Segurança

Delegada Jucinês Dilcinéia Ferreira: o segredo de conviver com desafios

Foto: Guilherme Simon / DS

Foto: Guilherme Simon / DS

Jovem, bonita e bem-sucedida. Ao ver essa descrição, muitas pessoas vão pensar em modelos, cantoras ou até empresárias, mas essas são, certamente, características que podem ser atribuídas à coordenadora da Central de Polícia de Tubarão, a delegada Jucinês Dilcinéia Ferreira. No Dia Internacional da Mulher, celebrado hoje, ela conta sua história e fala sobre os desafios da mulher.

Aos 35 anos, ela comanda uma equipe de 45 pessoas, entre as quais apenas cerca de 10% são mulheres. “Eu procuro sempre humanizar as relações da equipe, trabalhar com a questão do carisma, ter os agentes como aliados, que decidem junto comigo. Até porque eu sou uma das mais novas da equipe, então acho fundamental contar com a experiência deles para auxiliar nas decisões”, coloca Jucinês.

Filha de policial militar e com dois tios na Polícia Civil, Jucinês cresceu querendo ser policial. “Sempre tive certeza da minha carreira, e meu pai me estimulava muito. Isso é uma referência muito importante para mim, meu pai sempre me criou com a certeza de que eu podia conquistar o que desejasse, de que não sou nem melhor nem pior que qualquer homem”, aponta.

O caminho não foi fácil. Logo no começo da faculdade, a delegada engravidou, aos 19 anos, e se casou. “Tinha a dificuldade financeira, porque meu pai era sargento, sem muitos recursos, eu era jovem e tinha que estudar, trabalhar e cuidar da minha filha, da casa. Não foi fácil, mas penso que foi bom, pois eu me dediquei tanto aos estudos sempre que talvez se eu não tivesse tido minha filha naquele momento até hoje não tivesse sido mãe”, aponta.

A recompensa veio logo nas primeiras tentativas de Jucinês. Ela passou para delegada no primeiro concurso que fez, e também na primeira fase para o Ministério Público e para a magistratura. “Eu desisti da magistratura porque estava satisfeita em ser delegada. Foi o que sempre quis fazer”, sublinha.

Ela esteve em Tubarão, Criciúma, Urussanga, Jaguaruna e Capivari de Baixo antes de retornar à Central de Tubarão. “Muitas vezes, enquanto eu estudava, eu ouvi minha filha perguntar quando teria tempo de poder ficar com ela. Isso é muito difícil”, afirma.

Outro desafio que Jucinês enfrentou foi a própria beleza. “O problema é que na nossa sociedade a beleza está muito atrelada em conceito com a burrice. E eu sempre priorizei o conteúdo, não apenas em mim mesma, mas nas pessoas em geral, eu gosto do que carregamos, do que temos internamente e como seres humanos para oferecer. Mas muitas vezes fui taxada como um rostinho bonito”, comenta.

Realização

Como uma operação que marcou sua carreira, a delegada aponta a prisão de um acusado de pedofilia, que hoje aguarda julgamento. “O recompensador é você pensar que, por esta pessoa que não tem condições de socialização ter sido retirada do convívio em sociedade, isso vai evitar muitos novos abusos, que poderiam estar ocorrendo agora”, afirma.

Leveza é a forma de conduzir o trabalho

A delegada Jucinês aponta que nunca passou por casos de insubordinação, mas já observou no passado certa contrariedade em alguns homens por serem comandados por uma mulher jovem.

Hoje, porém, ela aponta que esses desafios foram superados. A imagem de “delegada durona”, porém, é rejeitada por ela. “Na verdade, eu penso que trabalhamos em um local onde lidamos com conflitos, problemas, e isso já gera um clima pesado. Então eu procuro sorrir sempre, brincar, trazer alegria ao trabalho e à equipe. Também sempre trato as pessoas com o máximo respeito”, afirma.

Ainda falando em desafios, Jucinês sublinha que a vida pessoal é um deles. Solteira no momento, ela pontua que é difícil manter relacionamentos. “Sei que acaba intimidando, tanto a posição quanto a questão do salário, e até a própria forma de pensar. Eu não sou uma pessoa que se importa com posição, eu vejo o que a pessoa é, eu escolho alguém pelo que aquele homem é como ser humano, mas esses fatores externos muitas vezes impactam os homens”, conta.

Sobre a mulher na sociedade hoje, Jucinês opina que é importante que elas tenham consciência de que podem conquistar espaços e ter a possibilidade de investir na carreira, serem mães se desejarem, e cuidarem de si mesmas. “Acho que a mulher consegue sim ter mais facilidade em desempenhar vários papéis, mas creio que quando isso vira obrigação ainda é uma imposição machista. Como se a mulher tivesse que dar conta de tudo, obrigatoriamente”, aponta.

Questionada se se considera uma feminista, Jucinês diz que sim, mas faz uma ressalva. “Acho que não podemos brigar por direitos esquecendo que outras pessoas – como os homens – também têm direitos. Penso que se nós vermos todos como seres humanos, cientes de que há diferenças, mas ao mesmo tempo como seres humanos que têm os mesmos direitos, muitos problemas que temos nem existiriam”, conclui.

Com informações do Diário do Sul