Economia

Turismo perde força nesta temporada

Litoral sul prepara-se para uma temporada sem acréscimo na economia. O motivo é o controle rígido do mercado de câmbio argentino

As recentes medidas de controle do câmbio tomadas pelo governo da presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, deve reforçar a tendência que surgiu após a crise de 2001 no país vizinho: a perda da força do turismo no litoral catarinense. A estimativa é de que o estado receba menos visitantes ‘hermanos’ este ano.

Os controles do mercado de câmbio argentino são condicionados a compra e a venda de dólares à comprovação do destino, data e motivo da viagem. Recentemente, as medidas chegaram aos cartões de crédito: a Administração Federal de Rendas Públicas (Afip) fiscalizará a remessa que a operadora tem de fazer para pagar os consumos feitos fora do país.

Entidades empresariais de Laguna, Imbituba e Garopaba mobilizam-se no sentido de criar ações para que a região não credite um déficit na economia. Os empreendedores trabalham com a perspectiva de manter a mesma quantidade de turistas que visitaram as praias no ano passado.

Conforme o economista da Federação do Comércio de Santa Catarina (Fecomércio), Maurício Mulinari, o aperto cambial afeta menos as classes mais altas. Isso significa que a vinda de turistas em potencial, de classes mais baixas, terá o maior reflexo negativo.

Para tentar amenizar o impacto da medida, o empresário Márcio Medeiros, da área de turismo da Associação Empresarial de Laguna (Acil), está na Argentina em reunião com autoridades.

Para o presidente da entidade, Samir Ahmad, a tentativa de sensibilização do governo argentino pode trazer bons resultados para a região e para a classe empresarial. “É muita burocracia. A Argentina controla cada passo de seu cidadão aqui no Brasil. Isso é ruim porque diminui a nossa margem de lucro”, reclama Samir.

A melhor saída é abrir mão de parte do lucro

As praias da região mais visitadas por turistas estrangeiros, Laguna, Imbituba e Garopaba recebem uma grande quantidade de turistas todos os anos. Os argentinos são a maioria. Em números gerais, só perdem em número para os gaúchos.

Com a medida tomada pelo governo da Argentina, em controlar rigidamente o mercado de câmbio, a tendência é que os turistas do país vizinho venham em menor número à região.

O presidente da Associação Empresarial de Imbituba (Acim), Adilson Silvestre, confirma que o setor já sente os reflexos. “A medida afeta bastante o turismo, cuja movimentação é morna nos últimos anos, na região. Esta medida vai frear ainda mais o potencial econômico e turístico da cidade”, avalia o empresário.

A reserva de hotéis e pousadas, por exemplo, geralmente começa a ser feita este mês, por exemplo. Mas não é isso que se observa agora. “A procura tem sido muito baixa. Pode ser que aumente com a proximidade do verão, mas não é igual aos anos anteriores”, atesta o presidente da Associação Empresarial de Garopaba (Acig), Leoni dos Santos Pereira.

A cidade que menos sente os reflexos da medida é Laguna. Conforme o presidente da Associação Empresarial da cidade (Acil), Samir Ahmad, o município é pouco afetado porque o forte do turismo é basicamente o veranista que mora na região e vem do estado gaúcho.
“Mas isso não significa que não teremos dificuldade. A saída é abrir mão de parte do lucro para manter o nível dos anos anteriores. Já contabilizamos prejuízos e se uma atitude não for tomada, será pior do que está”, alerta.

É pouca a venda de pacotes turísticos na Argentina

O argentino Alfredo Alberto Ortiz mora em Imbituba desde 2006 e atua como empresário no setor de turismo. Natural de Córdoba, diz que lamenta a posição do governo de seu país em controlar rigidamente o mercado de câmbio.

Com clientes vindos de vários lugares da Argentina, principalmente de Rosário, Santa Fé, Buenos Aires e até sua cidade natal, ele afirma ainda não sentir os reflexos da medida por enquanto.

Mas não descarta amargar prejuízos. Segundo ele, um balanço mais preciso somente será possível após fevereiro, quando termina a alta temporada de verão.
“A informação de colegas da Argentina, que trabalham em agência de viagens, é que há muitas consultas de preço e poucas vendas. A maior preocupação é como fazer o pagamento aqui no Brasil, porque a conversão da moeda sairá muito mais cara para eles”, lamenta o empresário hermano de coração imbitubense.

Demanda interna só aumenta

Do total de turistas do litoral catarinense, somente 10% são estrangeiros. O dado é da Federação do Comércio de Santa Catarina (Fecomércio). “O carro-chefe do setor continua a ser o turismo interno, uma tendência que deve se acentuar nos próximos anos”, aponta o economista Maurício Mulinari. A expectativa é de que tanto o movimento quanto o faturamento continuem na crescente observada nos últimos anos.

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