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TransGas promete “empenho máximo” para ter apoio da população

Foto: Renan Medeiros/Clicatribuna

Foto: Renan Medeiros/Clicatribuna

A empresa norte-americana TransGas prometeu investir pesado para eliminar o receio que parte da população içarense tem em relação à instalação da fábrica de fertilizantes a partir do carvão no município. Representantes da empresa e da alemã ThyssenKrupp, também envolvida no projeto, estiveram nesta segunda na Câmara de Vereadores da Içara e detalharam o projeto a vereadores, à imprensa e a representantes da sociedade civil organizada. Conforme o Portal Clicatribuna, em tom calmo, o presidente da TransGas, Adam Harris Victor, disse que respeita as preocupações e assegurou que vai investir para que haja garantias que não haverá qualquer prejuízo ambiental.

Todos manifestaram apoio, exceto agricultores que integram o Movimento Içarense pela Vida (MIV), que não puderam participar do encontro. Uma nova reunião deve ser marcada nos próximos dias, exclusivamente com os contrários à proposta. Políticos presentes admitiram arrependimento por não ter sido permitida a entrada dos agricultores. O prefeito de Içara, Murialdo Gastaldon (PT), por exemplo, disse que era favorável à entrada de representantes do MIV na reunião. O prefeito acredita que, se os agricultores estivessem no plenarinho, as arestas já teriam sido aparadas ali mesmo.

“Queremos uma boa relação”

A preocupação dos agricultores é em relação ao volume de carvão de que a fábrica precisará. Eles temem que o fortalecimento da atividade carbonífera vá afetar negativamente as reservas subterrâneas de água em Içara. “Vou assumir essa preocupação como legítima e me comprometo a contratar os melhores especialistas do mundo para trabalharem em conjunto com os especialistas daqui para, juntos, encontrarem uma solução”, garantiu o presidente da TransGas. Victor disse que já enfrentou resistências em diversos empreendimentos e que sempre trabalhou para ter o apoio das populações locais. “Queremos ter uma boa relação com a comunidade. Se não pudermos resolver o problema, não vamos construir aqui”, ponderou o norte-americano.

O representante da TransGas no Brasil, Alexandre Fernandes concordou com Victor. “Nós estamos iniciando um relacionamento de 30 anos. Ele não pode começar mal”, considerou.

Movimentos sociais presentes

Do lado de fora, antes da reunião, Renato Brígido, um dos representantes do MIV, não se mostrou otimista quanto à possibilidade de chegar a um acordo. “Em 2008 todas as entidades assinaram um documento contra a instalação de novas áreas de mineração por causa da água. O que mudou agora?”, questiona. Por outro lado, o Grupo de Apoio aos Mineiros (Gamin) também marcou presença. “Nós sabemos que a vinda da empresa vai fortalecer o setor e vai gerar empregos”, justificou o presidente do Gamin, Marcelo Cascaes.

Gigantes mundiais envolvidas na construção

Um consórcio internacional liderado pela norte-americana TransGas tem planos, já avançados, para instalar uma fábrica de fertilizantes no Sul de Santa Catarina, provavelmente em Içara. As principais matérias-primas usadas são o carvão mineral encontrado na região e água. Em torno de R$ 6 bilhões serão investidos no empreendimento, que deve reduzir em quase 10% a importação de fertilizantes por parte do Brasil. Hoje o país, que tem o crescimento econômico baseado no agronegócio, importa mais de 80% do fertilizante que consome.

Além da TransGas, estão envolvidas no projeto as empresas alemã de tecnologia ThyssenKrupp e Linde, além da construtora espanhola ACS. Todas elas já realizaram empreendimentos semelhantes no mundo. A ThyssenKrupp, por exemplo, tem mais de 500 gaseificadores de carvão em operação no mundo. Somadas, as empresas têm patrimônio de quase US$ 500 bilhões, isto é, meio trilhão de dólares.

A previsão é que sejam gerados 5 mil empregos durante a construção. Quando estiver operando, serão contratados e treinados 500 trabalhadores altamente qualificados em ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Outros 1,2 mil empregos devem ser gerados indiretamente.

A fábrica que será instalada na região integrará dois processos. O primeiro deles é a transformação química do carvão (sem queima) e da água em gás sintético. O segundo é a transformação do gás sintético em fertilizantes (nitrato de amônia e ureia). Michael Kaiser, vice-presidente e chefe de engenharia da empresa alemã ThyssenKrupp, disse que, com manutenção adequada, a usina pode durar mais de 30 anos. Ele também esteve à reunião.

Possibilidade de produzir gás natural

O gás sintético também pode ser convertido em outros insumos, como gás natural sintético, gasolina e plástico. Isso significa que, no futuro, caso o grupo queira produzir gás natural, por exemplo, não será necessário construir uma nova usina de gaseificação. Bastará adaptar a fábrica para produzir o gás natural a partir do mesmo gás sintético que é usado para produzir fertilizante. Já há planos para isso, uma vez que Santa Catarina e Rio Grande do Sul são altamente dependentes do gás natural vindo da Bolívia.

Próximos passos

Atualmente, o consórcio trabalha para obter uma reserva de carvão suficiente para abastecer a fábrica por 30 anos. A intenção é que, nesse período, não haja flutuação no preço do mineral e nem do fertilizante produzido. As outras frentes de trabalho são a articulação para a construção da fábrica e operação, e a venda de ureia para compradores. Segundo Victor, já há interessados em adquirir o fertilizante pelos próximos 20 anos. O grupo não revelou se visitou alguma carbonífera da região nesta segunda. “Não posso comentar sobre isso”, limitou-se a dizer Adam Victor.