Política

Do rádio à prefeitura: o adeus de Araranguá a Osmar Nunes

Osmar Nunes partiu no dia em que comemorava 85 anos, no fim da tarde desta segunda-feira, 2. Inúmeras entidades manifestam pesar.

Osmar Nunes foi o prefeito mais jovem da história de Araranguá – Foto: Prefeitura de Araranguá / Divulgação

O tostão contra o milhão. Foi nesse clima que o jovem Osmar Nunes, então com 29 para 30 anos, entrou na duríssima disputa da eleição de 1965 à prefeitura de Araranguá, no Sul catarinense. Ele era o tostão. Pobre, de origem humilde, radialista. Do outro lado, a força do ex-prefeito Walter Belinzoni, à época o homem mais rico da cidade. E o tostão ganhou do milhão.

Esse foi um dos tantos capítulos marcantes da história de Osmar Nunes, que terminou no fim da tarde desta segunda-feira, 2, o seu ciclo de 85 anos. E para ser diferenciado até o último dia, Osmar partiu no dia em que comemorava oito décadas e meia de vida bem vivida. Ele faleceu dentro do carro, que encontrava-se estacionado, e foi encontrado pelo filho. Foi, provavelmente, vítima de um mau súbito. O velório será a partir das 6h desta terça-feira, 3, na Câmara de Vereadores de Araranguá.

O Osmar do rádio

O menino Osmar, nascido em Criciúma em 1936, tinha 14 anos. Sua mãe era costureira, e trabalhava para Doranda De Patta que, por sua vez, era esposa de José De Patta. Médico famoso na região, De Patta era o fundador e dono da Rádio Eldorado. ~Minha mãe pediu um emprego pra mim. E a dona Doranda conseguiu. Fui contratado como técnico de som”, recordava.

“Gostei e nunca mais saí “, fazia questão de pontuar sempre. O Sul, à época, se resumia a três estações de rádio: Eldorado, Tubá de Tubarão e Difusora de Laguna. E a política pautava o cotidiano. “A Rádio Eldorado era da UDN, mas a cidade era PTB por causa da mineração”, dizia.

Autodidata, Osmar usava os momentos de folga durante a operação noturna da Eldorado para treinar: “eu usava o microfone treinando, lendo textos, até que fui descoberto”. O então gerente da emissora, Ézio Lima, escalou o menino para locuções a valer. Ele topou, e deu certo.

O tiro na morte de Getúlio

Osmar Nunes estava trabalhando na rádio, na Praça Nereu Ramos, quando Getúlio Vargas suicidou-se no Palácio do Catete. A notícia correu como rastilho de pólvora Brasil afora, e a Eldorado, claro, noticiou. O público do Centro ouviu pela corneta metálica que irradiava a emissora para a praça. “Naquele tempo, pra ter um aparelho de rádio era preciso ser rico”, contava.

Como “represália” à notícia da morte de Getúlio, alguém, de arma em punho, disparou um tiro contra a corneta da Eldorado. “A corneta caiu no chão, lá do quarto andar do prédio, e essa bala passou a uns 4 metros de onde eu estava trabalhando”, detalhava Osmar, usando a prestigiada memória para se divertir voltando no tempo.

A ida para Florianópolis

No fim dos anos 50, Osmar Nunes, ainda muito jovem, resolveu investir mais no rádio. Foi estudar em Porto Alegre, onde também trabalhava e tentou um espaço na Rádio Guaíba, recém-fundada. Mas o dinheiro era curto e resolveu voltar para Criciúma. Daí, a sorte brilhou.

“Fui apresentar um comício do seu Irineu Bornhausen, que era candidato a governador. Ele gostou de mim e me contratou para a Rádio Diário da Manhã”. Daí, lá foi Osmar Nunes para Florianópolis. Atuou, ainda, na Rádio Guarujá, com sua voz grave já se habituando aos ouvintes da capital.

O destino rumo a Araranguá

Veio um convite para atuar na Rádio Bandeirantes, em São Paulo, mas Osmar Nunes recebeu um chamado do Sul catarinense. O empresário Diomício Freitas acabara de adquirir a Rádio Araranguá, e escolheu o arrojado Osmar para dirigir a emissora. Era 1960 e o jovem, com 24 anos, assumiu a emissora.

Na Araranguá, Osmar criou o programa que mudou a sua vida: A Hora do Recado, o primeiro espaço radiofônico no Sul voltado a prestação de serviços à comunidade, com transmissão de mensagens dos ouvintes. “Era o zap zap da época”, brincava.

De fato, A Hora do Recado tornou Osmar Nunes muito popular. “Muita gente saiu dos interiores daqui da região para o Paraná, para plantar e trabalhar lá. Esse pessoal não tinha como se comunicar, então mandavam cartas pra Rádio Araranguá e eu chamava essas pessoas. Foram os nascimentos, os contatos, as compras e vendas, tudo o que noticiamos pelo programa”, referia o antigo radialista.

Prefeito aos 30 anos

Dali para a prefeitura, foi um salto. “Foi um milagre na verdade”, definia. Osmar Nunes foi lançado candidato a prefeito em 1965, apenas 5 anos depois de chegar na cidade. Do outro lado, Walter Belinzoni que, curiosamente, era um dos donos da Rádio Araranguá até 1960, quando da venda para Diomício Freitas. Logo, da emissora vendida havia meia década surgiu o oponente que conquistou a improvável vitória, por 503 votos de vantagem. Fruto do poder de comunicação de Osmar Nunes contra a força financeira de Belinzoni.

Osmar Nunes fez uma gestão de progresso para a cidade. Atuou na instalação do Colégio Murialdo, uma das principais instituições de ensino de Araranguá. No seu mandato, ampliou a malha viária: abriu a Avenida Beira-Rio e ampliou a 7 de Setembro. Com ele, foi criado o Serviço de Água e Esgoto de Araranguá (Samae). Ele comandou Araranguá de 31 de janeiro de 1966 a 31 de janeiro de 1970.

Osmar em 1965, quando foi eleito prefeito- Foto: Prefeitura de Araranguá / Acervo / Divulgação

A volta ao jornalismo

Foi o mais jovem prefeito de Araranguá. Da sua gestão, ainda, nasceu o rótulo de Cidade das Avenidas, que o município ostenta até hoje. Depois do período enquanto prefeito, retomou as atividades na mídia, voltando ao rádio e escrevendo nos jornais O Estado, Correio do Povo (de Porto Alegre) e Correio do Sudeste, Jornal da Manhã e Tribuna Criciumense (de Criciúma).

Recebeu da Câmara de Vereadores, em 2016, uma homenagem. Passou a emprestar seu nome a uma rua no Bairro Mato Alto. “Eu não parei”, advertia, lembrando que fundou a associação dos aposentados de Araranguá e participou de entidades de classe em nível estadual. Em uma trajetória tão agitada, Osmar Nunes ainda encontrou tempo para escrever muito, sobre o passado e a cidade, e participou ativamente da Academia Araranguaense de Letras.

Desde a confirmação da morte de Osmar Nunes, inúmeras entidades manifestam pesar. Várias das informações prestadas para esse relato fizeram parte de uma das últimas entrevistas de Osmar Nunes, concedida ao jornalista Adelor Lessa, na Rádio Som Maior de Criciúma, em setembro de 2020.

Com informações de Denis Luciano / NSC Total

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