Clima

Frio atípico em SC é sinal de alerta para impactos do aquecimento global

Recordes de temperaturas mínimas registradas em Santa Catarina contrastam com calor fatal e enchentes em outras partes do mundo.

Divulgação

O frio histórico registrado neste inverno em Santa Catarina alegrou muitos turistas que puderam acompanhar o fenômeno da neve em mais de uma oportunidade, junto com temperaturas que quebraram recordes de mínimas em várias cidades do Estado.

No entanto, estes extremos podem representar um alerta para desequilíbrios que causam mudanças climáticas em diversas partes do mundo, avaliam especialistas.

Eventos climáticos extremos e perigosos têm sido observados com frequência nos últimos tempos.

Enquanto Santa Catarina quebra recordes de temperaturas mínimas, com 0°C em Florianópolis e -8,6°C em Bom Jardim da Serra, o Canadá e os Estados Unidos passaram por uma onda de calor fatal, acima dos 50°C.

Além disso, outros eventos como inundações e enchentes afetaram gravemente a Europa e a China.

Recorde de frio em SC tem a ver com aquecimento global?

O geógrafo, climatologista e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Francisco Eliseu Aquino, explica que nos últimos tempos, os invernos têm sido mais quentes, mas eventos pontuais trazem temperaturas e fenômenos atípicos.

“Nós temos invernos mais quentes no Sul do Brasil, com menor número de dias de geadas, e as madrugadas não são mais tão frias, dos últimos 30 anos para cá, se compararmos com os tempos dos nossos avós. Porém, nesse cenário de aquecimento, quando a gente tem rupturas e entradas de ar frio, ele é mais abrupto e associado a fenômenos, como por exemplo ciclones extratropicais robustos”, afirma.

O especialista esclarece que a origem das últimas massas de ar polar, que atingiram com muita força o Sul do Brasil, está relacionada com o aquecimento das temperaturas do planeta.

“Nestes casos atuais, o ar polar marítimo que chegou por aqui no Sul do Brasil, veio do mar de Weddell, que nessa época do ano é ocupado por gelo marinho e tem ar mais frio. E esse ar começa a surgir nos eventos de frio do Sul do Brasil nos últimos 30 anos para cá, justamente quando temos a aceleração do aumento da temperatura média global. É uma interconexão planetária.”

Extremos incomuns mais frequentes

Conforme destaca a professora do IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina), especialista em meteorologia, Marcia Fuentes, o aumento de eventos extremos é uma possibilidade real.

“A frequência e intensidade destes extremos serem cada vez maiores é uma possibilidade que vem sendo alertada há muitos anos pelos cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Alguns estudos mostram que as ondas de calor, por exemplo, têm apresentado frequência de ocorrência e intensidades mais fortes tanto no Hemisfério Norte quanto no Hemisfério Sul.”

Fuentes ressalta que o fenômeno da neve pode ser considerado comum nos locais mais altos em Santa Catarina, mas os mais recentes registros chamam a atenção.

“A neve em Santa Catarina não chega a ser um extremo nas áreas mais altas do Estado, que superam os 1.000 metros de altitude. No entanto, as nevadas que atingem altitudes inferiores já apresentam uma condição bem menos frequente, nevar em muitas cidades serranas e mesmo no Meio-Oeste do Estado já é uma condição extrema. Faz parte da nossa climatologia? Faz. Mas não é tão comum”, pondera a professora.

Neve no Brasil x 50°C no Canadá

“Lá em maio, tínhamos uma circulação no hemisfério Sul, fortalecida na média das últimas décadas pelo aquecimento global, e o hemisfério Norte entrando no verão e esquentando. Em junho, essa circulação atmosférica fica mais robusta ainda. E com o aquecimento global, o hemisfério Norte atingiu temperaturas extremas, com ondas de calor, e isso rivalizou muito: a região do hemisfério Norte versus a região polar Antártica”, diz o geógrafo Francisco Eliseu Aquino.

O professor da UFRGS cita ainda que os efeitos são associados ao fenômeno da La Niña, o que ajudou a criar situações preocupantes e opostas.

“Esta condição, também associada aos efeitos da La Niña – que deixou águas mais quentes que o normal – faz com que a robusta circulação atmosférica sofra uma ruptura e ondule. Isso é o que gera fenômenos meteorológicos, como ciclones extratropicais mais abruptos, intensos”, explica.

Márcia Fuentes salienta que as temperaturas elevadas que provocaram mortes no hemisfério Norte são extremos com formações parecidas ao frio registrado no Sul.

“As ondas de calor também são eventos extremos, que assim como as ondas de frio, apresentam ligação a um padrão atmosférico de bloqueio. Nesse padrão, a persistência por vários dias dos ventos em longos corredores transportam massas de ar das regiões polares para as regiões tropicais, no caso das ondas de frio, e massas de ar tropicais para áreas polares nas ondas de calor. São responsáveis por muitos desses eventos extremos.”

Situações climáticas caóticas devem voltar a ocorrer

Francisco Eliseu Aquino reforça que, assim como o frio intenso que abriu o inverno com temperaturas baixíssimas e trouxe neve no fim de junho em Santa Catarina voltou a ocorrer em julho, as situações de calor extremo, enxurradas e enchentes ao redor do mundo devem voltar.

“Já sabemos, estamos vendo os dados, daqui a mais ou menos 10 dias terá uma nova onda de calor impactante no hemisfério Norte, especialmente na costa dos Estados Unidos, e outros eventos de chuva intensa entre a Ásia e a Europa”, alerta.

Com informações do site ND Mais

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