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Detentos dizem não ao crime, e sim a fé

Foto: Lucas Colombo/Clicatribuna

Foto: Lucas Colombo/Clicatribuna

O pátio de sol da maior unidade carcerária da região foi transformado em templo na tarde de ontem (24). Cinquenta e dois detentos da Penitenciária Sul foram batizados nas águas em cerimônia realizada pelas igrejas, o Caminho de Deus e Pentecostal Deus é Amor. Conforme reportagem do Portal Clicatribuna, essa foi a primeira vez que a Penitenciária Sul, instalada desde 2007 no Bairro Vila Maria, em Criciúma, recebeu essa diferente atividade religiosa, que tem como objetivo ressaltar a fé, para que quando esses homens ganhem a liberdade, que optem pelo caminho do bem.

Segundo o apóstolo, José Carlos, que há dez anos realiza o trabalho religioso nas unidades prisionais da região, como também o Presídio Santa Augusta e o Presídio Regional de Araranguá, a maior carência de um detento é a espiritual, seguida, da familiar. “Tem alguns que perdem a credibilidade até com a própria família, que não acredita mais nele. Por isso o nosso trabalho é feito com quem mais precisa de assistência. O remédio é dado para quem está doente. Muitos deles até já tiveram contato com a religião, são filhos de pastores, por exemplo, mas se perderam no caminho e foram para o lado errado. O importante é que eles querem e precisam de uma nova chance para se reintegrar a sociedade e fazer uma nova história”, relata o apóstolo da Igreja Deus é o Caminho.

Evangelização uma vez por semana

A evangelização nas unidades prisionais é feita uma vez por semana. O grupo religioso passa por cada galeria e indaga quem tem interesse em participar das atividades. “Se de um grupo de 100, conseguimos mudar a vida de um, para nós é muito, pois o bem mais precioso é a vida. Hoje tenho contato com aqueles que já foram do sistema e que frequentam a igreja, ou seja, optaram pelo caminho do bem graças à aceitação da palavra. Para nós é muito gratificante, não tem preço”, ressalta.

Cumprimento da pena mais humano

O trabalho religioso é realizado com apoio de mais sete integrantes das igrejas, entre eles o pastor Emerson Frasson, da igreja Pentecostal Deus é Amor. “Viemos trazer luz para a vida desses homens. Queremos mostrar, acima de tudo, que qualquer um pode mudar e seguir o caminho correto, e nada mais eficiente do que a palavra de Jesus para dar o primeiro e grande passo para essa mudança. Pretendemos atingir mais pessoas que precisem de salvação. Para os que tão do lado de fora, que a mensagem se faça presente, e que essa ação se torne exemplo. Pois até os que estão dentro de uma penitenciária estão buscando o caminho da fé, e quem está nas ruas também pode e deve buscar o correto caminho. Porque o caminho do mau, do crime, ou é cadeia ou cemitério”, pronuncia.

Palavra de Deus levada pela oração

Antes do batismo nas águas, os reeducandos fizeram orações e ouviram as palavras dos religiosos. “Para limpar a alma para a entrada de uma nova vida”, acrescenta o pastor Everton. Após o batismo, marcada por bastante emoção, os detentos receberam o certificado. “Deixamos bem claro que eles podem buscar qualquer igreja depois da liberdade. O importante é seguir a Deus”, completa o apóstolo José Carlos. Para o diretor da Penitenciária Sul, Deiveison Querino Batista, o trabalho espiritual, em parceria com as igrejas e com o engajamento dos servidores do sistema carcerário, é uma das formas de ressocialização que faz parte do modelo atual carcerário. “Para o cumprimento da pena mais digno, mais humano. Ações como essa serão sempre bem-vindas. Somos um exemplo de unidade que tem disciplina e queremos também ser exemplo de dignidade”, declara.

“Esse é o dia mais importante de nossas vidas. Erramos, estamos pagando pelo erro e agora temos um sentido para a vida quando ganharmos a liberdade, porque aqui que conhecemos e verdadeira palavra de fé, já sabendo que o erro não leva a lugar algum”, afirma um detento, reincidente, que há quatro anos está na Penitenciária Sul e garante que agora deixará o crime. O trabalho da igreja foi tão intenso, que uma das provas de mudança foi o batismo de um detento, que pertencia a uma facção criminosa e já chegou a ficar em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) no ano passado, por envolvimento no crime organizado, entre outros indisciplinas no ambiente carcerário.