Segurança

Em Criciúma, adolescentes estão envolvidos em 75% dos crimes contra a vida

Foto: Talise Freitas/Arquivo Clicatribuna

Foto: Talise Freitas/Arquivo Clicatribuna

Desde 29 de abril desse ano a Polícia Civil de Criciúma conta com a Divisão de Homicídios, que dispõe de um delegado, um escrivão, e quatro agentes para atuar especificamente em crimes contra a vida, como assassinatos e tentativas. Conforme reportagem do site Clicatribuna, desde a criação da divisão, segundo o delegado responsável, Vitor Bianco Júnior, foram 21 procedimentos instaurados.

“Nove deles estão solucionados, com autores presos ou que respondem em liberdade, e os 12 restantes possuem suspeitos. O que nos chama atenção é a quantidade de menores envolvidos em crimes contra a vida. Ou seja, em 75% dos casos, a autoria é de adolescente”, contabiliza Bianco Júnior.

A autoridade policial também destaca outro dado desde o início do ano quando não havia a divisão, sendo ele responsável por todos os crimes registrados na região da Próspera. De 30 crimes contra a vida, sendo tentativa ou mesmo assassinato consumado, dez deles ocorreram no Bairro Renascer, e dois no Bairro São José, localidade vizinha do Renascer. “Esse bairro foi sempre o mais preocupante e são necessárias ações mais enérgicas, mas para isso precisamos do apoio do Poder Judiciário e do Ministério Público, porque sozinha, a polícia não irá resolver”, expõe Bianco Júnior.

Recentemente, a Divisão de Homicídios identificou duas gangues atuantes no bairro, e compostas, em sua maioria, por adolescentes. “Antes havia uma. Houve um desentendimento e os membros se dividiram. Agora brigam entre si. Tanto que o último homicídio foi porque a vítima, que pertencia a uma delas, estava andando com o participante da outra gangue. Agora há uma guerra. E só não aconteceu coisa pior por conta da polícia. Já ouvi relatos de que adolescentes se disputam para quem matar mais, pois isso dá mais poder no mundo do crime. Ou seja, estão matando por matar e impunes”, diz o delegado.

“Lei do silêncio” dificulta trabalho

Um dos empecilhos do trabalho policial vem sendo a “lei do silêncio”, mais evidente no Bairro Renascer, conforme Bianco Júnior. “As pessoas temem pela sua própria vida e de seus familiares. Em 2009 a motivação de um dos assassinatos no bairro foi porque a vítima fez uma denúncia à polícia. Até as vítimas de tentativas de homicídios não estão cooperando, também por medo de represália. Dificulta o trabalho e precisamos de algumas medidas cautelares para poder chegar à autoria de um crime, e isso não depende só de nós. Se a testemunha não ajuda no trabalho policial, quando chegar ao curso processual, quando estará de frente ao juiz, e muitas vezes do próprio criminoso, muito menos irá cooperar”, revela, acrescentando que o programa de testemunhas protegidas por muitas vezes é falho.

Bianco Júnior destaca que apesar de algumas dificuldades, como a falta de efetivo, que é uma realidade em toda região, a Divisão de Homicídios vem dando outra dinâmica à Polícia Civil. “Conseguimos nos concentrar em casos específicos e dar mais rapidez aos trabalhos. Tenho uma planilha com os detalhes de cada crime. Apesar da falta de material humano, atuamos bem equipados. E com um bom relacionamento entre o Ministério Público e o Poder Judiciário conseguimos ainda mais dar uma resposta à sociedade e reduzir a criminalidade”, conclui.