente com a questão, tendo uma experiência significativa em favelas. “Por isso meu grande sonho, enquanto padre, era trabalhar com crianças de rua. O Rio me marcou muito porque tinha a favela Caixa d’Água e o Morro da Saçu, que eram vizinhos e inimigos e a gente trabalhava nos dois. Era uma insegurança muito grande. Mas as crianças davam força pra gente. A partir daí comecei a ver que sem Deus, sem colocar a força da espiritualidade a gente não consegue caminhar”, recorda.

A realidade das ruas

Ordenado sacerdote em 1992, com o lema “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10), padre Vilcionei logo foi nomeado formador dos seminaristas do Ensino Médio, trabalhando na função até 1998, quando foi transferido para Londrina (PR), para cuidar da formação dos seminaristas de Teologia até o ano de 2005. “Todas as nossas obras tem um cunho social muito grande. Em Londrina, temos uma obra chamada EPESMEL (Escola Profissional e Social do Menor de Londrina) onde trabalhei muito com pessoas de rua, sempre com adolescentes em situação de vulnerabilidade, adolescentes de rua, prostituídos, drogados, e a gente fazia um trabalho chamado ‘abordagem de rua’ para tentar resgatar um pouco a vida dessa gurizada. A abordagem acontecia onde eles estavam. Eles não vinham para uma estrutura. A gente simplesmente ia para a rua e na abordagem primeira fazia uma ficha cadastral, conversava, verificava a origem, a situação familiar e a partir daí começava a fazer visitas familiares. Algumas crianças voltavam para casa; outras, a situação familiar era tão triste, que não tinha como voltar. Então percebíamos o envolvimento gradativo: ia para a rua e logo depois caia nas drogas. Era muito triste isso, porque a gente via uma criança se perdendo e não tinha condições de resgatar. Mas foi um trabalho que me ensinou muito a amar os ‘últimos’, esses ‘últimos’ que Jesus Cristo tanto prega no Evangelho. Me ensinou muito enquanto pessoa humana e formou muito a minha caminhada pessoal”.

A misericórdia diante de uma sociedade indiferente

Para o padre, a vida desafia muitas vezes a olhar o outro com misericórdia. “A aproximação com as pessoas de rua é feita aos poucos. Não pense que simplesmente você vai chegar até ela e ela vai te acolher. Elas sentem, em primeiro lugar, desconfiança. Uma vez acompanhei um menino em Londrina e na terceira abordagem, eu perguntei a ele como era a sua vida. Ele falou: ‘Tio, na rua a gente tem tudo’. Mas eu perguntei: ‘O que mais te machuca na rua?’ Ele falou para mim: ‘Na rua, a gente não passa fome. Na rua, a gente tem abrigo, consegue sobreviver. Mas o que mais dói aqui na rua é a maneira como as pessoas olham pra gente’. E eu perguntei ‘mas de que jeito as pessoas olham para ti?’ e ele me respondeu: ‘Umas olham como se a gente não existisse; outras evitam olhar e outras olham com muito desprezo’. São coisas que fazem você olhar a vida de forma diferente e hoje eu me pergunto se naquela época, claro que não havia essa caminhada, mas se Jesus Cristo estivesse no meu lugar, como Ele olharia para essa pessoa com a qual eu estou? Essas crianças ensinam isso. A rua ensina muito para as crianças, mas também ensina muito para quem vai trabalhar lá”.

Legenda das fotos: Anos de 1988 e 1989, o testemunho de padre Vilcionei junto a crianças e adolescentes de rua em Londrina (PR).

Colaboração: Bibiana Pignatel – Setor de Comunicação – Diocese de Criciúma