Segurança

Áudio: Ordem para atentados partiu de unidade de segurança máxima

Foto: Arquivo/James Tavares - Secom

Foto: Arquivo/James Tavares – Secom

Uma gravação, assinada pelo Primeiro Grupo Catarinense (PGC), revela a origem da ordem de ataques e a fragilidade financeira atual da facção criminosa do estado. Desde sexta-feira, foram mais de 50 atentados registrados no estado. Na noite de ontem, um ônibus foi incendiado no Balneário Rincão, assim como um veículo em situação de abandono. Em Criciúma, a morte do ex-agente penitenciário do Presídio Santa Augusta, Luiz Carlos Dall´Agnol, de 60 anos, na noite de segunda-feira, e o arremesso de um coquetel molotov a um ônibus escolar que estava estacionado no Bairro Maria Céu, também na noite de ontem, são investigados se possuem relação com as ocorrências do crime organizado.

O áudio, de mais de 12 minutos, segundo o delegado Procópio Silveira Neto, titular da Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Draco) da Diretoria Estadual de Investigações Criminaia (Deic), foi gravado na Penitenciária de São Pedro de Alcântara, no dia 10 de setembro, 16 dias antes do início da onda de atentados, e possivelmente chegou às ruas por um chip, transportado, ou por um familiar, ou mesmo por um advogado. A autoridade policial revela que a ordem para os ataques foi decretada por membros do Primeiro Ministério do PGC, que estão na Penitenciária Federal de Mossoró (RN), desde fevereiro do ano passado. “Mesmo sendo de segurança máxima, não há como evitar que uma ordem seja dada verbalmente através de uma visita. Isso é impossível de evitar”, diz a autoridade policial.

A gravação, repassada à reportagem por um servidor da segurança pública, ainda revela a dificuldade financeira da facção criminosa responsável pela onda de ataques no estado. A voz do detento que narra o áudio se identifica como sendo da torre do PGC de SPA (São Pedro de Alcântara, penitenciária da Grande Florianópolis), e que a mensagem foi criada por membros do Primeiro (que estão na unidade de segurança máxima), e do Segundo Ministério da facção.

O detento inicia a mensagem passando o “salve geral obrigatório aos irmãos que estão no mundão”.

Orientações são listadas

Ele ainda lista algumas orientações, como: contatos dos disciplinas gerais de cada cidade do estado para “facilitar a sintonia e a organização entre torre e mundão”, para seguir a cartilha da facção atualizada em 2014 que segue em anexo com o “salve geral” elaborada pelo “cérebro da torre”, a produção de um relatório sobre cada atividade que os membros estão exercendo em suas cidades, entre outras orientações, dentre elas, principalmente a obtenção de recursos para manter e fortalecer a facção criminosa.

“Temos que reverter as situações, colocar um basta nessa pobreza e crescer financeiramente (…) focar nessa força maior que temos no estado, que é o trafico. Nosso estado é rico, mas nossa nação está pobre financeiramente”, pronuncia. Ele solicita aos traficantes “associados ao grupo” que doem pelo menos, um dia da semana de “venda” no mínimo à facção, e aos que não tiveram pontos de drogas que vendam de 50 a 100 gramas para “apoiar o PGC”. Ele ainda cita que os problemas financeiros se dão por falta de entendimento ou falta de interesse de alguns “irmãos”.

Conforme o site Clicatribuna, no áudio, o detento fala sobre as condições no sistema prisional e chega a mencionar a Penitenciária Sul, em Criciúma. O Departamento de Administração Prisional (Deap) já emitiu nota à imprensa contestando as supostas denúncias e elencando as melhorias nas unidades prisionais já realizadas, que tem como foco atendimento humanizado com base no trabalho. Sobre a Penitenciária Sul, a segurança e a disciplina, consideradas modelos no estado, incomodam a parte mal intencionado da massa carcerária.

Investimento em armas, drogas e “liberdade

O "mensageiro" também alega a necessidade de assistência jurídica para os “irmãos condenados pelas ações, em 2012 e 2013”. “Tem 22 irmãos na Penitenciária Federal de Mossoró e não tivemos condições de dar apoio por falta de organização na rua, como pagamento de dízimo (…) Somos uma família e nosso pai é a rua. E é da rua onde vem o pão de cada dia. Metade do dízimo fica dentro da cidade para investir em armas, drogas e liberdade, sendo os outros cinquenta por cento pro caixa geral para fortalecer as quebradas (…) essas ideias devem ser interpretadas como um salve geral, com base no estatuto e cartilha”.

Ele ainda encerra a mensagem “deixando todos os irmãos cientes que estaremos chegando nos irmãos do Primeiro Ministério da Sul oficializando e levando essas ideia para uma oficialização total”. O detento ainda pede o retorno do relatório de trabalho nas ruas à torre SPA.

Obs: O final da mensagem, em que 11 detentos, um deles do Primeiro Ministério do PGC e o restante como sendo do Segundo Ministério, se identificam com seus respectivos apelidos, foi retirado para não atrapalhar o trabalho de investigação realizado pela cúpula de segurança. Eles já foram identificados e deverão também ser transferidos para unidades de segurança máxima.