Segurança

Preço da carne pode estar por trás do aumento nos casos de furto de gado em SC

Consumo de carne deve ser o menor nos últimos 27 anos. Ações sociais tentam garantir o minímo de proteína na mesa das pessoas

dIVULGAÇÃO

Pandemia, queda na renda e aumento dos preços podem ter se tornado uma combinação para explicar o crescimento no número de casos de furto de gado em Blumenau e cidades vizinhas. Antes tido como um crime incomum na região, o chamado abigeato passou a se tornar mais recorrente no Médio Vale do Itajaí nos últimos dois anos, mas principalmente em outubro e novembro passados. Com mais pessoas vivendo em situação de pobreza, esse pode ser o retrato da fome, aponta a polícia.

Dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública mostram que de janeiro a novembro de 2019 apenas dois casos de furto de gado chegaram ao conhecimento da polícia na região. No ano seguinte, com a realidade da Covid-19 e aumento do desemprego, esse número subiu para 10. Agora, apenas até o dia 18 do mês passado, no auge da alta do preço da carne, o total de registros chegou a 14. Metade desses somente num intervalo de 48 dias entre outubro e novembro.

Na última semana os casos continuaram a se repetir. Foram dois somente na segunda-feira (6), nas cidades de Rodeio e Indaial. Isso eleva a quantidade de furtos de animais para 16 durante este ano na região.

O delegado regional da Polícia Civil em Blumenau conta que esse tipo de crime é mais comum em regiões onde a produção de animais é mais forte, o que não é o caso do Médio Vale do Itajaí. O que se tem visto em Blumenau, Indaial, Gaspar, Pomerode, Rodeio e Rio dos Cedros – municípios em que os crimes ocorreram nos últimos dois meses – é o furto isolado de apenas um ou dois animais, frequentemente carneados ainda na propriedade onde eram criados. Nesses casos, os ladrões deixam as carcaças para trás.

— Pode ser um reflexo do preço que está a carne, aliado a uma região que tem ampla extensão rural, com pouco movimento de pessoas, locais ermos e baixo policiamento, o que facilita a ação furtiva. É uma explicação plausível — pontua o delegado regional Rodrigo Marchetti.

O crescimento do número de pessoas em situação de pobreza pode explicar, mas não justifica os atos. Furto é crime, com pena de dois a cinco anos de prisão. São casos registrados geralmente à noite, em áreas mais isoladas, o que dificuldade chegar aos autores. A Polícia Civil garante que apura os episódios para saber se o destino final dessa carne é a mesa de quem furta ou se está sendo revendendo a quem não tem condições de pagar o preço praticado nos açougues.

Segundo os dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a carne vermelha acumula alta de 30,7% em 12 meses. Na capital de Santa Catarina, por exemplo, se chegou a ver placa em um açougue destacando que osso de boi não era doado e sim vendido a R$ 4 o quilo.

Sem dinheiro, a população deixou de consumir o alimento. A prova disso está numa projeção da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento): o consumo de carne vai cair quase 14% neste ano, se comparado a 2019, antes da pandemia.

Realidade cruel

Dados de julho deste ano do Ministério da Cidadania apontam 355,6 mil pessoas vivendo em situação de extrema pobreza em Santa Catarina. É um número 17,8% maior do que havia em março de 2020, no início da pandemia. São cidadãos sobrevivendo com R$ 89 por mês ou R$ 3 por dia num cenário de inflação alta, onde não foi apenas o valor da carne que subiu, mas também o do gás de cozinha… Do arroz… Do feijão.

Se a realidade dos números por si só não impacta, é impossível não se comover com a realidade vista de perto por Márgara Hadlich, uma voluntária de Blumenau que mobiliza doadores garantir comida na mesa dos mais necessitados. Há uma década ela largou a carreira de atriz para ajudar o próximo e o que vê hoje é o prior cenário desde 2011.

Atualmente ela tem cerca de 8,5 mil famílias cadastradas, que ajuda com comida, produtos de higiene, limpeza, roupas e praticamente tudo o que as pessoas precisarem. Para isso, conta com uma corrente de doadores e também tira do próprio bolso. Não são poucos os relatos de fome. Há quem não tem simplesmente nada para colocar na mesa e que carne é arigo de luxo.

— As pessoas não comem carne. Comem os ovos que dou aqui. Eu dou duas ou três dúzias dependendo o tamanho da família e peixe em lata, que é o que ganho. Isso já acontecia antes, mas depois da Covid aumentou muito. Aí eles caçam no mato e comem. É uma realidade recorrente aqui — conta Márgara.

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