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Nem a morte separa o cão de seu dono

Mesmo com o falecimento de Hercílio, a cadelinha Lesse, há três anos, mantém a rotina de visitar a capela do dono, no cemitério

Quando Lesse chegou a casa da família Rossi era ainda um filhote. O tamanho pequeno era desproporcional a quantidade de carinho que era oferecido por ela a todos que moravam naquela residência em Pindotiba, localidade do interior de Orleans. O chefe da família, Hercílio, um homem de cabelos brancos, com 76 anos na época, foi o que mais lhe agradou. Companhia diária nos afazeres na roça, no trato com o gado, nas idas ao bar para jogar caxeta com os amigos, a cadela foi se tornando mais que um animal de estimação, uma fiel companheira.

O apego estreitou-se por três anos, até que no ano de 2009 Hercílio adoeceu. Um infarto foi o responsável por deixá-lo de cama por alguns meses. Entre idas e vindas ao hospital, cirurgias de ponte de safena e internações foram seis meses, até que no dia 19 de novembro do mesmo ano ele faleceu, deixando órfão não só a família, como também a amiga canina.

Dedicação e saudade

É aí que começa a história de carinho e fidelidade que nem mesmo a morte foi capaz de separar. “Soubemos do falecimento do pai às 23h. O corpo chegou para ser velado à 6h da manhã. Viemos todos para a capela mortuária e ficamos aqui. A Lesse costumava andar com o pai em todos os lugares, e no dia da morte dele não foi diferente.

Por volta das 10h ela apareceu na capela e se deitou embaixo do caixão, não se importou com as pessoas que estavam ali, deixando todos assustados. Tentamos tirar ela de lá, mas não foi fácil. Tivemos que arrastá-la de volta até a casa e prendê-la para que não voltasse lá até o fim do velório”, relatou a filha de Hercílio, Luzia Rossi, ao Clicatribuna.

Os ritos do velório e do enterro ocorreram e Lesse continuou presa. No entanto, no outro dia após a morte do dono, a cachorra passou a ter uma rotina diferente. Sem que ninguém mandasse, ou a levasse, ela passou a diariamente visitar o túmulo onde Hercílio foi enterrado.

“Nós começamos a notar que ela pulava o muro do lado do cemitério e vinha reto na capela. Chegava, às vezes cansada, cheirava o local onde ele foi enterrado, lambia a fotografia e se deitava do lado. Parece que entendia o que estava acontecendo, que sabia que ali estava o seu dono e que ficaria ali esperando ele levantar para ir embora com ela. Nunca vi nada parecido aqui em Pindotiba. Ela foi a companheira dele a vida toda e continuou sendo até mesmo depois da morte”, relata Sávio Mazuco, que por anos foi guarda do cemitério.

Tristeza permaneceu por um mês

“A rotina da cadela mudou depois do falecimento. Todos os dias ela vinha no cemitério. Por um mês após a morte ela ficou diferente. Não comia direito, só saía para ir até a capela. Parecia até que estava com depressão. Aos poucos isso foi passando, mas a visita diária ao cemitério não deixou de acontecer”, relata Luzia.

Para Nair de Lourenço Flor Rossi, esposa de Hercílio que conviveu com ele 54 anos, a relação de amizade que existe entre o cão e o companheiro falecido ainda não acabou. “Quando eu não venho, ela vem sozinha. Às vezes quando chegamos no cemitério ela está saindo, já tinha vindo fazer a visita dela. Não deixamos ele sozinho. Se ligamos o carro para vim até a capela ela vem correndo do lado do veículo. Chega cansada, mas não deixa de andar conosco, principalmente se for para visitar o Hercílio”, relata Nair.

Há oito meses, Lesse ganhou uma nova companheira. “A Branca era uma cachorrinha de rua e trouxemos para casa. Em pouco tempo ela pegou o ritmo da Lesse e agora as duas andam sempre juntas. O Hercílio ganhou uma nova visita todos os dias”, sorri Nair.

Uma nova dona

Além de visitar o cemitério diariamente, a cachorra, desde a morte do patriarca ganhou uma nova função, ser a companheira de Nair. Aos 75 anos a senhora tem na cachorra uma grande amiga. “Agora ela é que me acompanha. Aonde eu vou ela está sempre junto. Vai a qualquer lugar, no mercado, na praça e até no Clube de Mães toda quarta-feira.Ela se tornou conhecida por todos aqui na Pindotiba pelo carinho que tem pela gente. Se quero ir a algum lugar sem ela, tenho que sair fugida, e quando volto ela pula no meu colo e dá uma lambida no rosto. Não há explicação para definir o que essa cachorra significa para a nossa família, é a garantia que amor incondicional existe de verdade”, enaltece Nair.

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