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Dor, revolta e impunidade voltam a silenciar o centro de Criciúma

Foto: Nei Manique/Engeplus

Foto: Nei Manique/Engeplus

As camisetas estamparam o sorriso leve do jovem operário de apenas 19 anos. Duas palavras, "Rudson Sempre!", resumiram a dor de familiares e amigos que na manhã deste sábado circundaram a Praça Nereu Ramos. Bem menos gente do que no protesto pelo assassinato da médica Mirella Maccarini Peruchi, no dia 2 de maio, mas a mesma revolta com a impunidade.

Segundo o site Engeplus, Rudson Feliciano Fortunato foi fuzilado um mês e três dias depois, também dentro do carro, mas por motivo diferente. Foi confundido, segundo parentes, com o novo namorado da ex de um traficante num condomínio no bairro Cidade Mineira Nova. Levou um tiro no peito, sem a menor chance de poder reagir, assim que ele e um amigo deixaram duas meninas no local.

"Um menino maravilhoso, sentimos muita saudade, muita falta dele", desabou em lágrimas a tia Rosani Feliciano diante dos jornalistas minutos antes da passeata. "A gente quer justiça porque o criminoso prestou depoimento, foi solto e pode cometer outros crimes com outras pessoas. Ele alega que não estava no local, mas o amigo do Rudson o reconheceu."

A manifestação de hoje foi a primeira e é improvável que seja a última. "Vai depender do parecer da Justiça", condicionou o tio e padrinho Renê Feliciano. A mãe Rosimere Feliciano mostrou-se inconformada. "Ainda estão investigando, mas quanto mais rápido colocarem este animalzinho na cadeia, melhor. Quem faz este tipo de coisa não é um ser humano."

FLEXIBILIZAR A LEI

As faixas no calçadão desenharam a incompreensão popular com a legislação.

Se o crime não tem idade, por que punição teria?
Chega de impunidade! Queremos Justiça!
Liberdade para a vida, prisão para os criminosos!

Os últimos homicídios colocaram fim a um "ciclo de aparências" em Criciúma, analisou o suplente de vereador Zairo Casagrande. "A partir de 2009, com a criação de vários Consegs, acreditamos que investimentos na segurança pública manteriam o centro da cidade longe dos estatísticas, da média de 50 assassinatos por ano", observou. "Por isso, ninguém se importou muito, mas sabíamos que um dia a criminalidade chegaria aqui."

O recrudescimento da violência deixou de "diferenciar bairros e zonas urbanas, uma nova situação que exige também uma nova postura da sociedade", completou Zairo. "Precisamos flexibilizar a lei por 10 anos, parar de penalizar a idade e sim os crimes porque só isso evitará que assassinos fiquem soltos. Depois disso, daqui a 10 anos, aí sim, a gente volta a filosofar."