Segurança

Guardas municipais são indiciados por tortura, em Criciúma

Delegado Leandro Loreto (Foto: Mariana Noronha/Clicatribuna

Delegado Leandro Loreto (Foto: Mariana Noronha/Clicatribuna

O delegado da 1ª Delegacia de Polícia de Criciúma, Leandro Loreto, concluiu nessa sexta-feira (4) o inquérito policial que apura a responsabilidade de guardas municipais na agressão de um adolescente de 17 anos. Os quatro agentes, de 21, 31, 38 e 44 anos, foram indiciados pelo crime de tortura, considerado hediondo, com pena máxima de oito anos. O delito de tortura prevê a perda de cargo público.

Conforme reportagem do site Clicatribuna, o caso ocorreu na noite de 10 de abril deste ano. O garoto foi detido pelos guardas no Terminal Central, após perguntar o paradeiro do irmão que tinha sido conduzido antes à delegacia acusado de estar perturbando com skate no terminal. Ele foi colocado dentro da viatura, vendado e levado a um local desconhecido, onde ocorreram as agressões. O menor foi submetido a diversas agressões, físicas e psicológicas, e só conseguiu chegar em casa no dia seguinte, já que foi abandonado no local.

“Eles me colocaram a arma dentro da boca e um me perguntou se eu queria apanhar ou se eu queria morrer. Me deram muitas coronhadas na cabeça e depois quando foram me soltar, me levaram para perto do Bairro Santa Augusta e falaram que se eu corresse eu não iria morrer, eu corri e eles dispararam uns cinco tiros para cima”, detalhou em entrevista ao jornal A Tribuna na época.

Loreto conta que no decorrer do inquérito policial a prisão temporária do quarteto já havia sido solicitada ao Ministério Público (MP), mas não foi deferida, tanto pelo MP quanto pelo Poder Judiciário. O caso novamente irá para análise do MP na próxima semana, e ficará sob a responsabilidade da 4ª Promotoria de Justiça.

“Antes não tínhamos a arma utilizada no crime, que foi uma pistola 380 de propriedade de um dos guardas municipais. Um revólver chegou a ser recolhido na casa de um agente, mas não foi reconhecido pela vítima. Fizemos buscas na casa do proprietário dessa pistola e foi apresentado a documentação do porte de arma. Posteriormente pedi a apreensão da pistola, que foi reconhecida pela vítima. Ele chegou a comentar com precisão que jamais esqueceria aquela arma que chegou até a garganta dele”, relata a autoridade policial, acrescentando que o adolescente também reconheceu os guardas envolvidos por meio de fotografias.

Pistola na boca

Conforme apurado, o garoto foi agredido com coronhadas, teve a pistola inserida na boca, além de chutes, socos e xingamentos. Loreto disse, que em depoimentos, os guardas municipais negaram a participação.

“Adquiriram o direito de mentir e contaram uma versão totalmente fantasiosa. Eles também serão indiciados por porte de arma, já que a pistola circulou na viatura e passou na mão de todos. Os guardas até relataram que o erro nesse caso, foi não ter encaminhado o garoto à delegacia”.

Foi requisitado um psicólogo para a vítima, pois ela apresentou um quadro de transtorno pós-traumático e parou de freqüentar o colégio. “Isso foi um abuso, com um grau absurdo de perversidade cometida por um ser humano. Ressalto que este caso aponta o envolvimento de quatro guardas, e não de todo efetivo, e que a população não generalize”, solicita a autoridade policial.

Contraponto

O presidente da Autarquia de Segurança, Trânsito de Transportes (ASTC) de Criciúma, Giovani Zappeline, que ainda não tinha conhecimento da conclusão do inquérito policial até o contato da reportagem, disse que os guardas continuam trabalhando normalmente e que nenhuma alteração será realizada até o encerramento do caso. “Eles ainda estão sendo acusados. Não há uma condenação. O caso vai para o MP, que pode pedir arquivamento ou até novas provas. Quem vai decidir se eles são culpados ou inocentes, até porque agora por enquanto só há indícios, é o juiz, e dependendo da sentença, ai sim, tomaremos uma decisão”, conclui.