Reflexão

Pastoral Carcerária: mais do que chocolates, presença de Cristo no cárcere

Pastoral Carcerária: mais do que chocolates, presença de Cristo no cárcere

Foto: Bibiana Pignatel / Comunicação Diocese de Criciúma

Nos chocolates um pouco de doçura, no olhar, no sorriso e nas palavras das agentes, um pouco de esperança e uma Igreja misericordiosa que vai ao encontro dos irmãos que se encontram atrás das grades. Na manhã de hoje (16), o grupo de agentes da Pastoral Carcerária que regularmente visita os reeducandos da Penitenciária Sul, em Vila Maria, Criciúma, realizou mais uma visita, desta vez, alusiva ao Dia dos Pais. Pouco mais de 100 detentos receberam as lembranças, sendo que a entrega foi realizada pelo lado externo da galeria H.

Desde 17 de maio de 2016, a Penitenciária Sul conta com celebrações eucarísticas mensais, preparadas pelo grupo da Pastoral Carcerária que, atualmente, é formado por oito agentes, além do padre. Além das missas, um trabalho importante é feito toda semana, com a visita aos reclusos, todas as segundas-feiras, no período da manhã. As visitas foram autorizadas, neste ano, pelo Departamento de Administração Prisional – DEAP e pela Direção da Penitenciária.

“No ano passado, tivemos umas quatro visitas por cima, não nas celas, como hoje a gente faz. Temos contato com eles, sempre acompanhados por um agente penitenciário. Visitamos, em média, 10 a 15 celas, sendo que cada uma abriga sete a oito deles. Sempre nos apresentamos a eles e eles também se apresentam a nós. Como já temos contato, a maioria já nos conhece. Nosso trabalho é muito mais de escuta, de ouvi-los e de levar a Palavra, também. Fazemos nossas orações com eles, cantamos, conversamos, os cumprimentamos, perguntamos sobre como estão. Alguns já se aproximam e querem conversar, pedir orações. Eles se apegam muito à religião lá dentro, independente qual seja”, relata a membro da equipe da Pastoral Carcerária, Hilda.

Outras três igrejas, além da Católica, fazem o acompanhamento espiritual dos reeducandos, que somam 700 na unidade prisional. “Se entre 50 que atendermos, dois puderem sair melhores por causa de nosso trabalho, já é uma satisfação imensa. A Igreja, a Pastoral, não estão lá para condená-los, mas para trabalhar com eles e ouvi-los. Muitos não têm visita de familiares, então, o único dia que eles têm para conversar é no dia da visita dos agentes. Nunca senti medo. A presença de Deus é o que mais sinto lá dentro. Temos outra agente que fala a mesma coisa. Somos muito bem recebidos, tanto pela direção, quanto pelos reeducandos. Eles estão amando o trabalho da Pastoral Carcerária. Muitos que já cumpriram suas penas e nos reconhecem na rua, agradecem”, afirma Hilda.

A Diretora da Penitenciária Sul, Maira Montegutti, acredita que a religião tem um papel importante na vida dos apenados. “Quando as pessoas estão encarceradas, a religião é mais necessária, ainda, para ajudar a enfrentar o momento. Quando o reeducando está aqui, precisa ter esperança, alento espiritual, com a consciência de que esse momento irá passar e de que ele precisa, apesar do erro cometido, ser uma pessoa diferente, uma pessoa melhor, e a religião vai ajudá-lo a enfrentar isso. Eles mesmos perguntam quando haverá missa, pois estão gostando muito. Os padres e a própria Pastoral têm aconselhado, conversado sobre as famílias deles, sobre eles, o momento que vivem, por isso é importante eles pedirem para entrar em contato com a Palavra. Eles nos pediram bíblias. A Pastoral trouxe e nós também havíamos aqui. Distribuímos e isso ajuda muito no andamento da unidade, pois melhora o comportamento”, salienta Maira.

