Cultura

Após cinco anos fechado, Cine Teatro Mussi é reaberto

O imponente prédio rosa retornou as suas origens no centro histórico de Laguna. As portas foram abertas, aplausos ecoaram, cortinas vermelhas descerradas e poltronas ocupadas. O Cine Teatro Mussi voltou a integrar a programação cultural da região. Dias 11 e 12 têm festival de dança. A expectativa do público é grande para os próximos anos, com a entrega da obra de restauro na terça-feira, em solenidade com casa lotada, apresentações culturais, exibição de documentário, homenagens e a centenária banda Carlos Gomes interpretando o hino de Laguna, acompanhada pelo público. 

O prédio foi adquirido pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) em 2009, por R$ 812 mil, após quase 5 anos interditado.

A obra, iniciada em 2011, contemplou a restauração geral do edifício, incluindo equipamentos de segurança, acessibilidade, equipamentos de projeção e sonorização, além da construção de camarins, sanitários e área de suporte técnico, num investimento de R$ 6.418.115,24. 

Valor total investido pelo Governo Federal chegou a R$ 7,23 milhões. Na reinauguração foi assinada uma cessão de uso com o Sesc, que deverá administrar o espaço.

O Cine Teatro Mussi, projetado pelo arquiteto suíço Wolfang Ludwing Rau, a pedido do João Mussi, começou a ser construído em 4 de abril de 1947. A inauguração aconteceu em 17 de dezembro de 1950, com a exibição do filme “A Valsa do Imperador”. No palco, além de cantores e cantoras, também apresentações teatrais, formaturas, desfiles, concursos de calouros. A companhia de teatro Procópio Ferreira esteve na cidade com casa lotada todos os dias.

Nova estrutura 

No primeiro momento, os filmes que serão exibidos integram o Circuito Cultural do Sesc e também do Iphan, a partir do próximo ano.  O prédio comporta 500 pessoas. Na frente do palco de 11 metros de largura, 10 de profundidade e 1,30 metros de altura, foram colocadas poltronas móveis. O intuito foi disponibilizar mais espaço conforme a apresentação. Novos bancos estofados, modernos e numerados também integram o espaço. Algumas antigas poltronas estão na parte superior, espaço destinado a exposições.  Na noite de estreia, os antigos cartazes dos filmes, conservados pela corretora de imóveis, Teca Araújo.

Histórias para não esquecer

O projecionista Ornis Pavanatti estava emocionado. Quando viu seu rosto estampado na tela, espaço antes ocupado pelas imagens dos galãs de hollywoodiano, não conteve as lágrimas. O documentário A Vida do Cine Mussi, produzido pelo Iphan, foi apresentando e ovacionado pela plateia, muitos frequentadores do lugar, nas décadas de 50, 60, 70, 80 e 90. Passaram na tela Otto Siqueira, administrador já falecido; antigo proprietário Carlos Mussi; cinéfilo Carlos Horn; frequentadores como Lenira Amboni, Salete Remor, Munir Soares entre outros. Agora, documentário vai participar de festivais em todo o Brasil e levar a história da cidade.

Os antigos funcionários não foram esquecidos e levaram para casa uma placa de agradecimento, no momento da entrega passava o primeiro filme “A Valsa do Imperador” para nostalgia dos espectadores. O filho do arquiteto Wolfang Ludwing Rau participou das homenagens. 

Em seguida, dupla de dançarinos da Udesc apresentou uma coreografia contemporânea. 

Namoro nas poltronas 

Na década de 50, namorar no cinema significa pegar na mão do parceiro e nada mais. “Não era comum fazer isso na rua, então vinhamos para o Cine Mussi namorar”, brinca a aposentada Vitória Maria Calazans, 61 anos. Os supostos namorados esperavam as luzes de apagarem e corriam na escuridão para ficar ao lado da amada, no lugar antes reservado por elas. Os dois, hoje companheiros, voltaram décadas atrás sentados nas poltronas de mãos dadas. 

O público que lotou o Cine Teatro Mussi se dividiu em aqueles que o conheceram antes da revitalização, e os futuros espectadores.  Lucas Andrade, 10 anos, foi a primeira vez que entrou num teatro e ficou admirado. “É grande e tem bastante lâmpadas”, disse o pequeno observador. 

Parceria 

O prefeito Everaldo dos Santos agradeceu a parceria com o Governo Federal pela obra de restauro do prédio. “É um dia de muito emoção. Laguna vive um grande momento. A auto-estima do lagunense melhorou”, salientou Santos. 

Em seu pronunciamento, o prefeito ressaltou o Pac das Cidades Históricas que irá revolucionar o centro histórico. A primeira obra será da requalificação da rua Raulino Horn, orçada em R$ 8 milhões. Laguna é uma das cidades contempladas pelo Pac Cidades Históricas, com investimentos em nove projetos somados chegam a  R$ 18,8 milhões.

Programação cultural 

Segundo o presidente do Fecomercio de Santa Catarina, Bruno Breithaupt, Laguna a partir do próximo ano, irá desfrutar de “uma excelente programação cultural”. O Sesc promove uma variedade de programação desde teatro, dança, cinema e literatura. Grande maioria gratuita. No palco do Cine Mussi deverão passar grande espetáculos, devido a nova estrutura. O Sesc ao longo do próximo ano irá divulgar a programação. 

Patrimônio histórico

“O que o patrimônio pretende de formar geral é tornar a pessoa mais protagonista, mais ator do seu cotidiano, do destino da sua cidade”, disse Jurema de Souza, presidente nacional do Iphan. Ela lembrou que no próximo ano, o Instituto deverá comemorar os 30 anos do título do patrimônio histórico nacional de Laguna. “Hoje é dia de colher frutos”, disse ela em relação ao restauro do prédio histórico.

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