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Número de baleias-jubarte mortas em SC cresce 10 vezes em um ano

O Estado puxou a alta de mortes dos animais da espécie no Brasil, que totalizaram 216 em 2021. Em comparação com 2020, o país teve 70 mortes em toda a costa, quase o total apenas em SC neste ano

Divulgação

O número de baleias-jubarte que apareceram mortas na costa catarinense em 2021 foi 10 vezes maior em relação a 2020. Segundo dados do Projeto Baleia Jubarte, 64 animais da espécie morreram neste ano, em comparação com 6 em 2020. É o maior número entre os estados da costa brasileira.

De acordo com o médico veterinário Milton Marcondes, coordenador de Pesquisa do Projeto Baleia Jubarte, as mortes das jubartes está ligada à falta de alimento para os animais. Ele explica que Santa Catarina é apenas uma passagem da espécie, que transita entre ilhas próximas à Antártica até a região do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, localizado entre a Bahia e o Espírito Santo.

— Elas nascem no Brasil entre julho, agosto e setembro, ficam o inverno e a primavera no Brasil e depois migram para ilhas próximas da Antártica, onde elas passam o verão. Agora ou elas estão a caminho ou tem algumas que já devem ter chegado nessa região. Elas passam o verão lá se alimentando de krill [um crustáceo parecido com camarão], e quando é abril e maio, elas vão chegando aqui no Brasil e tem o filhote — explica.

Segundo o especialista, o que faz as baleias-jubarte pararem em Santa Catarina e, consequentemente, morrer em alta quantidade, é a fome.

— Aparentemente, as baleias jovens, que não estão em idade de se reproduzir, ficaram pelo Litoral Sul e Sudeste em busca de alimentos para compensar a falta de krill durante o verão na Antártica. Com isso, elas chegaram bem perto da costa e parte destes animais acabaram ficando presos em redes de pesca — fala Milton.

Santa Catarina puxou a alta de mortes de baleias-jubarte no Brasil, que totalizaram 216 em 2021. Em comparação com 2020, o país teve 70 mortes em toda a costa, quase o total apenas no Estado este ano. Mas segundo Milton Marcondes, estados como São Paulo, que registrou 54 mortes da espécie, também são responsáveis pela alta.

Para André Barreto, coordenador geral do projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) entre Santa Catarina e Paraná, é incomum que os animais parem na costa catarinense. O projeto monitora as baleias que encalham no Estado há seis anos e atuou em vários resgates de animais marinhos na região. Segundo o coordenador do PMP-BS, a queda brusca mostra que a mortalidade não está ligada ao crescimento da população de baleias-jubarte.

— O que a gente viu em SC foram muitas baleias vivas ficando perto da costa. Em Penha, teve uma baleia morando ali mais de um mês, e isso não é uma coisa comum. O que a gente tem é que elas passam e vão acasalar em Abrolhos. E esse ano não foi o que aconteceu, o primeiro relato de baleias próximas foi em maio, de grupos grandes perto da costa. Então, algo de diferente realmente aconteceu esse ano — aponta o coordenador.

A hipótese do coordenador do PMP-BS, com base apenas nas jubarte que encalharam mortas em Santa Catarina, concorda com a teoria de Milton Marcondes. Ele descreve como eram as baleias que apareceram nos areais catarinenses.

— As baleias quando vem pra cá tendem a vir com uma camada de gordura bem grossa. Elas vão pra antártica e se alimentam e engordam bastante. Então quando elas começaram a aparecer aqui no início do segundo semestre, elas chamaram atenção porque estavam magras. O que se tem discutido, é só hipótese, que elas estavam mais na costa por estarem mais fracos e já estarem mais debilitadas — conta Barreto.

Confira em quais cidades as baleias encalharam em Santa Catarina

Das 64 mortes registradas pelo projeto Baleia Jubarte, 44 tiveram as cidades identificadas pelo projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS).

  • São Francisco do Sul: 10
  • Florianópolis: 8
  • Itapoá: 8
  • Balneário Barra do Sul: 5
  • Barra Velha: 2
  • Garopaba: 2
  • Imbituba: 2
  • Laguna: 2
  • Balneário Camboriú: 1
  • Balneário Piçarras: 1
  • Itapema: 1
  • Navegantes: 1
  • Penha: 1

Por que falta alimento para as baleias

De acordo com o médico veterinário Milton Marcondes, baleias-jubarte se alimentam principalmente de krill, pequenos crustáceos em forma de camarão ou peixes. Conforme ele, as baleias ficam próximas à costa catarinense porque não conseguiram se alimentar desses animais no verão, e respondeu o que pode estar causando a falta dos krills.

— Existe alguns anos em que diminui por causa dos efeitos do El Niño [fenômeno climático que altera a temperatura marítima] mas também estão sofrendo impactos do aquecimento do planeta — conta.

Um estudo do biólogo da Epagri/Ciram, Luiz Vianna, apontou que, de fato, a temperatura da superfície do mar (TSM) no Oceano Atlântico sul registrou 1,3°C acima do normal, e alcançou 24,5°C. Em uma matéria publicada pela NSC Total em julho, a pesquisa levantou uma hipótese de que o encalhe de baleias-jubarte no Estado estaria associado ao aquecimento da água do mar.

Com informações do NSCTotal

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