Segurança

Mensageiro: dono da Serrana detalha esquema com propina de 1,9 milhão, em Lages

Primeiro a depor, proprietário da atual Versa Engenharia afirma ter pago valores para prefeitura honrar pagamentos de serviços prestados anteriormente; outros réus serão ouvidos

Audiência da Mensageiro ouve réus nesta terça (18) – Foto: Felipe Kreusch/ND

O proprietário da Versa Engenharia, antiga Serrana, detalhou o esquema de propina a agentes públicos de Lages em audiência da Operação Mensageiro, na comarca do município, na manhã desta terça-feira, 18. Segundo ele, o total de valores repassados seria em torno de R$ 1,9 milhão.

Os pagamentos teriam acontecido em troca de favorecimento em licitações de serviços na coleta de lixo em diversas cidades catarinenses, entre 2017 e 2022.

Segundo o dono da Serrana, os pagamentos aos secretários municipais aconteceram por meio do mensageiro, que levava os valores em dinheiro vivo em pontos de encontro pela cidade. Ele afirma que o pagamento de propina foi realizado para que a prefeitura honrasse os pagamentos atrasados de serviços prestados na gestão anterior.

“Eu tenho que pagar funcionários, nunca atrasei salário de ninguém nesses 32 anos. Eles não tinham culpa do que acontecia comigo nem com a prefeitura. Tinha que pagar até por uma ‘questão humanitária’, até por que eles ganham pouco”, afirmou o réu.

Conforme audiência de instrução do TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) do dia 27 de junho, os investigadores encontraram um ofício da Serrana na sala do ex-secretário de Administração de Lages, Antônio Arruda, que solicitava os pagamentos atrasados de serviços prestados em 2016. Segundo o documento, datado de 2017, a prefeitura estaria devendo R$ 1,3 milhão à empresa.

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Valores dos pagamentos

Ainda de acordo com ele, o ex-secretário de Administração de Lages, Antônio Arruda, teria pedido pagamentos de propina de R$ 50 mil mensais em dezembro de 2019 até dezembro de 2022, o que totalizaria R$ 1,8 milhão. Além disso, Arruda teria pedido R$ 150 mil.

O dono da Serrana também afirmou que, em uma licitação de iluminação pública, ele teria oferecido a Arruda R$ 800 mil se ganhasse a licitação, mas o pagamento não aconteceu porque a empresa não foi a vencedora.

Ao ex-secretário de Meio Ambiente de Lages, Eroni Delfes Rodrigues, o valor de propina teria sido de R$ 115 mil e havia, ainda, a promessa de R$ 200 mil caso a empresa vencesse a licitação da iluminação pública.

Já o pagamento a Jurandi Agostini, na época secretário da Semasa (Secretaria Municipal de Água e Saneamento), teria sido de R$ 75 mil. Outro funcionário da prefeitura, Milton José Matias, teria recebido de R$ 2 a R$ 2,5 mil por mês a pedido de um funcionário da Serrana pelo bom atendimento, de acordo com o depoente.

Segundo o proprietário da Serrana, o prefeito de Lages, Antônio Ceron, nunca tratou de valores com ele, mas ele “acha” que a propina também seria repassada a Ceron.

Advogados de defesa questionam datas de pagamentos

Os advogados de defesa de Eroni Delfes Rodrigues e Antônio Arruda questionaram o proprietário da Serrana sobre as datas dos supostos pagamentos de propina.

Em uma ocasião, o réu afirmou que Delfes pediu R$ 15 mil em 2021 para pagamentos relacionadas à Festa Nacional do Pinhão. Questionado sobre a data, ele diz que não se recorda e pode ter sido antes, 2018 ou 2019, já que a Festa do Pinhão não foi realizada em 2021.

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Próximos depoimentos

Ainda nesta terça, o prefeito de Lages, Antônio Ceron, e os ex-secretários do município, Antônio Arruda e Eroni Delfes, prestarão depoimento presencial ao TJSC. Réus na Justiça em função da Operação Mensageiro, os suspeitos falam após as testemunhas de defesa serem ouvidas nesta segunda (17).

Antônio Ceron foi preso no dia 2 de fevereiro, durante a segunda fase da Operação Mensageiro.

Antônio de Arruda está em liberdade com uso de tornozeleira eletrônica. Já Eroni Delfes Rodrigues está preso no 4º BPM em Florianópolis e foi a Lages escoltado por policiais.

Além dos três, funcionários da Serrana com acordo de delação premiada irão participar da audiência por videoconferência. Parte destes envolvidos serão ouvidos de dentro de uma sala no Fórum de Joinville, enquanto os demais que estão presos prestarão depoimento da própria unidade prisional.

Por Mafê Salinet/ND+ e Felipe Kreusch/NDTV