Economia

Carvão, a nova aposta para o setor elétrico

Longo período de estiagem deve fazer o Ministério de Minas e Energia rever o boicote ao carvão

Excluído dos leilões de energia desde 2009 devido a uma política do Governo Federal de reduzir a emissão de gás carbônico (CO2), o carvão mineral volta a ser um dos candidatos à salvação do sistema elétrico nacional. O baixo volume de chuva nas principais bacias hidrográficas do Brasil — o menor desde 2001, quando o país viveu a “crise do apagão” — deve fazer o Ministério de Minas e Energia rever o boicote ao carvão.

Segundo o presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), Fernando Zancan, são as usinas térmicas que estão mantendo o que resta da robustez do sistema elétrico brasileiro. “Todas as térmicas a carvão mineral do Brasil hoje estão operando a pleno devido à falta de água nas hidrelétricas”, observa Zancan. Hoje, o carvão mineral é fonte de 1,5% da capacidade geradora de energia elétrica do Brasil, de acordo com ele. No total, as térmicas ficam com 20%. Em torno de 70% da geração vem das usinas hidrelétricas, cujo funcionamento depende de condições climáticas favoráveis.

Zancan destaca que há projetos para a geração de energia elétrica a partir do carvão mineral que já contam com licenças ambientais e com investimentos assegurados. “Só estão parados por causa da ausência do carvão nos leilões de energia. É uma fonte que confere segurança ao sistema, já que não depende de condições climáticas favoráveis para funcionar. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul têm carvão em abundância”, frisou o presidente da ABCM, em entrevista ao site Clicatribuna.

Governo Federal deve rever políticas

Ao jornal Valor Econômico, o secretário de planejamento e desenvolvimento energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, informou que as usinas a carvão devem passar a ser contratadas como usina de base e não como de complementação, como ocorre hoje. Se isso ocorrer, Ventura explica que as térmicas vão funcionar em tempo integral. Atualmente, o mineral extraído na região carbonífera é preterido dos leilões de energia do Governo Federal sob a alegação de serem muito poluentes.

Expectativa: Usitesc pode sair do papel

Se o Governo Federal for convencido de que o carvão é importante para a segurança do sistema elétrico, o projeto da Usina Termelétrica Sul Catarinense (Usitesc) poderá sair do papel. A capacidade instalada da Usitesc será de 440 megawatts, suficientes para abastecer uma cidade com população dez vezes maior que a de Criciúma. Segundo os responsáveis pelo projeto, a usina, que funcionará em Treviso, vai trabalhar com tecnologias que permitem uma redução de mais de 95% no volume de emissão de gases poluentes.

O empreendimento já tem o licenciamento ambiental e os recursos, de R$ 1,6 bilhão, garantidos. A expectativa é que gere aproximadamente 5 mil empregos. “É um projeto que, para ser viável, só precisa da inclusão do carvão nos leilões de energia”, resume Zancan.

Atualmente, novas alternativas de produção e uso do carvão de forma limpa são aperfeiçoadas pelo Centro Tecnológico do Carvão Limpo (CTCL), projeto mantido pela Satc e peloSindicato da Indústria de Extração de Carvão de Santa Catarina (Siecesc).

Um relatório publicado pela Agência Internacional de Energia (IEA) prevê que o carvão será a principal fonte de energia no mundo a partir de 2017, quando ultrapassará o petróleo. A expectativa da IEA é que a demanda aumente em todo o mundo, exceto nos Estados Unidos. Cerca de 40% da energia elétrica no mundo é produzida a partir do carvão. No Brasil, esse índice é inferior a 2%.