Pastoral Carcerária: mais do que chocolates, presença de Cristo no cárcere

Foto: Bibiana Pignatel / Comunicação Diocese de Criciúma

Uma oportunidade para conhecer Deus

A diretora também vê a presença da Igreja como oportunidade propícia à evangelização. “Tem muita gente que estava na rua e nunca conheceu Deus, nunca conheceu uma religião e é uma chance que se tem, dentro do cárcere, de apresentar Deus pra essa pessoa, apresentar uma religião, independente de qual seja e, quem sabe, daquele momento em diante, começar a viver uma vida em comunhão com Deus. Cada vez mais cresce o número de reclusos que pedem para participar das missas, animadas com violão, isso traz estímulo a eles. A presença do bispo ou padre traz paz para dentro da unidade e o trabalho da Pastoral Carcerária, desde que eu trabalho no cárcere, é muito bem-vindo. Esperamos aumentar os números de missas e, no ano que vem, construir uma sala multiuso para contemplar o maior número de detentos e ser usada por todas as religiões”, planeja a diretora.

Entre os padres que mais acompanham o grupo da Penitenciária Sul estão o assessor diocesano, padre José Aires Pereira, e o padre Orlando Cechinel. “A Pastoral Carcerária é uma experiência bonita e é importante a Igreja estar presente no meio desse povo. Eu tenho celebrado algumas missas e se atinge, por vez, cerca de 30 pessoas. O pouco que se faz tem validade, pois a gente nota que os presos que vão à celebração têm consciência, cantam, são participativos, embora de outras religiões também. Um número pequeno vai à comunhão, mas acompanham direitinho. A direção nos acolhe muito bem. É um trabalho de formiga, aos pouquinhos. Uma experiência para eles e para nós também”, relata padre Orlando.

O gerente de Educação da Penitenciária Sul, Max Mello, também destaca o papel exercido por padre Orlando, em sua fala aos reeducandos. “Ele sempre diz: ‘Eu não vim aqui só para rezar para vocês, eu vim aqui dizer que Deus está com vocês. A gente está aqui para dar força, para dizer que vai passar’. É bem significativo, eles gostam bastante. É simples, mas com uma riqueza muito grande de palavra, de presença, de bênção, de partilha, porque sempre trazem um pão ou algo para partilhar. É emocionante pra gente que acompanha esse trabalho. Uma das coisas que eles mais gostam é a música. Sempre que vamos para a missa levamos as folhinhas de canto. Na última vez, o pessoal que anima não veio devido a outra atividade e eles mesmos cantaram, foi muito legal. Eles gostam , sempre ficam comentando e pedindo quando será a próxima”, relata Mello.

A diretora Maira reafirma que as visitas aos reeducandos são importantes, especialmente através das celebrações em datas comemorativas. “Essas visitas, com uma simples entrega de pacote de chocolates, significam muito para eles. No Dia dos Pais, tem muita gente que tem filho e não vê, e a única visita é da pastoral. É possível ver, no rosto da pessoa, quando da entrega, a felicidade estampada no rosto”, conta a diretora.

“No Natal passado, a Pastoral Carcerária fez a entrega de bombons para todos os reeducandos da unidade, sem exceção, e foi muito significativo para eles, pois lembraram isso e comentaram a semana toda, agradecendo e mandando abraços para o pessoal da Pastoral e para o Padre”, acrescenta Max Mello.

Reclusos reconhecem a presença da Igreja

Para o reeducando Antônio (nome fictício), 61 anos, o acompanhamento da Pastoral Carcerária devolve um pouco da dignidade que havia do outro lado das grades. “Todos nós precisamos da presença de alguém que nos traga paz, que nos traga liberdade, que nos traga a Palavra e que nos traga o que existiu antes – o que a gente acreditava no que Jesus fez. Trazendo pra gente essa ideia é bom demais, eu acho ótimo”, declara.

Assim também é com José (nome fictício), 62 anos, que exercia atividades na Igreja antes do cárcere. “Eu fui uma pessoa que sempre trabalhei na Igreja, desde novinho, em várias pastorais, até que cai no erro e agora tenho que pagar. Eu fiquei muito tempo sem saber que a Pastoral vinha aqui e depois que comecei a participar minha vida renovou, mudou, gosto de fazer leitura, como sempre fiz em minha paróquia. A vida da gente mudou um pouco pra melhor aqui dentro. A gente se sente mais valorizado”, relata.

