Segurança

Tragédia em família: filho de procurador é preso por tráfico

Ação da polícia prendeu dois jovens com 190 gramas de crack e 55 gramas de maconha

A droga, que chegou a ser relacionada apenas à pobreza, atinge atualmente famílias bem estruturadas, com afeto e boa educação, independentemente de posição social. Ontem, dois jovens foram presos pela Polícia Militar de Tubarão com 190 gramas de crack e 55 gramas de maconha. Um deles é filho do procurador da República Celso Antônio Três.

As prisões ocorreram durante a madrugada. Por volta de 1h10, integrantes de duas equipes do Pelotão de Patrulhamento Tático (PPT) estavam em rondas pelo bairro Campestre, área conhecida pelo tráfico coordenado pelos Gaioleiros, quando observaram um motociclista em atitude suspeita.

Conforme matéria publicada pelo Diário do Sul, o jovem de 20 anos foi abordado e, com ele, nada foi encontrado. “Neste momento, outro rapaz, de 22 anos, abriu a porta da residência onde o motociclista estava entrando e também realizamos a revista. Dentro do imóvel, embaixo do guarda-roupas, estavam 362 pequenas pedras de crack, outras nove maiores e 55 gramas de maconha, além de uma balança de precisão e R$ 121”, relata um policial militar.

Ao checar a identidade dos suspeitos, os policiais se surpreenderam ao descobrir que o mais velho era filho do procurador, que já atuou em Tubarão e é conhecido como um ferrenho protetor da moralidade pública. Ambos os jovens foram encaminhados para a Central de Plantão Policial (CPP), autuados e encaminhados no mesmo dia para o Presídio Regional de Tubarão.

“Foi uma decepção indescritível”

Em oito anos à frente do Ministério Público Federal em Tubarão, Celso Três atuou em ações relacionadas ao bem-estar coletivo, fiscalizando, principalmente, a duplicação da BR-101 e o poder público. Em Novo Hamburgo (RS), onde permanece há pouco mais de um ano, ele recebeu a informação sobre a prisão do filho e revelou à equipe do DS ter sentido uma decepção indescritível.

“Tenho quatro filhos que foram adotados desde pequenos no Paraná e este é um deles. Eu conhecia todas as autoridades policiais de Tubarão e sabia o que estava acontecendo. Sempre fui da opinião de que tem que prender e fazer o que tem que ser feito. Tive uma decepção muito grande, ainda mais porque um dos meus papéis é colocar traficantes na cadeia”, lamenta o procurador, por telefone.

De uma família de agricultores, Celso estudou Direito e se tornou especialista em fazer concursos públicos. Há 16 anos, chegou ao cargo de procurador da República e já atuou em Santa Catarina, Paraná e no Rio Grande do Sul. “Vim de família humilde, trabalhei, me virei. Com a adoção, ele teve toda a oportunidade, mas acabou degringolando nas drogas. Por ser adotado, a dor é ainda maior”, se emociona o procurador.

Sobre o futuro do filho adotivo, Celso afirma que poderá arcar com as despesas de um advogado para defendê-lo, desde que aceite algumas exigências. “Vou contatar um advogado e pedir que vá falar com ele. Mas só irei pagar os custos se ele aceitar, caso receba o benefício de aguardar julgamento em liberdade, ir direto para uma clínica de tratamento”, impõe.

Família descobriu vício do jovem há quatro anos

A família do procurador da República Celso Três, assim como qualquer outra que se depara com um usuário de drogas dentro de casa, vinha sofrendo há aproximadamente quatro anos com o vício do jovem. Apesar da estrutura disponibilizada e do apoio, não foi possível afastá-lo da criminalidade.

Em uma conversa franca e em tom de desabafo, o procurador contou sobre a descoberta. “Ele começou se viciando em maconha e depois não parou mais. Chegamos a interná-lo em uma ótima comunidade terapêutica em Araranguá e surtiu efeito por algum tempo. Em Tubarão, ele chegou até a começar a trabalhar no comércio”, relembra.

Em abril do ano passado, o procurador foi transferido para Nova Hamburgo (RS) e seguiu com o filho para o Estado vizinho. “Chegamos a montar uma lavação para ele e o irmão, mas não deu muito certo. Pouco tempo depois, ele resolveu voltar para Tubarão e, então, a situação piorou bastante”, revela Celso.