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Boto encontrado morto em Laguna não apresentava marcas de rede de pesca

Foto: Elvis Palma/Divulgação

Foto: Elvis Palma/Divulgação

Foi encontrado morto, nesta quinta-feira (14), mais um boto da espécie Tursiops truncatus, nos Molhes, em Laguna. O animal foi conduzido pela equipe do Projeto de Monitoramento de Praias (PMP/BS) para análise e necrópsia.

Medindo 3,34 metros, o boto macho tem aproximadamente 20 anos. De acordo com o gerente operacional do projeto, Felipe Steiner, o animal não apresentava nenhuma marca evidente de redes de pesca. “Com a necropsia teremos uma análise macro do bicho, que pode sugerir a causa da morte, mas somente as análises de laboratório poderão dar o laudo oficial da causa mortis”, explica Steiner.

Apelidado de “Mandalão” pelos pescadores, era considerado um dos botos que mais interagia durante a pesca. “Brincávamos que ele era violento porque só faltava jogar o peixe na gente”, brinca o pescador Evilásio Fernandes.

Ele conta que na terça-feira desta semana pescou com o Mandalão, mas notou que o animal estava diferente das outras vezes: “Eu e meu companheiro de pesca observamos que ele estava lento, só saia na superfície para respirar em devagar. Parecia doente”, disse o pescador.

Segunda morte de boto em um mês:

Também resgatado nos Molhes pela equipe do PMP, no dia 28 de março, um filhote da mesma espécie de boto, com apenas um mês de vida, foi encontrado morto.

Após a necropsia e análises preliminares realizada pela equipe de biólogos e veterinários, só será possível descobrir a causa da morte após o resultado do laboratório. “Análises mais profundas do exame histopatológico poderão esclarecer essa morte”, explica o coordenador do PMP e professor da Udesc, Pedro Volkmer.

Algumas especulações diziam que o filhote estava com marcas de rede de pesca no corpo, mas segundo o professor da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC e pesquisador do Boto de Laguna, Fábio Daura, as imagens sugerem que essas marcas são pregas fetais que permanecem no filhote durante os primeiros meses de vida.

Novos filhotes nasceram

Atualmente a equipe coordenada pelo Professor Fábio Daura, da Ufsc, em parceria com a Udesc, através do professor Pedro Castilho, está monitorando os filhotes nascidos em 2015 e 2016.

O monitoramento dos botos que habitam esta região do Canal da Barra e Lagoa Santo Antônio é realizado sistematicamente desde 2007 pelos pesquisadores.

A notícia do nascimento de quatro filhotes em 2015 sinalizou a esperança de uma recuperação na população dos Botos de Laguna, já que na última estimativa divulgada no final do ano de 2014, era de somente 47 indivíduos.

Alerta vermelho

Porém há dois anos, o “sinal vermelho acendeu”, afirma o professor Fábio Daura. Pela primeira vez, tivemos uma redução no tamanho da população que, em 2014, foi estimado em 47 indivíduos – uma redução de mais de 10%. Em maio deste ano teremos uma nova estimativa da população, referente ao ano de 2015, mas previamente pelo que estamos analisando não mudou muito de 2014 para 2015”.

Os fatores de risco e causa das mortes são múltiplas, entre elas o emalhamento em redes de pesca. “Esses emalhamentos são mais comuns quando os indivíduos estão cansados, com fome, doentes e/ou estressados. Neste sentido, a qualidade da água e do ambiente em que vivem é fundamental”, explica Daura. Outros fatores como o tráfego intenso de embarcações, o uso irregular de moto-aquática, alterações de hábitat e a diminuição na disponibilidade de recursos alimentares, especialmente a tainha, principal espécie de peixe consumido pelo boto, também influenciam.

De acordo com Daura, são realizadas projeções periódicas sobre o risco de extinção dessa população para os próximos cinquenta anos.

Com estas duas mortes de botos em 2016, novas estimativas poderão ser realizadas para os próximos anos.

Doenças de pele nos botos

Além da redução no tamanho populacional, Daura e outros pesquisadores das duas universidades do estado estão monitorando os casos de doenças de pele em alguns indivíduos. “Até recentemente acreditávamos que essas lesões eram promovidas por um fungo, Lacazia loboi. No momento estamos revisando esse diagnóstico, buscando confirmar o agente etiológico. Por hora, podemos chamar essas lesões de semelhantes a lobomicose. Sugere-se que ela esteja diretamente associada a uma depressão do sistema imunológico”.

No momento, 12% dos botos de Laguna sofrem de lobomicose, o que corresponde a cerca de seis animais. “Esse número vem crescendo um pouco nos últimos anos, o que também nos deixa em alerta. Uma peculiaridade local é que alguns casos em Laguna mostram rápida progressão, o que não é comum para as outras populações de botos em que a doença é observada. A partir do mês que vem teremos uma nova estimativa em relação a evolução desta doença referente ao ano de 2015”, ressalta o pesquisador.

Além de acompanhar a prevalência e progresso nestes animais infectados, amostras da lesão estão sendo analisadas por um Laboratório da Universidade de São Paulo – USP, para tentar confirmar o agente causador. Outro trabalho, também em colaboração entre Ufsc e Udesc, está utilizando amostras de pele e gordura dos botos para avaliar níveis de acumulação de poluentes orgânicos e análises bioquímicas e moleculares que possam sugerir algo sobre o estado de saúde dos animais.

O Boto de Laguna também conhecido como Boto Pescador é uma espécie considerada fundamental para a pesca cooperativa realizada na desembocadura Complexo Lagunar. A maior concentração destes animais ocorre no trecho entre o canal da barra e das laranjeiras, águas que pertencem à Lagoa Santo Antônio dos Anjos.

Por que boto pescador?

A pesca cooperativa é considerada patrimônio de Laguna, assim como os “Botos Pescadores”. Esse tipo de interação só é registrada em dois lugares no mundo e encanta qualquer pessoa.

Os botos circulam no canal da barra em busca de peixes para se alimentar, principalmente a tainha, e costumam cercar os cardumes, conduzindo-os na direção dos pescadores, que após um sinal dado pelo animal, jogam suas tarrafas. Os peixes que sobram são presas fáceis para os botos se alimentarem. Ambos se beneficiam desta cooperação, boto e pescador.

Colaboração: Comunicação Prefeitura de Laguna