Celebrações ocorrem de forma atípica a outras unidades prisionais

Segundo a diretora da Penitenciária, participam da celebração os internos que tem bom comportamento ou que estão em regime mais brando. “A gente procura contemplar todo mundo, desde quem entrou agora, para cumprir uma pena de dez, quinze anos quanto aquele que está saindo do cárcere, que precisa bastante, mesmo”.

O gerente Max acrescenta que as celebrações ocorrem de forma atípica em comparação a outras unidades prisionais. “Noutras unidades se faz a celebração em cima ou na rua e aqui não: a gente põe os reeducandos com o padre, com a pastoral, conosco, todos no mesmo espaço. A gente entra, fecha a porta e ficamos todos ali, sem algemas, sem marca-passo, sem nada. Já fizemos no pátio, na sala de aula. Agora o pessoal do semiaberto, que trabalha externamente, reclamou que não era contemplado e nós contemplamos eles também fizemos com eles, na sala de aula. Já celebramos muitas missas aqui dentro, com pessoas de todas as galerias, só não conseguimos ainda chegar a todos os reeducandos, mas estamos estudando uma forma para, no ano que vem, chegar a todos eles”, garante.

“Partindo do pressuposto que temos que humanizar e ressocializar quem está no sistema prisional, nada mais justo que façamos uma missa como é feita fora daqui, porque se estamos preparando o cidadão para voltar para o mundo, é preciso que ele, aqui dentro, comece a se comportar como se já estivesse lá fora”, explica Maira.

Pastoral Carcerária: mais do que chocolates, presença de Cristo no cárcere

Foto: Bibiana Pignatel / Comunicação Diocese de Criciúma

Reeducandos têm oportunidade de estudar e trabalhar

Além do atendimento espiritual, a direção da Penitenciária Sul preocupa-se também em oferecer trabalho e educação aos detentos. Conforme Mello, 60% dos reeducandos da unidade estão envolvidos em atividades laborais, na montagem de esquadrias e janelas de alumínio, chuveiros e torneiras elétricas e na mistura de tintas. Além disso, 100 deles estão cursando o Ensino Fundamental dentro da unidade, com expectativa de aumento de mais 150 vagas, sem contar o projeto de remissão por leitura, que abrange 140 deles, abatendo quatro dias na pena na leitura de cada livro lido. “Eles entram na sala, ficam com o professor sem algemas; no trabalho, também, utilizam vários objetos e ferramentas, tranquilamente”, destaca o gerente de educação.

Maira e Mello buscam oportunidade para que os reclusos possam obter certificação profissional com os conhecimentos adquiridos nas atividades exercidas na prisão, junto ao Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). “Nossa ideia é que eles saiam daqui tendo como buscar uma oportunidade, se reinserir no mercado de trabalho e na sociedade. Nenhum preso sai daqui sem auxílio. Sempre entramos em contato com a família, para saber se têm ou não, condições de buscá-lo. Caso não consigam ou morem longe, viabilizamos passagens ou pouso em alguma casa de acolhimento. Sempre buscamos condições para que possam retornar as suas famílias, e recomeçar a sua vida de forma diferente, melhor”, afirma Mello.

Fé aliada às boas obras

“A Pastoral Carcerária, além de fazer essa parte religiosa, ela faz gestos concretos aqui na unidade, ajudando na arrecadação de roupas, livros e material escolar. Todo o material escolar do primeiro semestre deste ano letivo foi a Pastoral que conseguiu, tanto para a Penitenciária Sul, quanto para o Presídio Santa Augusta. Muitos reeducandos, quando liberados para saída temporária ou após cumprimento de pena, e que não têm roupas, a gente conversa com a Pastoral e ela sempre providencia algo, nos ajuda bastante”, acrescenta o gerente.

Colaboração: Bibiana Pignatel / Comunicação Diocese de Criciúma

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