Segurança

SC tem uma mulher assassinada a cada 4 dias em janeiro

Desde 2015, este foi o começo de ano com o maior número de vítimas de feminicídio no Estado, de acordo com dados da SSP

Giroflex PM foto noturna

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Jovem, carinhosa e marcante. Essas são só algumas das dezenas de qualidades dadas a Indira Mihara Felski Krieger, de 35 anos. Uma mulher cheia de sonhos, mas que os teve interrompidos quando foi morta pelo namorado há um mês. Ela é uma das oito vítimas de feminicídio em Santa Catarina em janeiro, considerado o início de ano mais “letal” para mulheres no Estado desde 2015. É como se, a cada quatro dias, uma mulher fosse assassinada no último mês.

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP), ao qual o Diário Catarinense teve acesso via Lei de Acesso a Informação, o último mês teve o maior registro de mortes de mulheres no início de um ano desde que a qualificadora do feminicídio foi criada, em 2015. Antes disso, os maiores índices para o mês foram nos anos de 2015 e 2019, quando eram seis vítimas.

Além disso, ao comparar o mesmo período em relação ao ano passado, houve um crescimento de 300%: passou de 2 casos para 8.

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Os crimes ocorreram em oito cidades diferentes, sendo que três delas ficam no Oeste de Santa Catarina. Também foram registrados dois casos no Sul, um na Grande Florianópolis, um na região Norte e outro no Litoral Norte.

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Para a coordenadora das Delegacias de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (Dpcami) de Santa Catarina, Patrícia Zimmermann D’Ávila, a subnotificação dos casos de violência contra a mulher pode ser o fator que contribuiu para o aumento nos números.

— As mulheres vêm sofrendo violência e algumas não denunciam seus agressores por medo ou dependência. Isso faz com que a denúncia não exista e, com isso, ocorra o agravamento, que faz ela perder a vida — salienta.

Patrícia complementa, ainda, que a importância da denúncia fica ainda mais evidente ao comparar a situação de Santa Catarina no último ano. Apesar de 2021 apresentar uma pequena queda no número de vítimas em relação a 2020 – 55 e 57 respectivamente -, houve um crescimento nos casos de violência doméstica e familiar.

— Isso mostra que quando a vítima percebe a situação de violência, notifica antes, a polícia oferece todas as medidas de intervenção e essa violência não vira o feminicídio — explica.

“Ele não fez uma vítima. Ele vitimou uma família inteira”

A lembrança daquele rosto de criança é o que mais vem a mente de Ceres Felski. A irmã dela, Indira Mihara Feslky Krieger, foi morta asfixiada no apartamento onde morava em Itajaí, no Litoral Norte de Santa Catarina, no dia 8 de janeiro. O namorado dela e principal suspeito pelo crime segue preso temporariamente.

— Eu sempre vejo, agora, aquele rostinho de criança que cresceu lá em casa. Ela [Indira] era extremamente estudiosa, com notas boas, e muito carinhosa com a minha filha, que não se conforma até hoje. É absurdo demais imaginar que isso aconteceu com uma pessoa que só fazia o bem — relembra a irmã.

Um mês após encontrar Indira morta, Ceres conta que a dor da perda continua a mesma. O último contato da servidora da Justiça de Itajaí com a família ocorreu na noite do dia 7 de janeiro. No grupo, que tinha com as irmãs em um aplicativo de mensagem, ela enviou uma espécie de piada:

— Depois foi só ao encontrar o corpo — diz Ceres com a voz embargada. A família descobriu a jovem morta após ela não aparecer para um encontro que teria com outra irmã naquele sábado.

— Eu e minha outra irmã somos médicas. Antes de abrir o apartamento, tudo que eu imaginara era ‘vou abrir e encontrar minha irmã amarrada’, ou alguma coisa assim para que pudesse fazer alguma coisa. Nós entramos e encontramos o corpo dela — relembra.

Ceres conta, ainda, que Indira nunca tinha falado sobre brigas com o atual namorado e que, de vez em quando, a família, inclusive, recebia imagens dos dois saindo juntos ou passeando. Ela, que já trabalhou em um programa que atendia mulheres em situação de violência doméstica, diz que nunca imaginou que isso fosse acontecer com a irmã mais nova.

— Eu atendia direto vítima de violência, hoje eu que sou atendida. Ai tu fica pensando: onde foi que eu errei? Qual foi o sinal que eu não vi? Mas é aquela coisa, você tenta proteger a privacidade das pessoas — enfatiza.

O namorado de Indira foi preso dois dias após o crime, em 10 de janeiro. Segundo o delegado Eduardo Ferraz, ele permaneceu em silêncio durante o interrogatório. Agora, o que a família busca é justiça:

— Nunca mais vai ficar tudo bem. Ele não fez uma vítima. Ele vitimou uma família inteira. Tudo que a gente quer é justiça. Todos os dias eu converso com ela e prometi que não ia deixar calerem a voz dela. Essa é a forma de pagar essa promessa: que seja feita a justiça e ele pague o que ele cometeu.

Pedir ajuda é a melhor solução

A violência contra a mulher e o feminicídio são algo que estão longe de serem totalmente erradicados na sociedade, principalmente pelo machismo que continua enraizado nas famílias, como destaca a coordenadora das Dpcamis de Santa Catarina, Patrícia Zimmermman.

— Nós somos educadas para ser uma boa esposa, sempre com a responsabilidade de cuidar do lar. Com isso, está enraizada a ideia de que ela [a vítima] pode mudar o companheiro e o que acaba que muitas pagam com a própria vida — diz.

Tudo isso ainda contribui para a perpetuação do ciclo da violência: o aumento da tensão, a explosão, as agressões físicas e a fase conhecida como “lua de mel”, onde o agressor se mostra arrependido, antes de uma nova briga. De acordo com a delegada, isso também contribui para as subnotificações, já que, em alguns casos, a mulher nem chega a registrar o boletim de ocorrência.

Por isso, além de pedir ajuda, a educação também é fundamental para diminuir os números no Estado.

— Nós temos que ensinar nossos meninos a não ser violentos e as meninas que, se caírem em um relacionamento abuso, saiam enquanto é tempo. Se não der certo, não se submeta, peça ajuda — pontua.

Se você conhece alguém ou sofre de violência doméstica, denuncie por meio do 190 da Polícia Militar ou pelo disque denúncia 191 da Polícia Civil. A pessoa também pode pedir ajuda por meio do whatsapp (48) 98844-0011, da Polícia Civil.

Com informações do NSCTotal 

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