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Após 135 anos, tradição ainda é a receita do sucesso

Foto: Leonardo Zanin/Clicatribuna

Foto: Leonardo Zanin/Clicatribuna

O Jornal Atribuna apresenta neste domingo (26) uma reportagem especial sobre os 135 anos de colonização do município de Urussanga, comemorado hoje. Confira a matéria: Urussanga comemora neste domingo 135 anos de colonização e ainda pode ser considerado um pedaço da Itália no Brasil. Em seu povo, os costumes e tradições trazidos pelos imigrantes em 1878 ainda estão vivos em quase todos os aspectos. A história de luta, fé e força de vontade dos colonizadores fez com que a Benedetta, como é carinhosamente chamada pelos seus munícipes, pudesse se tornar uma terra prometida para os italianos, que ainda estão vivos na cultura e na memória dos cidadãos.

Terra fértil e boas oportunidade

A crise que a Itália passava no fim do século 19 foi um dos principais motivos que trouxeram os italianos para Uussanga. Sob a promessa de terra fértil e boas oportunidades os imigrantes vieram em busca de uma nova vida. Com dificuldade, aos poucos foram erguendo suas casas e desenvolvendo o seu sustento. “Eles vieram em porões de navios e criaram Urussanga. A cidade cresceu sustentável e socialmente. De outra forma não adiantaria desenvolver. Tivemos o grato privilégio de não crescer desordenadamente. Hoje temos um padrão de vida equilibrado e um índice de desenvolvimento respeitável, graças aos heróis italianos”, conta o urussanguense Hedi Damian.

Damian nasceu no município e é conhecedor profundo da história urussanguense. Ele acredita que a extração de carvão prejudicou a cidade, que tinha a economia baseada na agricultura. “O carvão acabou com a cidade. Ele trouxe riqueza, mas poluiu os rios e destruiu a natureza. Além disso, o cultivo da uva e a agricultura em geral ficaram paradas porque as mineradoras absorveram a mão de obra dos descendentes que trabalhavam no campo”, ressalta.

Ele foi um dos responsáveis pelo resgate da cultura e tradição italiana através do Gemellaggio, um pacto de amizade com a cidade de Longarone, na Itália, firmado há 21 anos. “Sempre existiu a cultura aqui, mas de forma isolada. O Gemellaggio reascendeu as tradições do povo urussanguense. Lá eles nem sabiam que tinha uma colônia aqui”, comenta Damian.

Pequena em tamanho, grandiosa em cultura

A cidade de Urussanga retornou as origens desde que o Gemellaggio foi firmado. Desde então, vários fatores contribuíram para que a Benedetta se tornasse uma cidade turística e com diversos atrativos culturais. O município é pequeno, mas possui uma imensa riqueza histórica. Segundo o prefeito Johnny Felippe, há vários projetos para desenvolver ainda mais a cultura e aliar as tradições ao turismo, tornando o município uma referência na região e no estado.

Itália Sempre presente

“Somos a cidade com maior número de casarões tombados em uma única praça em Santa Catarina. Nosso foco é alavancar de vez o turismo aliado a gastronomia e a um bom vinho, sempre relembrando a Itália. Queremos movimentar culturalmente a cidade e despertar nas crianças o sentimento de morar em Urussanga e manter as origens. Para desenvolver essa atividade a cidade tem que passar por um embelezamento e se estruturar para receber os visitantes e isto já está acontecendo”, revela o prefeito.

Outro ponto forte do município é a religiosidade, segundo o prefeito. Locais onde as pessoas fazem suas orações, também são atrativos devido a sua arquitetura histórica ou itens raros no seu interior. “Há três réplicas da escultura La Pietá, do artista Michelangelo, em todo o mundo e uma delas está aqui em Urussanga. Ela veio da Itália e foi colocada na Igreja Matriz”.

Foco no enoturismo

Para quem gosta de apreciar um bom vinho, Urussanga é o lugar certo. Um dos roteiros turísticos do município compreende os Vales da Uva Goethe. Uma viagem por vinícolas que, aliada à uma boa gastronomia e pousadas em meio a natureza, encanta turistas de todos os lugares. A produção de vinhos é uma atividade trazida pelos colonizadores que foi mantida e se fortaleceu a ponto de tornar a Benedetta conhecida como a Capital do Bom Vinho. “Esse é o ponto alto da cidade. Nossos vinhos foram valorizados com o Índice Geográfico de Procedência e isso vai levar o nome de Urussanga para o Brasil e o mundo”, enaltece o prefeito.

Para o futuro Felippe almeja uma estrutura que irá tornar o município referência em todo o país e reconhecido pela sua cultura e tradição. “A cidade vai se estruturar para ser um atrativo. Para isso é fundamental que as pessoas caminhem de mãos dadas com a administração. No futuro eu vejo Urussanga contemplada com obras que satisfaçam a população e atendam a demanda turística, como um município que nós sonhamos com o nosso povo trabalhador”, destaca o prefeito.

Reconhecimento em todo o país

Em vários locais é possível conversar em italiano com os moradores e em todos os pontos da cidade os traços da cultura italiana estão presentes. Nos Vales da Uva Goethe não é diferente. Nas pousadas e vinícolas a tradição é mantida. “Nosso principal atrativo é a cultura italiana, desde a produção da uva e do vinho até a arquitetura e culinária”, conta Patrícia Mazon, responsável pelo setor de turismo e eventos da Vigna Mazon.

Ela conta que ainda não é possível manter o empreendimento apenas com o turismo, mas acredita que isso poderá mudar um dia. “Ainda não é possível viver apenas do turismo. Estamos caminhando para isso, porém, é necessário que obras de infraestrutura sejam realizadas, principalmente nos acessos aos pontos turísticos”, revela Patrícia.

A uva Goethe foi trazida da Itália pelos colonizadores e, apesar de ter passado por um período ruim, o vinho produzido com essa uva leva o nome de Urussanga para todo o país. Com o selo do Índice Geográfico de Procedência (IGP) a valorização é ainda maior. “O certificado é atribuído a produtos com um vínculo cultural e geográfico que possa agregar valor. Recebe o selo quem segue as normas de elaboração respeitando o processo tradicional trazido pelos colonizadores e as características da uva”, ressalta ela.

Na parede da sala, diversos quadros com fotografias que retratam a história do município estão expostos ao lado do título de cidadão honorário de Longarone, que recebeu na Itália por valorizar e redescobrir a cultura italiana no Brasil.

Depois da luta dos italianos e muitas mudanças em 135 anos de colonização, Damian espera que a Benedetta continue com um crescimento regrado, sempre pensando no futuro. “Urussanga será uma cidade cada vez melhor para morar e terá possibilidade de continuar assim, desde que haja sempre uma preocupação com o bem estar da população”, enaltece.